Reflexos do baile de
domingo
Por Fernando Brito
Seis dias depois do circo e o país ainda
está escandalizado.
Difícil superar a vergonha.
Adeptos mais que confessos do golpe, como Nelson Motta, fingem-se
chocados com as cenas de fisiologismo e mediocridade dantescos que eles próprios
patrocinaram.
Não querem entender que a mediocridade dos que disseram o “sim” em nome
de um falso Deus e da falta de amor aos seus filhinhos – que filho merece pais
que se acanalham? -, apesar de horrível, é menos vergonhosa do que a deles, que
nenhum pudor tiveram de usá-los como instrumentos de seus incontidos
desejos.
Desejos tão obsessivos que não puderam esperar 2018.
Os vitoriosos estão cobertos de vergonha, da mancha que não se lava.
Consumem ou não a tomada de poder, ela é indelével e inevitavelmente
exposta.
Se a escória parlamentar se mostrou na TV, seus mandantes não podem mais
se desvincular deles.
Aliás, nem se livrarem deles poderão, seja na prática, porque lidam com
um bandido que fez o que fez com garantias, seja moralmente, porque foi o
comandante de campo de sua guerra suja.
Nelson Motta, por exemplo, pode dizer que a neta de nove anos tampava os
olhos diante daquelas cenas. E menina, na sua pureza, pode tentar fugir do
horror, mas ele, no seu comprometimento, não vai poder escapar da pergunta: mas
vovô, porque o senhor está torcendo por eles?
É perceptível um sentimento geral de nojo no país.
Nojo é algo que fermenta e explode, mais cedo ou mais tarde.
Se dali se parir um governo, será um governo maldito desde a sua
concepção.
É por isso que, com tudo o que dispõe, de apoio parlamentar, do
dinheiro, das empresas e sobretudo da mídia que trata o filho como se não fosse
produto da mãe monstruosa de domingo, o “pré-governo” Temer se mostra tão fraco
e incapaz de atrair senão para obutim do governo e do Estado brasileiro.
É um governo de saque e o saque, embora doce, fica marcado à testa do
saqueador.
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