A
imolação de Cunha
Ao tentar queimar Dilma
Rousseff, o presidente da Câmara, ainda em exercício, ateou fogo às suas vestes
por Mauricio Dias Alex Silva/Estadão Conteúdo
Não foi por qualquer razão de natureza técnica. Ao contrário. A
decisão tomada por Eduardo Cunha, presidente
da Câmara de Deputados, de acolher o pedido de impeachment de Dilmafoi, acima de tudo,
um ato de desespero.
Este é o fator preponderante de um movimento, muito além de mero
jogo político, temperado pelo sentimento de vingança.
Cunha jogou a toalha. Um gesto simbólico de desespero.
Ele confiava desconfiando no acordo
com feitio de chantagem imposto por ele ao Partido dos Trabalhadores. Esperava
contar com os votos de três angustiados deputados petistas, integrantes do
Conselho de Ética.
Nota distribuída pelo presidente do PT, Rui Falcão, anunciou o
afastamento de Cunha. O partido juntou os cacos e uniu-se contra a maldita
aliança que provocava engulhos. Com isso, perdeu a maioria no Conselho de
Ética. A suposta barganha foi para o espaço. Cunha reagiu.
Sem a maioria no Conselho de Ética,
ele será empurrado em direção ao cadafalso na Câmara que preside. Vai responder
à denúncia de ter mentido a seus pares quando garantiu não ter contas no
exterior, conforme a denúncia contra ele encaminhada pela Procuradoria-Geral da
República ao Supremo Tribunal Federal. Os argumentos apresentados por Cunha são
frágeis. Risíveis até. Ele está sem saída.
Meses atrás, ao anunciar seu
rompimento com Dilma, ele prometeu “incendiar” o governo. Isso porque julgava
que Dilma pudesse interferir nas ações do Ministério Público Federal ou mesmo
nas ações da Polícia Federal. Se quisesse, não deveria.
Cunha, no centro da crise política,
foi mais longe. Com apoio da oposição, notadamente o PSDB, atrapalhou bastante,
e ainda atrapalha, a administração de Dilma. Ele contribuiu efetivamente para a
desmontagem da base do governo no Congresso.
Ao perder o apoio envergonhado do PT, voltou ao ninho tucano. Estimulado, fez o
que os adversários do governo pretendiam. Mas não terá o apoio necessário para
evitar a reação interna. Para tentar queimar Dilma ateou fogo às vestes. Agora
arde sozinho. Será que os tucanos vão blindá-lo?
O golpe, em formato de impeachment,
dificilmente será bem-sucedido.
Os números governam o processo se ele seguir o curso. Uma
comissão especial com 66 titulares, representação proporcional ao tamanho das
bancadas. Se não cair nesta fase, será discutido e votado pelo plenário da
Câmara. O processo de impeachment,
para ser aberto, precisará alcançar dois terços da Câmara. Ou seja, 342
deputados.
No Senado a aprovação será ainda mais
difícil. A maioria necessária para aprovação é de dois terços. Nesse caso, 54
senadores dos 81 existentes. A oposição, ciente disso, vai promover com os
meios que tiver e a influência nos meios de comunicação os movimentos ditos
“espontâneos”. Essa é outra história.
Mas o curso do destino de Eduardo
Cunha está traçado. Será desonroso. Voltará mais cedo para casa. Talvez antes
passe pela cadeia.
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