Por
Gustavo Conde
"Eu
não queria dizer isso. Pode ferir sensibilidades, desmanchar castelos de areia,
coisa e tal. Mas, que se dane. O fato, nu e cru, é que Lula vai sendo
canonizado, imortalizado e santificado no altar máximo da glorificação
histórica. Nem Che Guevara, nem Fidel Castro, nem Nelson Mandela chegaram perto
dessa dimensão.
E essa consagração é insuspeita: não há maior
prêmio nem maior insígnia do que ser perseguido e caçado com este nível de
violência pelo aparelhamento judicial e financeiro em uníssono, com o auxílio
de toda a imprensa e dos serviços de "inteligência" nacionais e
estrangeiros. É o maior reconhecimento de uma vida que teve um sentido maior,
léguas de distância do que a maioria de nós poderia sonhar.
Nem todos os títulos honoris causa do mundo juntos
equivalem a essa deferência: ser perseguido por gente do sistema, por
representantes máximos do capital, da normatização social e da covardia
intelectual, gente que pertence ao lado fascista da história.
Não há Prêmio Nobel que possa simbolizar a atuação
democrática de Lula no mundo, nem todos os prêmios que Lula de fato ganhou ou
recusou (a lista é imensa, uma das maiores do mundo). Porque a honraria mesmo
que se desenha é esta em curso: ser o alvo máximo do ódio de classe e o alvo
máximo do pânico democrático que tem fobia a voto.
Habitar 24 horas por dia a mente desértica dos
inimigos da democracia e povoar quase a totalidade do noticiário político de um
país durante 40 anos, dando significado a toda e qualquer movimentação social
na direção de mais direitos e mais soberania, acreditem, não é pouco.
Talvez, não haja prêmio maior no mundo porque Lula
é, ele mesmo, o prêmio. É ele que todos querem, para o bem ou para o mal. É o
líder-fetiche, a rocha que ninguém quebra, o troféu, a origem, a voz inaugural,
rouca, que carrega as marcas da história no timbre e na gramática.
Há de se agradecer essa grande homenagem histórica
que o Brasil vem fazendo com extremo esmero a este cidadão do mundo. Ele
poderia ter sido esquecido, como FHC. Mas, não. Caminha para a eternidade, para
o Olimpo, não dos mártires, mas dos homens que lutaram e fizeram valer uma vida
em toda a sua dimensão espiritual e humana."
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