DE UM GOLPE A OUTRO: O CAMINHO DA DIREITA
Theodor W. Adorno, filósofo alemão, um dos fundadores da Escola de
Frankfurt, perseguido pelo nazismo e exilado em função dessa perseguição,
insistiu que tudo se fizesse para que Auschwitz não se repetisse. Para tanto,
deveria se investir na educação. Pois, nada mais desastroso para a humanidade
do que as atrocidades ocorridas naquele campo de concentração nazista, o que
não deveria nunca mais acontecer. Nós, brasileiros, depois de testemunharmos ou
sermos conhecedores da infâmia do Regime Militar entre 1964 e 1985, deveríamos
dizer, à maneira de Adorno, que Golpe de Estado nunca mais acontecesse. E o que
estamos presenciando agora? Em um Brasil, onde ocorreram golpes e tentativas de
golpes, a começar pela proclamação da República, sem querer entrar em outras
especulações ao lado do registro do Golpe de 1937 com Getúlio Vargas,
presenciamos, de forma patética, um cenário que vem se desenhado a algum tempo
para um novo Golpe, desta feita, institucionalizado pelo Congresso Nacional
brasileiro.
Quem testemunhou o que ocorrera, por exemplo, nos anos que antecederam
1964, ou quem tomou conhecimento através dos diferentes documentos que
registram o que, de fato, ocorreu, sabe o quanto é triste e, ao mesmo tempo, infamante
o que antecede e que sucede todo Golpe de Estado. Muitos brasileiros foram às
ruas, lutaram colocando inclusive sua própria vida em risco, quando não pagaram
com a própria vida o preço da luta por dias dignos para os brasileiros em um
Regime Democrático, contrapondo-se ao Regime Ditatorial imposto pelos
militares. Trinta e um anos depois do que parecia ter sido a conquista da
Democracia, no Brasil, paramos, numa tarde de domingo, para testemunharmos a
indecência dos que, travestidos de representantes do povo brasileiro,
envergonharam a nação em nome de Deus, em nome de sua família, em nome de
supostos eleitores, mas, certamente, em nome dos seus próprios interesses,
demarcando o desfecho requerido por toda direita, que é, de fato, representada
por eles. E aí estamos falando da declaração de mais um Golpe, que não terá,
como em 1964, o nome de Revolução, mas de Impeachment. Poderiam até falar em
nome de um suposto crime, não previsto na Constituição, para dizer sim ao
Golpe, mas disseram sim em nome do que quer que fosse: Deus, pai, mãe, mulher,
filho, filha, amigos, desde que fosse do seu interesse.
Enquanto isso, fico pensando em um comparativo que se pode fazer com os
idos da década de 1960, ou do que ocorrera na Alemanha, nos idos de 1930 e
1940. Lá e cá: a caça às bruxas, sendo estas identificadas com os judeus e seus
amigos ou seguidores, ou com os comunistas e seus amigos ou seguidores. Enfim,
sempre em nome de uma moralidade, que cada vez mais se firmou como imoralidade,
não só no trato da coisa pública, configurada em diferentes escândalos
conhecidos, sem contar os que ficaram “ocultos” ou nos bastidores do poder ou
dos poderes, mas também, e sobretudo, configurada na contínua exploração dos
trabalhadores, na perseguição às minorias, representadas por negros,
homossexuais, mulheres, entre outras. E o discurso de uma direita, usurpadora
dos direitos humanos, encantando multidões de inocentes, tendo, para isso, a
mídia a seu serviço. Refiro-me aqui a inocentes que passaram a ser ludibriados
pelas aparências, porque são muitos indignados contra os que roubam,
acreditando numa falsa promessa de moralização. Mas digo muito, não digo todos.
Quem sabe, nem possamos dizer a maioria. Porque, por outro lado, o canto da
sereia não chega aos ouvidos dos que conhecem os que estão no comando dos
discursos. Eles mesmos, corruptos e corruptores, falando em nome de Deus,
falando contra a corrupção, falando em nome da moralidade. Às vezes, até se
torna engraçado; e deveria ser somente engraçado, mas sabemos que essa graça
tem como preço o sofrimento que aumentará mais ainda para muitos desses mesmos
inocentes que, hoje, vão às ruas, se juntando aos seus verdadeiros algozes,
revestidos em peles de cordeiros, para atacar os que fazem o enfrentamento em
defesa dos reais direitos dos explorados, reprimidos e oprimidos. Por isso
atacam pessoas como Jean Wyllys, por exemplo, mergulhados na febre da homofobia
que a direita representa, preferindo aplaudir quem já está processado por
vários crimes de corrupção, querendo que fique o poder com quem é corrupto e
com quem trama todo Golpe, cegando para as conquistas que se fizeram possíveis
com Lula e mesmo com Dilma, por mais que saibamos da distância entre o que
fizeram e que esperávamos deles em relação ao que, de fato, é do interesse do
povo. Mas assim vemos como vai se fazendo o caminho da direita rumo ao poder,
quer dizer, rumo a mais um Golpe de Estado no Brasil. E o que fazer agora para
barrar essa caminhada? Acreditar na responsabilidade dos senhores senadores?
Seria muito bom que eles não contribuíssem, ainda mais, para a desmoralização
de uma nação chamada Brasil. Somente assim o caminho da direita seria
interrompido com mais um aborto de um Golpe de Estado, como ocorrera também em
outros momentos da História deste país.
Cajazeiras(PB), 19 de abril de 2016
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