Por Carlos Fernandes
ele
Oito meses após Michel Temer ter assumido
a presidência da República, é possível construir um perfil fidedigno de tudo o
que representou até aqui o golpe parlamentar que retirou violentamente do poder
a ex-presidenta Dilma Roussef.
Se traçarmos um paralelo entre o que
foi o governo Dilma nos seus piores momentos e o que está sendo o governo Temer
durante todo esse período, veremos que não houve um único índice social ou
econômico que tenha sequer se mantido estável.
Todos os indicadores, sem exceção,
apresentaram uma piora considerável, sobretudo quando tornou-se cristalino, até
para os seus mais fervorosos defensores, a completa incapacidade e a
constrangedora incompetência do atual governo para criar as condições
necessárias para a tão prometida retomada do crescimento.
Mês após mês assistimos,
desconsolados e impotentes, ao aprofundamento da crise econômica, a entrega do
patrimônio nacional ao capital estrangeiro, a retirada de direitos
constitucionais alcançados com tantos esforços, a deterioração do poder de
compra do salário mínimo e a bancarrota dos investimentos em saúde e educação.
Numa sucessão de “pedaladas” nos
prazos estipulados para os resultados positivos das indefensáveis medidas duras
e recessivas, vimos o horizonte da melhora do cenário econômico ser adiado do
último trimestre de 2016 para o primeiro trimestre de 2017 e deste para o
segundo. Hoje, nem o mais irresponsável dos economistas se arrisca a prever um
crescimento minimamente significativo para este ano inteiro.
Apenas como ilustração, não se
passaram 10 dias do ano que se inicia e os dados divulgados pela Serasa
Experian nos informam que a atividade do comércio brasileiro teve uma retração
de 6,6% em 2016, a maior queda desde 2002, último ano do governo FHC, quando
registrou-se uma queda de 4,9%.
Já o IPEA (Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada), divulgou hoje, 9, que o Indicador de Formação Bruta de
Capital Fixo voltou a cair em novembro de 2016. O índice recuou 1,1% em relação
a outubro. Em comparação com o mesmo período de 2015 o tombo foi ainda maior,
inacreditáveis 11,4%. Em bom português, ninguém tem mais coragem de investir na
indústria brasileira.
Com essas façanhas, não é à toa que o
mais decorativo dos presidentes tenha cometido o descalabro de trocar a atual
unidade monetária brasileira, o real, pelo cruzeiro. O disparate foi cometido
num evento no Rio Grande do Sul, onde para falar foi preciso mais uma vez se
esconder do povo.
Seja como for, não deixa de ser
uma coerência já que estamos retrocedendo décadas na sua gestão para patamares
pré-FHC.
Se tudo isso não bastasse, o horror e
a carnificina vivenciadas pelos apenados sob custódia do Estado nos presídios
do Amazonas e de Roraima ainda nos esfregaram na cara – mais do que a
ultrajante situação do sistema carcerário nacional – a terrível crueldade com que
tratamos aqueles que deveriam ser motivo de nossa atenção para a sua devida
recuperação e reinserção no meio social.
Pela reação a essa verdadeira
tragédia, descobrimos, ou tivemos a certeza, que tanto Estado quanto uma grande
parcela da sociedade não só admitem o extermínio de seres humanos quanto torcem
para que isso aconteça. Diante das mais absurdas declarações sobre o caso, me
pergunto em que exatamente nos diferenciamos daqueles que apoiavam (e ainda
apóiam) os campos de concentração nazista e suas inomináveis fornalhas.
Dado o exposto, é mais do que correto
afirmar que na obscura era Temer, apenas dois únicos índices tiveram uma
trajetória constante ascendente: o desemprego que nos humilha e o ódio que nos
apequena.
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