Em entrevista exclusiva, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fala sobre as consequências do golpe para o país
Por Beatriz Pasqualino
Brasil de Fato | São Paulo (SP), 2 de Dezembro de 2017 às 00:37
No final da matéria assista o vídeo com a
entrevista do Presidente
Lula iniciou a terceira etapa da Caravana Lula
pelo Brasil ontem, segunda-feira (4) / Foto: Ricardo Stuckert
Fome, desemprego e perda de direitos
históricos. Esses são alguns exemplos do impacto do golpe na vida dos
brasileiros, na avaliação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em
entrevista exclusiva ao Brasil de Fato. Para reverter esse cenário, Lula
afirma que vai convocar um referendo revogatório, caso se candidate e seja
eleito em 2018. Sobre as eleições presidenciais, ele dispara: “Eu não precisava
ser candidato a presidente. Eu já fui, já fui bem sucedido. Mas eles cutucaram
a onça com vara curta e a onça vai brigar”. Na entrevista, Lula volta a denunciar
o papel da Rede Globo na perseguição política contra ele, em aliança com o
Poder Judiciário, Ministério Público e Polícia Federal.
O
ex-presidente afirma ainda que a Reforma da Previdência “é contra o
trabalhador, contra o pobre”. E a respeito da questão agrária, Lula destaca o
papel preponderante do agricultor familiar – e não do agronegócio - na produção
da maior parte do alimento que chega à mesa dos brasileiros.
Nesta
segunda-feira (4), o ex-presidente inicia sua terceira caravana pelo país – já
cruzou 9 estados do Nordeste e também Minas Gerais. Desta vez, ele percorrerá o
Espírito Santo e o Rio de Janeiro de ônibus.
Confira
abaixo a entrevista, em texto e vídeo, que contou também com perguntas colhidas
por nossa equipe de reportagem nas ruas do país.
Brasil
de Fato: O senhor tirou esta metade do ano para colocar o pé na estrada. Já foi
para o Nordeste, com a caravana, para Minas Gerais e agora dia 4/12 segue para
o Espírito Santo e Rio de Janeiro. O que essa experiência tem te ensinado sobre
o Brasil e os brasileiros de hoje?
Lula: Eu descobri na campanha de 1989
que não é possível você governar este país para todos os brasileiros e
brasileiras se você não conhecer as entranhas dele. Porque, normalmente, quando
você é candidato, você vai de capital em capital, de palanque em palanque, do
aeroporto para outro aeroporto. Você desce de um carro, sobe em um palanque,
faz um discurso, nem cumprimenta o povo, entra no carro, volta para o
aeroporto… Em 1989, eu descobri, que seu quisesse governar o Brasil,
efetivamente para os brasileiros, eu teria que conhecer o Brasil. Por isso que,
em 1992, eu comecei a fazer as caravanas.
A
primeira que eu fiz, eu refiz a viagem que eu tinha feito em 1952, de
Pernambuco a São Paulo. Fiz de ônibus essa viagem. Depois eu viajei a Amazônia,
o Sudeste, o Norte, o Sul, viajei o Centro-Oeste. Foram praticamente 91 mil
quilômetros de estrada, de barco, de trem, conversando com mais de 600
comunidades no Brasil, para a gente aprender como vive o quilombola, o
sem-terra no acampamento, os índios brasileiros, as catadoras de coco babaçu.
Porque uma coisa é você ler uma história em um livro, outra coisa é você estar
diante da pessoa, com os seus problemas, sua realidade, te relatando a vida
dela.
