Um
dia na vida do Perfeito Idiota Brasileiro (versão 2016)
Por Paulo Nogueira - 14 de janeiro de 2016

O Brasil mudou, e com ele o PIB, e é por
isso que atualizo agora sua jornada cotidiana.
O PIB, hoje, está pronto a hostilizar
petistas onde quer que os encontre. Bate panelas quando Dilma aparece na tevê.
Veste camisa da CBF e vai para a Paulista pedir o impeachment. Passa adiante,
nas redes sociais, tudo que seja negativo para o governo, a começar pelo
material do Revoltados Online.
Ele continua a ler, logo pela manhã, o site
da Veja. Nele, Reinaldo Azevedo é, como sempre, leitura indispensável. Mas
agora ele não deixa de acompanhar, também, Felipe Moura Brasil. Lamentou, na
Veja, a demissão de Joice Hasselmann.
Um raro
exemplo de loira inteligente.
Fora da Veja, alguns outros blogs fazem
parte de sua rotina. Um deles é o de Ricardo Noblat.
Mitou ao
sugerir que Dilma se suicidasse.
Sempre dá um jeito de passar também pelo
blog de Lauro Jardim.
Erra
barbaridade, mas é o cara mais informado do Brasil.
O PIB vai para o trabalho ouvindo CBN.
Merval e Jabor o fazem entender melhor o mundo. Volta para casa com a Jovem
Pan. Sente falta de Scheherazade na rádio.
Ela foi
vítima da censura do governo. Canalhas.
As noites são dedicadas à informação pela
tevê. Seus comentaristas prediletos são Marco Antônio Villa e William Waack.
“Por que caras como eles não estão governando o Brasil?”, ele se pergunta com
frequência. “Têm resposta para tudo, até para os problemas do yuan chinês.”
Ao ouvir Villa no Jornal da Cultura sempre
lhe ocorre um paradoxo.
O Villa
tem voz fina, mas fala grosso.
Às segundas, o Roda Viva é programa obrigatório.
Um amigo petralha lhe disse que Augusto Nunes é o Brad Pitt de Taquaritinga, em
tom de escárnio. Mas atribuiu isso a alguma das más leituras do amigo.
Jô ele gostava de ver, mas acabou desistindo
depois que ele entrevistou Dilma.
Ganhou
uma fortuna para fazer aquela entrevista. Gordo miserável, pensa que me engana?
Prefere agora ver, tarde da noite, Danilo
Gentili. Vibrou quando soube que Gentili oferecera bananas a um negro que o
incomodava. E gostou ainda mais quando o juiz decidiu que Gentili não fora
racista.
São todos
uns coitadinhos, estes negros. Só querem saber de cotas e outras mordomias.
A mesma opinião ele tem de outras minorias,
como os homossexuais, os índios e as mulheres. Não engole também os
nordestinos.
Deviam
ser gratos a nós de São Paulo por darmos a eles empregos de pedreiros, lixeiros
e domésticas, mas decidiram ter as mesmas coisas que nós, aqueles retirantes.
Com Gentili PIB conheceu outro site que
agora faz parte de suas preferências: o Antagonista. O que mais o agrada, fora
o tom, são os textos curtos, um ou dois parágrafos no máximo. PIB detesta
textos longos, de mais de cinco parágrafos.
PIB não liga muito para música. Para ele,
Chico, além de chato, é um petralha. Mereceu ter sido xingado na saída de um
restaurante.
Queria
estar lá pra dizer certas verdades praquele comunista.
Lobão e Roger do Ultrage não. Estes escrevem
as coisas que têm que ser ditas. Denunciam a ditadura lulodilmopetista. Lobão
até compôs uma música contra Dilma. Ele achou a música genial, embora não tenha
ouvido. Quer dizer, não ouviu até o fim. Ouviu 30 ou 35 segundos, e não
conseguiu ir adiante. Mesmo assim, foi o suficiente para ver que é uma obra
prima que será ouvida daqui a cem anos.
O cara
foi brilhante em financiar seu disco com uma vaquinha virtual.
PIB contribuiu com zero, mas ficou
impressionado com a iniciativa de Lobão.
Ele acha o Brasil o pior país do mundo. O
mais corrupto.
Ainda bem
que surgiu o Moro pra salvar a gente.
Ele torce para que Moro seja candidato à
presidência em 2018. Se não for, Bolsonaro é um ótimo nome. Aécio não: é
frouxo, um petista disfarçado. Esperava que Joaquim Barbosa se candidatasse em
2014. Comprou até máscaras de JB no Carnaval daquele ano. Mas nada.
Teve uma surpresa quando ouviu Moro pela
primeira vez. Lembrou-se imediatamente de Villa.
Fala
fino, mas tem voz grossa.
Admira também Eduardo Cunha, mas o governo
inventou coisas contra ele. Lera, em algum lugar, que Dilma comprara dos suíços
um falso dossiê para incriminar Cunha.
Os caras
não se detêm por nada, filhos da puta.
PIB pensa em mudar do Brasil. Está
pesquisando apartamentos em Miami.
Que
adianta você ter carro se todo mundo tem? Viajar de avião se todo mundo viaja?
Fazer compras num shopping se todo mundo faz? Assinar Netflix se todo mundo
assina?
Mais recentemente, irritou-se em particular
com as bicicletas em São Paulo.
Vontade
de fazer um strike com ciclistas …
Ele já se imaginou mais de uma vez fazendo
isso: atropelando ciclistas em série, como se ele fossem peças de boliche.
Na hora de dormir, PIB volta a pensar em
deixar o Brasil enquanto espera seu Frontal fazer efeito.
Uma única coisa o faria desistir do sonho:
São Paulo se separar do resto do Brasil.
Chega de
sustentar os preguiçosos.
E então ele dorme o sonho profundo dos
perfeitos idiotas.
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