O
reproduz artigo de Paulo Nogueira no Blog Diário do Centro do Mundo
O
real significado da inclusão de Moro na lista da Fortune
Deslumbrado com uma lista de uma revista
semimorta (ah, coitado)
Um dos traços mais cômicos da imprensa nacional é seu
provincianismo.
Basta qualquer publicação americana ou inglesa dar qualquer
coisa e é um barulho de colocar tapa-ouvidos.
Agora é a vez de darem triunfalmente uma lista de líderes
internacionais da revista americana Fortune segundo a qual Moro, o homem dos
grampos criminosos, aparece na 13.a colocação.
Duvido que algum editor saiba o que é a Fortune. Ou o que foi.
Sei, porque a li devotadamente toda quinzena em meus vários anos
de diretor de redação da Exame, nos anos 1990.
A Fortune, revista de negócios, fazia parte do chamado Big
Three. Eram as três maiores publicações de negócios dos Estados Unidos e do
mundo: Fortune, Forbes e Business Week. Eram referências para qualquer
executivo de qualquer parte, e de jornalistas que como eu militavam na área.
Todas elas foram varridas pela internet. Há muitos anos
agonizam. Foram muito, já não são nada.
Ninguém as lê, ninguém as cita, ninguém as leva a sério.
Exceto
a imprensa brasileira, quando conveniente, como no caso de Moro.
Acompanhei o declínio de cada uma delas, por razões sentimentais
e profissionais.
Lembro-me de uma conversa que tive, em meados da década de 2000,
com Roberto Civita. Ele não conseguia entender como uma revista como a Business
Week acabara de ser vendida por UM dólar.
Claro que era UM dólar e mais as dívidas, mas mesmo assim foi um
golpe para RC, até porque ele viu ali um destino possível, se não provável,
para suas revistas.
A Forbes teve também um destino melancólicos. Era uma caricatura
do que fora quando o capital chinês a comprou da família Forbes. A Forbes
vegeta por aí, em sua irrelevância avassaladora.
A Fortune é um caso parecido. Seus donos, do grupo Time Warner,
tentaram se desfazer dela e das demais revistas da corporação, mas não
encontraram quem comprasse.
Desprezada na própria empresa, rejeitada pelo mercado, ignorada
pelo público, a Fortune é um zumbi editorial.
Não vale absolutamente nada – a não ser, como agora, para que a
imprensa brasileira possa promover Moro.
Ele próprio pareceu deslumbrado com a notícia de que estava em
13.o lugar numa lista da qual ninguém quer saber. Gabou-se, segundo o amigo
Globo, de estar na frente de Bono.
Isso me lembra o dia já distante em que fui a uma cidadezinha
remota fazer uma palestra sobre jornalismo.
Apareci na coluna social do jornal
da cidade. “O importante jornalista Paulo Nogueira nos honra com sua visita”.
A diferença é que eu ri.
A imprensa nacional, seus leitores lobotomizados e o próprio
Moro levam a sério.
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