E por
que que eu, depois que governei o Brasil, voltei a fazer essas viagens? É
porque grande parte das políticas públicas que eu coloquei em prática quando
estive na Presidência da República foram oriundas do aprendizado que eu tive na
caravana. E agora eu voltei para ver duas coisas: como está o Brasil de hoje,
quais as políticas públicas que tiveram efetivamente sustentabilidade; e como
está a vida do povo hoje. E ainda tenho que visitar o Sul do país, o Norte do
país. Estou pensando em fazer uma viagem pelo Amapá, Roraima, Amazonas, Pará,
Acre. Depois eu quero pegar o Mato Grosso, Goiás, Maranhão, Rio Grande do Sul,
Santa Catarina e o Paraná, para completar o Brasil inteiro e ter uma
fotografia. Ou seja, se vai ter a campanha de 2018 e se o PT entender que eu
deva ser o candidato, quero ser candidato com a fotografia muito viva e
atualizada das aspirações e da esperança do povo brasileiro.
Brasil
de Fato: E até agora, essa fotografia tem o quê?
Lula: Essa fotografia às vezes me alegra
e às vezes me entristece. Ela me alegra porque, em muitos lugares, as pessoas
têm a clareza absoluta da evolução da vida delas. Quando você chega numa comunidade
agrícola, as pessoas lembram da quantidade de financiamento do Pronaf [Programa
Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar], do Programa Luz para
Todos, do PAA [Programa de Aquisição de Alimentos]. As pessoas têm noção de que
as coisas melhoraram.
Agora,
quando você chega num centro urbano, você começa a perceber que, embora as
pessoas lembrem da evolução no salário mínimo, do Bolsa Família, do ProUni
[Programa Universidade para Todos], dos institutos federais de educação, elas
também começam a se queixar de que a pobreza está voltando. Ou seja, o
desemprego aumentou, a massa salarial tem caído, o brasileiro não tem mais
recebido aumento acima da inflação. Ele percebe que as pessoas estão já
voltando a pedir esmola nas ruas, tem aumentado o número de pessoas dormindo
nas praças públicas. Então, essa é uma tristeza que eu tenho. Nós tínhamos
tirado o Brasil do Mapa da Fome, segundo os dados da ONU [Organizações das
Nações Unidas] do começo deste ano. E estamos percebendo que a fome está voltando
no Brasil por irresponsabilidade das pessoas que deram o golpe neste
país.
Essa
é a fotografia que eu tenho agora. Mas ao mesmo tempo, eu tenho também a
certeza de que este povo é capaz de dar a volta por cima. Ele não pode perder a
esperança, tem que continuar acreditando. Este Brasil é muito grande e pode
melhorar a vida das pessoas na hora que elas tiverem um governo que conheça a
vida delas e esteja preocupado com as pessoas.
PERGUNTA
DAS RUAS | Ana Carolina Teixeira, estudante de Jornalismo (São Paulo/SP): Por
que você vai se candidatar sendo que há tantas denúncias contra você?
Lula: Eu vou me candidatar porque o fato
de ter denúncia não quer dizer nada. No Brasil toda vez que alguém é candidato,
sempre aparece uma enxovalhada de denúncias contra as pessoas, seja no campo da
política, da economia. E eu já provei a minha inocência em todos estes
processos que eu estou sendo acusado. E estou na expectativa de que eles
consigam provar para a sociedade algum desvio de conduta do Lula, ou na
Presidência ou depois dela.
Eu
fui acusado de ter um apartamento triplex em uma praia, aqui na cidade de
Santos, em São Paulo. Cansei de dizer que o apartamento não era meu, mas eles
teimaram que o apartamento era meu. Nós provamos que não é possível você ter um
apartamento que você não tenha documento, não tenha escritura, que você não
pagou, não comprou, que você não tenha nada. Mas eles teimaram em dizer, porque
eles não precisam de prova, eles precisam apenas ter convicção. Depois, o
Moro [juiz Sérgio Moro] me condenou a nove anos e seis meses de cadeia e ainda
me obrigou a devolver R$ 10 milhões. O que é engraçado é que quando nós
entramos com o recurso o Moro diz, na defesa dele, que ele não disse que o
apartamento era meu, ele não disse que tinha dinheiro da Petrobras. Mas mesmo
assim ele manteve a condenação. Por quê? Porque eu acho que tanto o juiz Moro,
quanto o Ministério Público, quanto a Polícia Federal estão refém neste
momento, de uma política que eles adotaram de condenar as pessoas pela mídia.
