Frei Betto
O documento Estratégia de Segurança Nacional dos Estados
Unidos, definido no governo Obama, assinala que o Brasil representa uma enorme
reserva de riquezas naturais estratégicas, essenciais ao desenvolvimento das
novas tecnologias. Acrescenta que apenas o nosso país possui o potencial de
exercer, na América do Sul, um grau de influência capaz de competir com os
interesses hegemônicos dos EUA.
Obama foi explícito: “Temos que ter clareza sobre os
desafios presentes e futuros, e reconhecer que o nosso país conta com a
capacidade única de mobilizar e guiar a comunidade internacional para
enfrentá-los.”
É a cultura unilateralista e xenofóbica de “destino
manifesto” impregnada na mentalidade de muitos estadunidenses. Expressada em
1994 por Henry Kissinger em seu livro En Diplomacy: “Os impérios não têm
necessidade de equilíbrio de poder. Não têm interesse de operar dentro de um
sistema internacional. Aspiram a ser o sistema internacional. Esta é a forma
com que os EUA têm conduzido sua política externa em relação à América Latina.”
Tão logo foram descobertas as riquezas do Pré-Sal,
potenciando o Brasil a se tornar grande produtor de petróleo e gás, a IV Frota
da marinha estadunidense iniciou atividades no Atlântico Sul. Agora, graças ao
governo Temer, se inicia o processo de desnacionalização do Pré-Sal e da
Petrobras. A aviação comercial brasileira já está legalmente autorizada a ser
100% controlada pelo capital estrangeiro.
A ideia de que privatizar significa aprimorar não encontra
respaldo na prática. A VASP faliu ao ser privatizada. A Vale definha e, hoje,
encontra-se atolada no lamaçal onde se afunda a Samarco. O sistema telefônico,
todo em mãos estrangeiras, é o que recebe mais reclamações dos consumidores. Os
planos de saúde privados cobram caro de 50 milhões de brasileiros e, na hora da
precisão, atendem mal, como se o cliente cometesse o crime de ficar doente...
O desenvolvimento capitalista dos EUA sabe que não pode
prescindir dos recursos naturais do Brasil, como a água. Nas próximas décadas
se prevê que quem controla a água terá o controle da economia mundial. Hoje,
apenas 3% da água na superfície do nosso planeta é potável. No entanto, há 94%
de água potável subterrânea.
A Europa e os EUA enfrentam escassez de água. No Velho
Continente, dos 55 rios importantes somente cinco não estão contaminados. Nos
EUA, 40% de seus rios e lagos se encontram contaminados. Calcula-se que o país
tenha um déficit de 13.600 milhões de metros cúbicos de água.
Já a América do Sul possui 47% das reservas superficiais e
subterrâneas de água do mundo. A maior parte no Brasil, na região amazônica e
no aquífero Guarani. É um mar de água potável de 55 mil km cúbicos, contendo
elementos químicos essenciais às indústrias de tecnologia e bélica.
Não é à toa que os EUA, depois de abrirem uma base militar
no Paraguai, agora recebem da Argentina de Macri o sinal verde para mais duas
bases, uma na Patagônia e outra na Tríplice Fronteira.
Se o povo brasileiro não reagir, em breve teremos tropas ianques acantonadas em
nosso país e humilhando o que nos resta de soberania.
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