domingo, 24 de abril de 2016

Um interessante ARTIGO de Manoel Dionizio Neto, um arapiraquense/cajazeirense ! ! !


DE UM GOLPE A OUTRO: O CAMINHO DA DIREITA

Theodor W. Adorno, filósofo alemão, um dos fundadores da Escola de Frankfurt, perseguido pelo nazismo e exilado em função dessa perseguição, insistiu que tudo se fizesse para que Auschwitz não se repetisse. Para tanto, deveria se investir na educação. Pois, nada mais desastroso para a humanidade do que as atrocidades ocorridas naquele campo de concentração nazista, o que não deveria nunca mais acontecer. Nós, brasileiros, depois de testemunharmos ou sermos conhecedores da infâmia do Regime Militar entre 1964 e 1985, deveríamos dizer, à maneira de Adorno, que Golpe de Estado nunca mais acontecesse. E o que estamos presenciando agora? Em um Brasil, onde ocorreram golpes e tentativas de golpes, a começar pela proclamação da República, sem querer entrar em outras especulações ao lado do registro do Golpe de 1937 com Getúlio Vargas, presenciamos, de forma patética, um cenário que vem se desenhado a algum tempo para um novo Golpe, desta feita, institucionalizado pelo Congresso Nacional brasileiro.

Quem testemunhou o que ocorrera, por exemplo, nos anos que antecederam 1964, ou quem tomou conhecimento através dos diferentes documentos que registram o que, de fato, ocorreu, sabe o quanto é triste e, ao mesmo tempo, infamante o que antecede e que sucede todo Golpe de Estado. Muitos brasileiros foram às ruas, lutaram colocando inclusive sua própria vida em risco, quando não pagaram com a própria vida o preço da luta por dias dignos para os brasileiros em um Regime Democrático, contrapondo-se ao Regime Ditatorial imposto pelos militares. Trinta e um anos depois do que parecia ter sido a conquista da Democracia, no Brasil, paramos, numa tarde de domingo, para testemunharmos a indecência dos que, travestidos de representantes do povo brasileiro, envergonharam a nação em nome de Deus, em nome de sua família, em nome de supostos eleitores, mas, certamente, em nome dos seus próprios interesses, demarcando o desfecho requerido por toda direita, que é, de fato, representada por eles. E aí estamos falando da declaração de mais um Golpe, que não terá, como em 1964, o nome de Revolução, mas de Impeachment. Poderiam até falar em nome de um suposto crime, não previsto na Constituição, para dizer sim ao Golpe, mas disseram sim em nome do que quer que fosse: Deus, pai, mãe, mulher, filho, filha, amigos, desde que fosse do seu interesse.

Enquanto isso, fico pensando em um comparativo que se pode fazer com os idos da década de 1960, ou do que ocorrera na Alemanha, nos idos de 1930 e 1940. Lá e cá: a caça às bruxas, sendo estas identificadas com os judeus e seus amigos ou seguidores, ou com os comunistas e seus amigos ou seguidores. Enfim, sempre em nome de uma moralidade, que cada vez mais se firmou como imoralidade, não só no trato da coisa pública, configurada em diferentes escândalos conhecidos, sem contar os que ficaram “ocultos” ou nos bastidores do poder ou dos poderes, mas também, e sobretudo, configurada na contínua exploração dos trabalhadores, na perseguição às minorias, representadas por negros, homossexuais, mulheres, entre outras. E o discurso de uma direita, usurpadora dos direitos humanos, encantando multidões de inocentes, tendo, para isso, a mídia a seu serviço. Refiro-me aqui a inocentes que passaram a ser ludibriados pelas aparências, porque são muitos indignados contra os que roubam, acreditando numa falsa promessa de moralização. Mas digo muito, não digo todos. Quem sabe, nem possamos dizer a maioria. Porque, por outro lado, o canto da sereia não chega aos ouvidos dos que conhecem os que estão no comando dos discursos. Eles mesmos, corruptos e corruptores, falando em nome de Deus, falando contra a corrupção, falando em nome da moralidade. Às vezes, até se torna engraçado; e deveria ser somente engraçado, mas sabemos que essa graça tem como preço o sofrimento que aumentará mais ainda para muitos desses mesmos inocentes que, hoje, vão às ruas, se juntando aos seus verdadeiros algozes, revestidos em peles de cordeiros, para atacar os que fazem o enfrentamento em defesa dos reais direitos dos explorados, reprimidos e oprimidos. Por isso atacam pessoas como Jean Wyllys, por exemplo, mergulhados na febre da homofobia que a direita representa, preferindo aplaudir quem já está processado por vários crimes de corrupção, querendo que fique o poder com quem é corrupto e com quem trama todo Golpe, cegando para as conquistas que se fizeram possíveis com Lula e mesmo com Dilma, por mais que saibamos da distância entre o que fizeram e que esperávamos deles em relação ao que, de fato, é do interesse do povo. Mas assim vemos como vai se fazendo o caminho da direita rumo ao poder, quer dizer, rumo a mais um Golpe de Estado no Brasil. E o que fazer agora para barrar essa caminhada? Acreditar na responsabilidade dos senhores senadores? Seria muito bom que eles não contribuíssem, ainda mais, para a desmoralização de uma nação chamada Brasil. Somente assim o caminho da direita seria interrompido com mais um aborto de um Golpe de Estado, como ocorrera também em outros momentos da História deste país.

Cajazeiras(PB), 19 de abril de 2016
Manoel Dionizio Neto

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