Ou seja, “primeiro eu quero condenar as pessoas politicamente. Eu conto uma
mentira e a mídia vai divulgar aquela mentira como se fosse verdade”. E nem
todo mundo aguenta quatro ou cinco manchetes de jornais, do Jornal Nacional. As
pessoas ficam debilitadas, fragilizadas. Alguns se matam, como o reitor de
Santa Catarina.
Eu
tenho que aproveitar tudo que eu construí na vida para poder não só provar a
minha inocência, mas para provar que eles estão mentindo, que não estão se
comportando de forma adequada. Porque um juiz não tem que ficar dando
importância para o Jornal Nacional. Ele tem que dar importância para os autos
do processo, para as provas das pessoas que vão depor. Eu levei 83
testemunhas para depor ao meu favor. O acusador não compareceu nenhuma vez, que
é o senhor Dallagnol [procurador Deltan Dallagnol]. Não levaram nenhuma
testemunha de acusação. E depois o cara me condena sem nenhuma
responsabilidade?
São
sempre desagradáveis essas denúncias. É sempre desagradável você aparecer na
imprensa, sendo acusado. Mas eu tenho que ter a sabedoria de, graças ao status
que o povo brasileiro me deu, de ter sido um presidente muito reconhecido,
aproveitar para me defender e servir de exemplo para outras pessoas. Ou seja,
se tem político que roubou e está com medo, é problema do político que roubou e
está com medo. Se tem gente que roubou e está com o dinheiro, essa pessoa tem
que ir presa mesmo. Agora eles têm que aproveitar e absolver os
inocentes.
Você
veja que eu sou pego de surpresa às seis horas da manhã lá em casa, com um
monte de Polícia Federal. Eles foram na minha casa, na casa dos meus quatro
filhos, invadiram a casa de todo mundo, cada um com a máquina fotográfica
pendurada no pescoço. Não encontraram nem dinheiro, nem jóia. Eles poderiam ter
tido a sensibilidade de pedir desculpas à opinião pública, de dizer ao povo que
não encontraram nada. Levantaram até o colchão da minha cama. Tiraram a tampa
do exaustor do fogão. Acho que pensaram que eu tinha ouro lá dentro escondido.
Abriram meus televisores achando que eu tinha ouro dentro da televisão. Ao não
encontrar nada eles deveriam ter tido vergonha na cara e ter pedido desculpas à
sociedade brasileira. Eles não fizeram isso. Saíram quietinho e deixaram as
manchetes falar, porque na verdade o grande juiz hoje, no meu caso é o “Jornal
Nacional”, a Rede Globo de Televisão. Se dependesse da Globo, são mais de 30
horas de “Jornal Nacional” me condenando. E eu quero viver para ver a dona
Globo me pedir desculpas no ar. Por isso que eu, embora fique ofendido, fique chateado,
isso me dá um ânimo e uma disposição de brigar muito grande. E eu vou ser
candidato por isso, é a chance que eu tenho também de me defender.
Brasil
de Fato: E como enfrentar a Globo em 2018, na campanha eleitoral, se ela tem
todo esse poder?
Lula: Nós já ganhamos da Globo em 2002, 2006,
2010, 2014. Portanto, não é difícil ganhar. Ela faz estrago, obviamente. A
Globo escolhe candidato, e eu nunca fui o candidato dela. A Globo apoia
qualquer um contra mim. Agora ela está atrás de um candidato. Eu estou
esperando, porque a única coisa que eu tenho na vida de precioso é a minha
honra. Foi o compromisso que eu assumi com o povo brasileiro e não vou permitir
que a elite brasileira, através de manipulação dos meios de comunicação, de
juízes e promotores subordinados aos interesses da elite brasileira, tentem me
colocar no mesmo saco dos políticos corruptos que eles conhecem. Eu só tenho um
aliado, neste momento do Brasil, que é o povo brasileiro. Por isso a minha
tranquilidade e disposição.
