segunda-feira, 20 de novembro de 2023

Zumbi dos Palmares, o maior LÍDER negro de todas as raças ! ! !

 










O Quilombo dos Palmares foi uma insurreição única. Trata-se da grande rebelião de escravos da América do Sul, que sobreviveu por mais tempo, um levante nos domínios de uma das potências coloniais da época e que, para ser derrotado, exigiu o maior esforço bélico da história colonial. Palmares foi “uma comunidade diferente, por sua longa duração e seu grande número de habitantes, bem como por sua organização socioeconômica” e, por isso, se firmou como o acontecimento dominante na história nordestina do século XVII e o mais sério problema administrativo desde a guerra contra os holandeses.

 

O palco dessa rebelião era a região sul de Pernambuco, que viria a ser a Comarca de alagoas, em 1706, e, um século depois, Província. No século XVII, a expansão da colonização no ‘sul de Pernambuco’ foi interrompida porque a maior parte do território alagoano colonizado estava tomado pelo Quilombo dos Palmares. Durante quase um século, os negros escravos fugidos dos engenhos foram ocupando uma área que abrangia os vales dos rios Paraíba e Mundaú, desde as cabeceiras desses rios, em Pernambuco, até as proximidades das lagoas Mundaú e Manguaba, tendo por fronteiras o agreste e o litoral”.

 

A forte presença dos rebeldes punha em risco a sobrevivência da capitania e de suas vilas principais: Olinda e Recife. Esses núcleos urbanos dependiam dos produtos alagoanos para seu abastecimento de tal forma que “o colapso do sistema abastecedor centralizado na região alagoana sobrevinha sempre que os palmarinos bloqueavam a única via terrestre de comunicação”.

 

Segundos alguns historiadores, Palmares teria formado seu núcleo inicial com um grupo de quarenta escravos fugidos de um engenho em Porto Calvo, em 1597. A região escolhida, as matas palmarinas, se assemelhava pelo clima, a topografia e, principalmente, por sua flora majestosa e rica fauna, “a um pedaço de chão transplantado de África para lhes dar abrigo”.

 

A floresta era uma área de difícil acesso, “um refúgio ideal, uma espécie de fortaleza defendida pela mata e pelas montanhas”. Os escravos rebeldes – os quilombolas – aproveitando a proteção da floresta, que oferecia meios naturais de defesa, assim como madeira, caça, facilidade de água e a fertilidade das terras, foram atraindo cada vez mais negros escravos e formaram uma federação de quilombos, a maior da história brasileira.

 

Em 1670, o Quilombo dos Palmares cobria uma extensa área com muitos povoados dos mais diversos tamanhos: Acotirene, Alto Magano, Amaro, Andalaquituche, Aqualtune, Curiva, Dambraganga, Engana-Colomim, Osenga, Subupira, Tabocas Grandes, Tabocas Pequenos e Zumbi, que vinham se somar à história de mais outras comunidades: Catinga, Garanhuns, Gôngoro, Oiteiro, Pedro Capacaça, Quiloange, Quissama e Una. O povoado mais importante era Cerca Real dos Macacos, localizado onde hoje existe a cidade de União dos Palmares. No auge, cobriam um espaço de, aproximadamente, vinte e sete mil quilômetros quadrados, que ia dos vales dos rios  Paraíba e Mundaú ao sul de Pernambuco, uma área equivalente à do território alagoano atual. A população chegava a quase trinta mil pessoas, significando, na época, um desafio para o sistema escravista.

 

A presença crescente de um Quilombo, funcionando independente da estrutura controlada pelos portugueses, era inaceitável na medida em que “Palmares era um território, uma sociedade e um Estado ocupando o espaço vital do território, da sociedade e do Estado coloniais”. No sentido clássico, o Quilombo não chegou a formar um Estado, mas era um passo para isso. Palmares abrigava ‘uma vida comunitária politicamente organizada, administração pública, leis próprias, forma de governo, estrutura militar e princípios religiosos e culturais que fundamentavam e fortaleciam a identidade coletiva’.

 

O primeiro líder reconhecido do Quilombo foi Ganga Zumba, comandante da resistência aos primeiros ataques portugueses. Em 1678, o líder negro assinou um acordo com o Governador de Pernambuco, atitude que dividiu o Quilombo. Tempo depois, Ganga Zumba, considerado traidor, seria assassinado e, para seu lugar, foi escolhido Zumbi. O novo líder teria nascido no norte de alagoas, em 1655, e recebido educação religiosa em Porto Calvo até os quinze anos, quando foge para o Quilombo, destacando-se como comandante militar de Palmares até ser assassinado aos quarenta anos.

 

Nos quinze anos depois da morte de Ganga Zumba, coube a Zumbi enfrentar as várias expedições militares portuguesas. A resistência durou enquanto a tática de guerrilha funcionou.

 

Desde 1602, as mais de trinta expedições militares – holandesas e portuguesas – eram cada vez mais aparelhadas. A última entrada foi uma verdadeira cruzada contra o Quilombo. Palmares foi cercada por uma força de mais de três mil homens, organizada pelo governo da capitania, com apoio das câmaras das vilas existentes e financiada pelos senhores de engenho que forneceram armas, munições e alimentação.

 

Depois de meses de asfixia, com a utilização de canhões de bronze desconhecidos dos palmarinos, os portugueses chegaram à Serra da Barriga. Zumbi conseguiu escapar do cerco a Palmares e fugiu, mas foi delatado por um de seus antigos auxiliares. Atacado em seu esconderijo na Serra Dois Irmãos por uma coluna de paulistas, sob o comando do capitão André Furtado de Mendonça, Zumbi resistiu e apenas um de seus vinte combatentes foi apanhado com vida. Morto, teve a cabeça decepada, salgada e enviada para Recife, onde ficou exposta. O dia vinte de novembro de 1695 marca a morte do líder palmarinos.



FONTE: Livro “Formação Histórica de Alagoas”, 6ª edição, pela Edufal Maceió, 2021, do mestre economista e professor Cícero Péricles, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEAC) da UFAL-Universidade Federal de Alagoas, doutor em Economia pela Universidad de Córdoba, na Espanha, é autor de três livros, todos com selo da Editora Universitária da UFAL (Edufal): sobre economia regional: Economia Popular - uma via de modernização para Alagoas; Reestruturação produtiva da agroindústria sucroalcooleira e Formação Histórica de Alagoas. Além de pesquisador, Péricles é professor do Programa de Mestrado em Geografia (Igdema) da UFAL. Foi bolsista da Cátedra IPEA de Desenvolvimento, é membro do Conselho Superior da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal) e membro do Conselho Editorial da Imprensa Oficial Graciliano Ramos e Companhia de Edição e Publicação de Alagoas (Cepal). Em 2018 e 2019, atuou como professor do Departamento de Economia da Universidade Federal de São Paulo. 

Cícero Péricles
 de Oliveira Carvalho

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