sábado, 4 de fevereiro de 2012

A lição de Calixto aos “doutores” do Pinheirinho

 

Este Tijolaço é feito de uma massa que mistura presente, passado e futuro. Quando a gente vai buscar coisas no passado, é porque elas nos ensinam sobre o presente e nos ajudam a ver melhor o futuro.

E, às vezes, que coisa maravilhosa, é o passado que, em lugar de ser buscado, vem nos procurar, para mostrar que, se o poder publico alega leis, liminares e ordens judiciais para ser covarde e bruto contra os indefesos e humildes, há e houve tempos em que ele teve a coragem de protegê-los da violência e garantir o seu direito de reivindicar, para o que não contam com os jornais, advogados famosos e juízes destemidos.

Não porque a pobreza os repugna, os pobres são como leprosos, que se tem de manter longe e confinados, para que não poluam com a obscenidade de sua carência os olhos”cosmopolitas” de uma gente que não quer ver o que está aos seu lado, em sua cidade, seu estado, seu país.

Gente como os milhares de Pinheirinho, em São José dos Campos, são um incômodo, uma vergonha, algo a ser varrido para longe, como se pessoas fossem lixo.

Pois desta vez o passado nos veio buscar, com um e-mail da Adriana Reis, neta de Jair de Mora Calixto, prefeito de Nonoai e primo de Brizola, distante, pela parte de D. Oniva de Moura, mãe do ex-governador.

Brizola e Calixto  viviam às turras. Calixto elegeu-se prefeito pelo PSD, porque Brizola, metido nas disputas do PTB estadual, não queria que o primo distante fosse o candidato petebista. Calixto saiu do PTB, entrou no PSD e elegeu-se prefeito com o apoio da imensa massa de lavradores sem-terra do município, como era típico naquela região Noroeste gaúcha. Sua campanha produziu um dos mais antológicos “slogans” eleitorais da história: combatido pela Igreja Católica, aliada então do latifúndio, rebateu as faixas espalhadas por ela na cidade, dizendo que “Esta terra é de Cristo” , porque reivindicar terra era do “comunismo ateu”. Pois Calixto, então, colocou outras: “Quem tem terra está com Cristo, quem não tem tá com Calixto”. E ganhou.

Vencida a elição, Calixto foi procurar o primo, então governador, e deu-lhe uma barratada própria dos gaúchos: “escuta, tche, tu não me queria prefeito, me elegi pelo PSD e estou voltando para o PTB, pra fazermos a reforma agrária”.

E fizeram: foi ali próximo, na Fazenda Sarandi, que se fez a primeira desapropriação e assentamento em grande escala de sem-terra, em 1962.

Adriana recuperou, dos guardados de D. Ida, mulher de Jair, o bilhete manuscrito de Brizola reproduzido lá em cima:
Jair,
Solicitei ao Prefeito Ivo Sprandel que regressasse a Sarandi, a afim de que, juntamente contigo, todas as medidas sejam tomadas para evitar quaisquer desordens ou ilegalidade com o movimento reivindicatório os agricultores sem terra.
O Governo do Estado tem a maior confiança em vocês dois e conta com a mais ampla cooperação das Prefeituras de Sarandi e Nonoai. Os movimentos pacíficos em prol da justiça social serão até assistidos pelo Estado, como também será garantida a ordem jurídica.
Abraços. Leonel Brizola.

Sim, Brizola podia contar mesmo com Jair Calixto, que não gostava de ver nem mesmo os cachorros perambulando pelas ruas de Nonoai, quanto mais gente perdida, sem um pé de chão, tocada feito gado. Na sua rusticidade, era mais humano que muitos “Suas Excelências” que manda tirar mulheres e crianças de suas casas para colocar num galpão precário, torcendo para que logo partam para o fim do mundo e sua imagem não lhes incomode os olhos, já que suas almas, frias e más, não se atormentam.


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