Ao senhor doutor
Sergio Moro,
Dirijo-me a V. Exa.
imediatamente após sua decisão de se afastar do julgamento das acusações que me
são feitas pelo Ministério Público e/ou pela Polícia Federal por conta de
supostamente eu ter “embaraçado” investigação contra o ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva.
Como nunca nos vimos
ou tivemos qualquer razão mais íntima para nos desgostarmos, a afirmativa de V.
Exa, na decisão em que se afastou do meu caso – a saber, de que não é meu
“inimigo capital” – deveria fazer todo sentido. Contudo, tenho dificuldade de
acreditar nela.
Confesso, de pronto, que sou o “culpado” por nossa manifesta inimizade
por ter representado contra V. Exa,
em maio de 2015, ao Conselho Nacional de Justiça. Contudo, o que me moveu a
denunciá-lo à corregedoria da magistratura nunca foi uma questão pessoal, mas
de Estado.
Doutor Moro, não pude
me conter ao ver a irmã da esposa do senhor João Vaccari Neto ser esmagada “por
engano” pela Justiça brasileira. Não sei se hoje a Lava Jato já dispõe de
evidência e/ou prova que a comprometam, mas, naquele momento (5/2015), não
dispunha.
Aquela senhora teve
que voltar às pressas ao Brasil de um evento profissional do qual participava
no exterior. Apareceu na grande mídia – em todos os telejornais, jornais,
revistas semanais e sites na internet – algemada e conduzida por policiais.
Foram várias
aparições. Se, àquela época (2015), o engano que V. Exa. Cometeu, já me
assustava a ponto de eu representar contra si para preservar o direito de todos
contra arbítrio estatal, hoje, por experimentar o peso do longo braço da lei,
assusto-me muito mais.
À época, V. Exa.
afirmou peremptoriamente à imprensa que tinha certeza de que a senhora em
questão era Marice Corrêa Lima, cunhada de Vaccari, pessoa que aparecia em
gravação da câmera de segurança de um caixa-eletrônico depositando valores para
o ex-tesoureiro do PT.
Poucos dias depois, o jornal Folha de São Paulo divulgou perícia nas imagens que comprovou que
não era ela.
Tendo sido comprovado
que sua “certeza” era infundada, o senhor recuou da mesma forma como faria
tantas vezes no futuro, mas só após deixar mais uma vítima pelo caminho.
Um mês após esse erro
que tanto custou a uma pessoa inocente – por exposição muito menor e menos
vexatória na mídia, perdi meus negócios e atravesso situação financeira
dramática, sem falar nos narizes torcidos e nos olhares tortos –, representei
ao Conselho Nacional de Justiça pedindo que o parasse ou o fizesse ser mais
comedido, pois é preferível mil culpados livres do que um inocente encarcerado.
V. Exa. disse, na
decisão em que se afastou do meu caso relativo à Lava jato, que sequer se
lembra de que eu o representei ao CNJ. Contudo, dois meses após eu
representá-lo, uma frase que escrevi no Twitter meramente criticando-o – ainda
que carregando nas tintas – foi considerada crime de opinião por V. Exa, quem,
candidamente, assinou representação CRIMINAL contra mim.
Dois meses depois,
doutor Moro. E o senhor diz que não se lembra disso também (!!?).
Enfim, em sua decisão
recente V. Exa. faz pouco de minha capacidade, de minha honra e, até, do meu
trabalho, mas não posso me queixar de críticas suas, já que eu o critico com
seriedade equivalente ou até maior.
Com a diferença de
que nunca o processei por nada que tenha dito sobre mim e de que não me valho
de cargo público para aumentar meu poder de crítica.
Agora, eu gostaria
muito de olhar nos seus olhos, doutor Moro, logo após lhe perguntar se V. Exa.
acredita mesmo que eu – EU – o ameaçaria de algum tipo de violência – pois é
disso que se trata a acusação pessoal que o senhor me fez logo após eu
representá-lo por abuso de poder.
Sim, V. Exa. diz que
foi docemente levado a representar criminalmente contra mim por “ameaça”, mas o
fato é um só: dois meses após eu representá-lo, V. Exa. me representou de
volta. Ponto.
Mais uma vez V. Exa.
também me acusou de ter “revelado” minhas fontes. Como assim, doutor Moro? Não
foi isso que aconteceu. Eu lhe garanto que me foi dito, ainda enquanto era
conduzido, que a Lava Jato já sabia quem era a pessoa que me passou as
informações.
Mas, enfim, não quero
mais discutir isso com V. Exa. porque não vai mais me julgar. Só gostaria de
dizer que me senti esbofeteado por essas afirmações sobre “não se lembrar” de
ter sido representado por mim ou de ter me representado.
Vou me entender com a
Justiça. Vou demonstrar o absurdo que é me acusarem de ter feito alguma coisa
sobre a qual vossas senhorias da Lava Jato só ficaram sabendo porque EU,
Eduardo Guimarães, divulguei em meu site.
Creio firmemente que,
diante de um juizado que nada tenha pessoalmente contra mim, será fácil provar
o absurdo da tese criminal falsa de que sou vítima.
Tenho quase seis
décadas de vida, doutor Moro. Nunca, nesse tempo todo, cometi qualquer ato
ilegal que desse causa a qualquer tipo de sanção legal. Sou um homem íntegro.
Jamais acharão um centavo de dinheiro sujo em minha mão.
E tenho certeza de
que já procuraram incansavelmente.
Era só o que eu
precisa lhe dizer, doutor Moro. Respeitosamente, pois, desejo que passe muito
bem.
Eduardo Guimarães
JORNALISTA
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