A
espetacular ruptura entre Janot e Aragão
Por Paulo Nogueira
O que
você deve esperar de um homem a quem você manda calar a boca?
Tudo — exceto que cale a boca.
É o que se viu, mais uma vez, no
episódio que opôs Rodrigo Janot e Eugênio Aragão.
O caso está relatado no Estadão de hoje numa excelente reportagem de
Luiz Maklouf.
A rigor, Janot não mandou Aragão calar
a boca. Disse, num email, que colocasse a língua no palato.
Que diabo é isso? — se perguntou
Aragão, segundo o relato de Maklouf.
Língua
no palato?
Bem, que podia ser senão um calaboca?
Tente falar com a língua no palato.
Eram velhos amigos. Poucas coisas são
mais melancólicas que a ruptura de antigas amizades.
Mas esta teve um lado cômico, também.
Aragão foi ao escritório de Janot pedir satisfação, ou coisa parecida.
“Você veio aqui me chamar de traíra?”
— perguntou Janot, depois de submeter o ex-camarada a uma espera de quarenta
minutos.
De traíra não, devolveu Aragão. “De
desleal.” Se alguém souber a diferença entre entre ser traíra e ser desleal
favor me avisar, por favor.
Aragão, conta Maklouf, soubera que
vazamentos da Lava Jato tinham partido da PGR de Janot.
A conversa se incendiou quando o nome
de Lula veio à baila. Janot, sempre de acordo com o artigo de Maklouf, disse
que Lula é um “bandido como todos os outros”.
Ficou claro, aí, que Janot jamais
perdoou Lula por tê-lo classificado como “ingrato” na conversa com Dilma
gravada e vazada por Moro, numa das últimas etapas do golpe.
Ao levar a história a um jornalista do
Estadão, Aragão mostrou o quanto está indignado com o comportamento de Janot.
Você tem que estar com muita raiva de
alguém para fazer o que Aragão fez. Ele não tomou nenhum cuidado para que o
leitor não soubesse qual era a fonte da bomba.
Ele queria que as pessoas soubessem que a fonte era ele.
Melhor: ele queria que Janot soubesse
que o vazamento partira dele.
Vazamento se paga com vazamento: eis
um exemplo acabado de vendetta.
O objetivo de Aragão foi plenamente
alcançado. O homem que aparece na reportagem é um desequilibrado, um
desvairado, inconsequente o bastante para não apenas chamar Lula de bandido —
mas para mandar Aragão para a puta que o pariu.
Compostura e equilíbrio é o mínimo que
se espera de um procurador geral da República. Janot demonstrou despreparo
mental para o cargo que exerce, ainda mais num momento tão dramático.
Fora tudo isso, cometeu o pecado de
julgar e condenar Lula antes que a Justiça oficialmente se manifeste. Neste
caso, faria bem em manter a língua no palato.
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