O GOLPE CONSUMADO
Roberto
Saturnino Braga

Dilma
Rousseff portou-se com dignidade perante o Senado. Falou das suas razões, das
evidências, da importância da Democracia, das regras do regime
presidencialista, que são as da Constituição Brasileira; falou do combate à
corrupção, que ela propiciou plenamente, da crise econômica e dos interesses do
povo brasileiro e da sua Nação; mostrou que não
cometeu nenhum crime de responsabilidade. Respeitosamente respondeu, por mais
de dez horas, a todas as indagações dos senadores. Honestamente. Dilma Rousseff
foi honesta; ela é uma pessoa honesta. Tenho muitos anos
de vida política e conheci muitos políticos; muito poucos com a honestidade de
Dilma Rousseff. Mas foi condenada, foi deposta, pelo Congresso mais
corrupto de toda a história do Brasil.
Pouco importaram a honestidade, a ausência de crime, as razões e evidências, as
regras constitucionais, o regime democrático e os interesses nacionais. Falaram
mais alto os grandes interesses do capital mundial, aliados aos mesquinhos
interesses dos derrotados na última eleição, e o Brasil foi implacavelmente golpeado.
Na
política, como na guerra, prevalecem as razões do vencedor. E o mercado vai
agradecer; os investidores que venceram vão procurar normalizar a situação
econômica que eles puseram em crise para criar o clima de impeachment. A mídia
controlada pelo grande capital vai dar boas notícias e a confiança dos
empresários vai melhorar. Não tanto a dos brasileiros, a confiança da Nação
Brasileira, que sabe que os vencedores de hoje não vêem o Brasil como uma nação
soberana, mas como um subestado unido à América do Norte, com
residência em Miami.
Para
mim, pessoalmente, é o momento mais deprimente de toda a minha vida
política; é a negação das razões de luta de toda esta lide de cinquenta anos:
os ideais de democracia, de justiça e de nação soberana. Especialmente
demolidora é a negação do caminho democrático para a Nação Brasileira, aquela
crença que nos levou a criar o MDB e repudiar a luta armada dos
revolucionários. Sim, tudo por água abaixo, a distribuição de renda revogada,
os gastos sociais estancados, a Petrobras amputada, o pré-sal
internacionalizado, o Mercosul destruído, a Unasul diminuída, o Brasil nos
BRICS deslocado, o submarino atômico congelado, o enriquecimento de urânio parado, o Almirante
Othon Pinheiro na cadeia, o Brasil enquadrado na sua dimensão menor, tal como
foi com Getúlio e Jango, até a próxima tentativa, que não verei mais.
Os
rituais foram cumpridos, para disfarçar bem o golpe. Mais respeitados no
Brasil, com mais aparato, os rituais do disfarce, do que no caso do golpe do
Paraguai. Mas a democracia, mais uma vez, foi gravemente ferida, para não machucar os interesses do grande
capital.
Francamente, não sei como suportar mais
este golpe.
Alguns
pontos de emoção grata que suavizam: a presença de Chico Buarque ao lado de
Lula na sessão do Senado; o recuo de arrependimento dos golpistas na hora de
cassar os direitos políticos de Dilma; palavras de estímulo de leitores e
amigos que vou recebendo; a carta do Papa Francisco para a Presidenta
Dilma, um reconhecimento à sua dignidade.
Contudo,
a depressão. A impotência ante a força maior. A vontade de adesão ao movimento
“Our Revolution”, do Senador Bernie Sanders, como último caminho. Como se não
houvesse um caminho brasileiro para o Brasil.
ô-XENTE, CUIDADO, pois as palavras na cor vermelha constam originariamente no texto, mas os
destaques e ênfases são deste BLOGUEIRO.
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