Se o
objetivo deles é tentar não deixar eu ser candidato, vamos brigar para ver. Eu
vou estar na disputa até que eles tenham coragem de cometer a barbárie de
sangrar mais uma vez a democracia brasileira. Porque já sangraram com o
impeachment da Dilma [Rousseff]. Eu nasci para brigar. Eu não precisava ser
candidato a presidente. Eu já fui, já fui bem sucedido. Mas eles cutucaram a
onça com vara curta e a onça vai brigar.
PERGUNTA
DAS RUAS | José Mauro (ambulante, Rio de Janeiro/RJ): Hoje sabemos que no
Brasil temos 14 milhões de desempregados. Caso o senhor seja eleito, quais
medidas o seu governo tomará de imediato para o Brasil voltar ao ciclo de
crescimento e geração de emprego?
Lula: Só é possível dizer ao povo
brasileiro que a gente vai voltar a gerar emprego, se a gente primeiro tiver o
compromisso de dizer que a economia brasileira vai voltar a crescer. E eu falo
isso de cátedra, porque tive o prazer a satisfação, por conta do apoio que eu
tive do povo brasileiro, de junto com a Dilma, de 2003 a 2014, a gente criar mais
de 20 milhões de empregos neste país com carteira profissional assinada. É por
isso que a gente conseguiu aumentar o salário mínimo durante 12 anos seguidos.
É por isso que todos os trabalhadores que trabalhavam de forma organizada
tiveram aumento de salário acima da inflação. É por isso que nós conseguimos
tirar 36 milhões da miséria e fazer com que 40 milhões de pessoas fossem a um
padrão de consumo de classe média. É por isso que nós tivemos o maior programa
habitacional do país.
No
Rio de Janeiro, a gente tinha as pessoas de várias comunidade trabalhando em
obras do PAC [Programa de Aceleração do Crescimento], porque a gente exigia que
as empresas contratassem essas pessoas. É por isso que a gente queria recuperar
a indústria naval do Rio de Janeiro, que em 2002, quando eu fui candidato,
tinha apenas 2 mil trabalhadores, chegou a ter 86 mil trabalhadores o ano
passado. Eles estão desmontando a indústria naval brasileira, como estão
desmontando a indústria de óleo e gás, no Rio de Janeiro. Estão vendendo aquilo
que para nós era o passaporte do futuro: o pré-sal, que a gente queria para
recuperar o prejuízo de investimento na educação que não foi feito no século 20
neste país.
Vamos
fazer a economia brasileira voltar a crescer. E para isso, nós precisamos
fortalecer o mercado interno de um país que tem 207 milhões de pessoas. Se você
combinar o fortalecimento do mercado interno, uma política de incentivo ao
desenvolvimento de infraestrutura com a política de aumento do financiamento
para o povo pobre deste país, para o povo trabalhador, na hora que o povo tiver
o mínimo de dinheiro, que ele for ao supermercado, ao shopping, que ele for
comprar um caderno, uma camisa, um lápis, um chinelo, a economia brasileira
começa a funcionar. E quando a economia brasileira começa a funcionar de baixo,
ela vai ajudar o crescimento econômico.
Quando
eu deixei a Presidência, a gente estava crescendo 7% ao ano. O comércio
varejista estava crescendo acima de 12%. Ou seja, a verdade é que este país
viveu um momento auspicioso na sua história econômica e eu tenho orgulho de
fazer parte disso, porque vocês ajudar a fazer. Agora nós temos gente tentando
ajudar a destruir.
Quando
todo mundo tiver acesso a um pouquinho de dinheiro, a economia deste país volta
a funcionar. Do jeito que eles estão fazendo agora, com milhões de pessoas
desempregadas, com quem é mais rico ficando cada vez mais rico, vendendo nosso
pré-sal para os chineses e americanos, não vai dar certo.
