quinta-feira, 29 de junho de 2017

Belchior e NÓS, seus FÃS ! ! !

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por
Érico Abreu
Paulo Marcelo Braga
Miguel Alves


Era apenas um compositor latino-americano, sem dinheiro no banco, sem parentes importantes.
Morreu quase esquecido.
Em suas canções, de letras enormes, falava de coisas que não agradavam, nem a cariocas, nem a baianos. Menos ainda a paulistas.
- Nada é divino, nada é maravilhoso.
Seu canto torto, afiado, doía na carne da nossa geração, pós-Beatles, incumbida da triste tarefa de voltar à realidade e constatar: O sonho acabou.

E Belchior concluía: Quem nos deu a ideia de uma nova consciência havia traído a causa. Estava em casa, guardado por Deus, contando o vil metal.

Ninguém gostava de ouvir isso. Só o grande público que comprava seus discos e Elis. Ela, só ela, no meio musical, percebeu a honestidade na música de Belchior. Gravou um álbum quase inteiro com as canções do compositor cearense. Deu vida e sobrevida a um artista que o mainstream apenas suportava.

A geração anterior, agora no poder, na direção das gravadoras e emissoras de rádio e televisão, não queria ouvir. Mas o rapaz de bigode a la Dali, insistente, fazia questão de lembrar:
"Apesar de termos feito tudo o que fizemos, ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais". 

Sempre desobedecer, nunca reverenciar. Vocês esqueceram, repetia.

O rapaz esquisito que vinha do Ceará, não cantava forró, nem falava de seca ou fome, mas do vazio que habitava o coração dos jovens nas grandes metrópoles após os anos sessenta. O vazio que, sabemos hoje, foi preenchido pelo consumo e pelas drogas. Estas esvaziadas da consciência cósmica.

O sonho acabou faz muito tempo.
  

Sei que tudo é proibido(…)E eu não posso cantar como convém, sem querer ferir ninguém. Mas não se preocupe, meu amigo, com os horrores que eu lhe digo, isso é somente uma canção. A vida realmente é diferente, quero dizer: a vida é muito pior…

Há perigo na esquina.
Eles venceram e o sinal 
está fechado pra nós…


“Eu quero o que a alma deseja
Arco-íris, anjo rebelde
Eu quero o corpo, tenho pressa de viver”

“Tudo poderia ter mudado, sim
Pelo trabalho que fizemos - tu e eu
Mas o dinheiro é cruel
E um vento forte levou os amigos
Para longe das conversas, dos cafés e dos abrigos”

“Capineiro de meu pai
Não me cortes meus cabelos
Minha mãe me penteou
Minha madrasta me enterrou
Pelo figo da figueira”
Que o passarim beliscou

Quem não ouviu nem gostou de Belchior nem sequer sonhou.

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