domingo, 24 de junho de 2012

NÃO TENHO VERGONHA DE SER NORDESTINO !

___ Cultivado entre os cascalhos do chão seco e as cercas de aveloz que se perdem no horizonte, cresceu, forte e robusto, o meu orgulho de pertencer a esse pedaço de terra chamado NORDESTE.
___SOU NORDESTINO. Nascí e me criei no coração do sertão paraibano, pegando boi brabo, pescando de anzol, caçando de baladeira,comendo goiaba do pé e diepertando com o primeiro canto do galo, para, ainda com os olhos tapados de remela, desabar pro curral e esperar pacientemente, o vaqueiro encher o meu copo de leite, morninho e espumante, direto das tetas da vaca para o meu bucho.
___SOU NORDESTINO. Falo oxente, vôte e danou-se. Vige, credo e lascou-se! Proseio com minha língua ligeira, que engole sílabas e atropela a ortoépia das palavras. O meu falar é o mais fiel retrato. Os amigos acham até engraçado e dizem sempre que eu “saí do mato, más o mato não saiu de mim”. Não saiu mesmo! E olhe: acho que não vai sair é nunca!
___SOU NORDESTINO. Lambo os beiços quando me deparo com uma mesa farta, atarracada de comida. Pirão, arroz-de-festa, galinha de capoeira, feijão de arranca, buchada, carne de sol...E mais uma ruma de comida boa, daquela que quando a gente termina de engolir, o suor já está pingando pelos quatro cantos. E depois ainda me sirvo de um bom pedaço de rapadura ou uma cumbuca de doce de mamão, que é pra adoçar a língua. E no outro dia de manhãzinha, me esbaldo na coalhada, no cuscuz, na tapioca, no queijo de coalho, no bolo de mandioca, na tigela de umbuzada, no orêa de pau com café torrado em casa!
___SOU NORDESTINO. Choro quando escuto a voz de LUIZ GONZAGA ecoar no teatro de minha memória. De suas músicas guardo as mais belas recordações. As paisagens, os bichos, os personagens, a fé e a indignação com que ele costurava as suas cantigas e que também são minhas. Também estavam (e estão) presentes em todos os meus momentos, pois foi em sua obra que se firmou a identidade cultural.
___SOU NORDESTINO. Me emociono quando assisto um procissão e observo aqueles rostos sofridos, curtidos do sol do meu povo. Tudo é belo neste ritual. A ladainha, o cheiro de incenso. Os pés discalços , o véu sobre a cabeça, o terço entre os dedos. O som dos sinos repicando na torre da igreja. A grandeza de uma fé que não se abala.
___SOU NORDESTINO. Gosto de me lascar numa farra boa ao som do xote ou do baião. Sacolejo e me pergunto: pra que mais instrumentos nesse grupo além da sanfona, do triangulo e da zabumba? No máximo, um pandeiro ou uma rabeca. Más dançar ao som desse trio é bom de mais. E fico nesse rela-bucho até o dia amanhecer, sem ver o tempo passar e tampouco sentir os quartos se arriando, as canelas se tremelicando, o espinhaço se quebrando e os pés se queimando em brasa. Ô negócio bom da gota!
___SOU NORDESTINO. Admiro e me emociono com a minha arte, com O IMPROVISO DO POETA POPULAR, CANTADOR REPENTISTA, com a beleza da banda de pífanos, com o colorido do pastoril, com a pegada forte do côco-de-roda, com a alegria da quadrilha junina. O artista nordestino é um herói, e nos cordéis do tempo se registra a sua história!
___SOU NORDESTINO. E não existe música mais bonita para os meus ouvidos do que a tocada por São Pedro, quando ele se invoca e mete a mãozona nos zabumbas lá do Céu, fazendo uma trovoada bonita que se alastra pelo sertão, clareando o mundo e inundando de esperança o coração do matuto. A chuva é bendita.
___SOU NORDESTINO. Sou apaixonado pela minha terra, pela minha cultura,pelos meus costumes, pela minha arte, pela minha gente. Só não sou apaixonado por uma pequena parcela dessa mesma gente que se enche de poderes e promete resolver os problemas de seu povo, mentindo, enganando, ludríbiando, apostando no analfabetismo de quem lhe pôs no poder, tirando proveito da seca e da miséria para continuar enchendo os próprios bolsos de dinheiro.
___Más, apesar de tudo, eu sou NORDESTINO, e tenho orgulho disso. Não me envergonho da minha história , na disfarço o meu sotaque, não escondo as minhas origens. Eu sou tudo o que escrevi, sou a dor e alegria dessa terra. E tenho pena, muita pena dos tantos nordestinos, que vejo por aí, imitando chiados e fechando vogais, envergonhados de sua NORDESTINIDADE. Para eles, ofereço estas linhas.
ELIZEU MENESES   
18/06/2012.
O Elizeu é empresário de OS NONATOS

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