Tenho
muita esperança que o Rio de Janeiro não vai ficar do jeito que está. Ele não
pode pagar o pato pelo desacerto na economia, não tem o direito de estar
sofrendo como está sofrendo hoje, nem salário recebe do poder público.
Obviamente que a gente não esperava que as pessoas que o governassem estivessem
roubando tanto. Mas eu sonho com a volta do crescimento econômico e com a
possibilidade de você ter um emprego decente, com carteira assinada, apesar de
a reforma trabalhista, estar dificultando isso.
PERGUNTA
DAS RUAS | Lisian Jardim dos Santos (Assentamento Novo Rumo, em São
Gabriel/RS): No seu próximo governo, poderemos contar com políticas públicas
que fortaleçam a produção de alimentos saudáveis, com melhorias na geração de
renda das famílias assentadas?
PERGUNTA
DAS RUAS | Geraldo Zantarias (João Câmara, Rio Grande do Norte): O senhor falou
em 2002, quando candidato, que resolveria o problema da Reforma Agrária com uma
canetada. O que houve com sua caneta, que não solucionou? E agora, se vencer em
2018, o que fará pela Reforma Agrária?
Lula: Vamos fatos e vamos aos dados.
Entre 2003 e 2014, mais notadamente de 2003 a 2010, eu disponibilizei para a
Reforma Agrária mais de 47 milhões de hectares de terras. No governo da Dilma,
acho que foram 2,8 milhões hectares. Foi menos. Eu não sei por que. Ou seja,
nós chegamos a 51 milhões de hectares disponibilizados para a Reforma Agrária.
Você sabe o que significa isso? Isso significa 52% de toda a terra
desapropriada no Brasil em 500 anos para efeito de Reforma Agrária. Fizemos
tudo? Não, falta fazer. Mas uma coisa tão importante quanto você desapropriar
terra é você fazer com que a terra que já está na mão do agricultor se torne
produtiva. E para ela se tornar produtiva, nós tivemos que fazer o quê?
Aumentar muito o dinheiro de financiamento da agricultura familiar.
Nós
criamos o Programa Mais Alimentos para financiar máquinas em 2008 e poder
tornar o campo mais produtivo, para enfrentar a crise de alimentos que se
apresentava no mundo. E nós financiamos quase 80 mil tratores de 80 cavalos
para ajudar o pequeno produtor, além de implementos agrícolas. Você lembra do
programa PAA [Programa de Aquisição de Alimentos], que era o programa para
comprar alimento? Você lembra que nós saímos de R$ 2,5 bilhões do Pronaf
[Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar], em 2003, para R$
30 bilhões no último ano da Dilma?
O
avanço espetacular que teve o desenvolvimento na agricultura familiar é motivo
de orgulho para o Brasil aqui e para o mundo inteiro. E isso tem que continuar
acontecendo. Sobretudo agora, que o mercado consumidor está cada vez mais
exigente, cada vez mais querendo produto orgânico, mais saudável. Cada vez mais
a gente vai ter que ir aprendendo para poder fazer com o Brasil compreenda que
quem dá comida para o país não é nenhum grande produtor de 50 milhões de
hectares de soja. É o pequeno produtor de um hectare de feijão, de meio hectare
de hortaliça, de três hectares de qualquer coisa, de um açude que cria peixe.
Essa gente é que está sustentando o país e é essa gente que nós queremos
continuar incentivando.
PERGUNTA
DAS RUAS | Antônio de Carvalho Filho (São Paulo/SP): Trabalho desde os 7 anos
e, registrado desde os 13 anos. Estou meio descrente, muitas vezes até meio
desesperado com a questão da minha aposentadoria, por causa da Reforma da
Previdência. A gente luta tanto e quando chega na hora de a gente ter um
pouquinho mais de tranquilidade, aí acontece isso. O que fazer?
