terça-feira, 12 de junho de 2012

Os penicos e as panelas de Naná Vasconcelos


Sempre que os visitava, o percussionista Naná Vasconcelos roubava as panelas no apartamento de Lô e Márcio Borges para batucar. Eram o início dos anos 70 e a fase de gestação do Clube da Esquina, que os irmãos Borges formariam com Milton Nascimento, Fernando Brant e outros músicos. “Dona Maricota, que é a mãe deles, falava: ‘cadê as caçarolas para eu cozinhar? Toda vez que esse Naná vem aqui as caçarolas desaparecem’ ”, relembra Naná, rindo.
Experiências como essa o ajudaram a criar o pinipan, instrumento que combina panelas e penicos pendurados. “Para fazer isso, eu também me lembrei da minha infância, quando eu não tinha instrumentos. Eu batia muitos nas caçarolas lá de casa”, recorda Naná.
O instrumento e o show de Naná com o pinipan foram criados para o Fito (Festival Internacional de Teatro de Objetos), evento onde o percussionista se apresentou no último final de semana em Belo Horizonte. O percussionista faz solos em sua invenção enquanto duas mulheres fazem a base em panelas e outro músico comanda sintetizadores e a reprodução de gravações.

                               Foto: Divulgação
Naná Vasconcelos toca o pinipan em Belo Horizonte.


Naná conta ter feito o instrumento a pedido do festival e ter gostado do “desafio” de usar objetos cotidianos no novo show. “Eu tenho pavor de ficar na mesmice. Estou sempre experimentando as coisas, estou sempre procurando, buscando. Eu nunca fiz parte de grupo nenhum por isso” diz o percussionista, que já tocou com Hermeto Pascoal, Caetano Veloso, Egberto Gismonti, Herbie Hancock e outros grandes jazzistas norte-americanos.
Sem saudosismos, Naná diz ter sido muito difícil se desamarrar das tradições e inovar no começo da carreira. Ele lembra que em seu pequeno apartamento não cabia uma bateria, o que o fez tocar outros ritmos além da capoeira no berimbau.
Fui tocar berimbau fora do Brasil porque eu tinha medo. Aqui diziam que eu estava deturpando as tradições porque eu não tocava capoeira nele”, conta. “Quando você começa a pensar em prender alguém às tradições, eu acho que isso é doente, uma burrice intelectual de uma arrogante ignorância”.
Fonte: http://www.cartacapital.com.br/cultura/anavasconcelos/

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