Lula: Acho que o povo brasileiro tem muita
razão de estar apreensivo. Primeiro porque já foi feita a Reforma Trabalhista,
uma coisa feita por um Congresso altamente conservador, sem nenhum debate com a
sociedade. E eu acho que a sociedade ainda não se deu conta dos malefícios que
significa a Reforma Trabalhista, porque na televisão o governo está dizendo que
ela significa mais emprego, mais oportunidade. O que ele não diz é a qualidade
do emprego que ele vai criar, que é emprego sem carteira profissional assinada,
intermitente, que o cara só vai ganhar as horas que trabalha. Não diz que
muitas vezes as férias e os direitos históricos vão desaparecer. Vai levar um
tempo para os trabalhadores perceberem o que vai acontecer.
Eu
acho que nós, do movimento social, não conseguimos neste curto período
esclarecer para o povo do que ele estava sendo vítima, na verdade. A
Previdência é a mesma coisa. Historicamente se tenta jogar a culpa da
situação econômica do país a um déficit da Previdência. Quando a Previdência
tinha dinheiro, ele foi utilizado para fazer a Transamazônica e não devolveram
o dinheiro. Foi utilizado também para fazer a Ponte Rio-Niterói e não foi
devolvido.
No
meu período de governo, por exemplo, de 2004 a 2014, quando nós geramos 22
milhões de emprego e legalizamos 6 milhões de micro e pequenos empreendedores
individuais, a Previdência brasileira foi superavitária. Então, se nós
quisermos resolver o problema da Previdência, não é dificultando a vida do
pobre de se aposentar. Temos que gerar mais emprego, formalizar mais a economia
e dar aumento de salário e aumento de salário mínimo, como¬ nós fizemos, que
aumentamos 74%. Querer aumentar apenas o tempo de idade para o trabalhador e o
tempo de contribuição é, no fundo, jogar nas costas do trabalhador brasileiro,
que é a vítima, a responsabilidade por um déficit que ele não tem culpa. A
culpa é da própria política econômica do governo ou da política de gasto do
governo
Não é
o salário do trabalhador, do salário mínimo, que causa problema à Previdência.
É um procurador que se aposenta com R$ 30 mil, é um diplomata, um general que
se aposenta com isso. O povo trabalhador, que trabalha que nem um desgraçado
dentro da fábrica, a Previdência dele não é deficitária. E é só gerar emprego
que ela vira superavitária.
Ainda
vamos precisar fazer muita briga e aí é que entra a importância da eleição de
2018, de votar num Congresso comprometido com os direitos dos trabalhadores. E
quando a gente fala em direito dos trabalhadores, a gente não quer quebrar o
Brasil. A gente quer que o Brasil seja governado de forma a que os ricos paguem
um pouco mais e os pobres ganhem um pouco mais. Porque é preciso equilibrar a
distribuição de riqueza neste país. E a aposentadoria é uma das riquezas do
nosso povo. É você ter consciência que você trabalhou para o Brasil e quando
você estiver com uma idade avançada, você vai se aposentar, vai viver o resto da
sua vida recebendo uma contribuição por parte daquilo que você contribuiu com o
crescimento econômico do país.
Essa
Reforma da Previdência é contra o trabalhador brasileiro, ela é contra o pobre.
Ela favorece mais as camadas que ganham mais dinheiro e prejudica as camadas
que ganham menos dinheiro e é por isso que nós temos que brigar muito.
Não
sei se o governo vai ter coragem de mandar a proposta de Reforma da Previdência
para o Congresso. E não sei se o Congresso vai ter coragem de aprovar. Mas o
dado concreto é que eu estou dizendo, se eu for candidato em 2018, eu estou
propondo um Referendo Revogatório. Ou seja, vamos ter que pedir autorização do
Congresso Nacional, para que a gente possa mudar muita coisa que foi feita de
errado, neste governo golpista. Isso é um compromisso, porque senão não tem nem
sentido eu ser candidato. Ser candidato para chegar lá e constatar que está
tudo errado e que eu não posso fazer nada, eu prefiro ficar em casa.
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