Juristas internacionais pedem libertação de
Lula e anulação do julgamento
Em manifesto, signatários denunciam ao mundo que ex-presidente é preso
político e que foi vítima de uma conspiração
Juiz Baltasar GARZÓN,
Advogado em Madrid, Espanha
ÍNTEGRA
DO MANIFESTO
“Lula é um preso político. Tem de ser libertado e seu julgamento tem de
ser anulado.”
Éramos poucos, em
2018, quando advertimos que o processo contra Lula era parte de uma vontade,
por qualquer meio e a qualquer custo, de colocá-lo fora da corrida para as
eleições presidenciais que se aproximavam.
Esta estratégia foi
bem sucedida, já que ela levou à eleição de Bolsonaro.
As recentes
revelações do jornalista Glenn Greenwald e sua equipe derrubaram todas as
máscaras. As investigações e o julgamento de Lula foram tendenciosos desde o
início. Sérgio Moro não só conduziu o processo com parcialidade como comandou
de fato a acusação, desafiando as regras de procedimento mais fundamentais no
Brasil.
Na prática, ele
manipulou os mecanismos da delação premiada, orientou o trabalho do Ministério
Público, exigiu a substituição de uma procuradora que não o satisfazia e
dirigiu a estratégia de comunicação do Ministério Público.
Sabemos também,
através destas revelações, que tal estratégia foi levada adiante de forma
secreta, em estreita colaboração com o Ministério Público.
Isso se soma ao fato
de que Sérgio Moro haver grampeado os telefones dos advogados de Lula e
decidido, por sua própria iniciativa, não cumprir uma decisão de um
desembargador ordenando a libertação de
Lula, violando a lei
de forma flagrante.
Apesar de todos esses
esquemas, Sérgio Moro teve de se resignar a condenar Lula por “fatos
indeterminados”, dada a inexistência material de provas que o implicassem
diretamente neste caso de corrupção. Ao fazer isso, tornou Lula um preso
político em função do que deve ser considerado, diante dessas novas revelações,
como uma conspiração política.
O Supremo Tribunal
Federal tem agora o dever de retirar todas as consequências destas gravíssimas
irregularidades que conduziram a uma condenação injusta e ilegal e,
consequentemente, libertar Lula e anular a sua condenação.
As autoridades
brasileiras devem tomar todas as iniciativas necessárias para identificar os
responsáveis por este gravíssimo abuso de procedimento.
A luta contra a
corrupção é hoje um assunto essencial para todos os cidadãos do mundo, assim como
a democracia e o Estado de Direito, mas no caso de Lula, ela foi usada para
alimentar estratégias que o eliminassem do jogo político, a fim de permitir que
Bolsonaro chegasse ao poder e, em seguida, “recompensasse” Sergio Moro,
nomeando-o ministro da Justiça.
Os signatários deste
apelo ressaltam que os beneficiários desta conspiração demonstram apenas
desprezo pelo interesse geral dos brasileiros, pelas liberdades públicas, pelos
direitos dos povos indígenas e, além disso, pela democracia.
Assinam:
Bruce
ACKERMAN, Sterling Professor of Law and Political Science, Yale University
John ACKERMAN,
Professor, Universidade Nacional Autónoma do México (UNAM)
William BOURDON,
Advogado (Paris)
Mireille DELMAS
MARTY, Professora, Collège de France
Joan
GARCÉS, Advogado (Madrid)
Baltasar GARZÓN,
Advogado (Madrid)
Louis JOINET, Juiz,
primeiro advogado-geral honorário da Cour de Cassation (França), antigo
presidente do grupo de trabalho da ONU sobre detenção arbitrária e da Comissão
dos Direitos Humanos
Wolfgang KALECK,
Advogado (Berlin)
Henri LECLERC,
Advogado (Paris)
Christophe MARCHAND,
Advogado (Bruxelas)
Jean-Pierre MIGNARD,
Advogado (Paris)
Philippe TEXIER,
Juiz, conselheiro honorário na Cour de Cassation (França), antigo presidente do
Comité dos Direitos Económicos, Sociais e Culturais das Nações Unidas
Philippe WEIL,
Professor, Universidade de Paris 1-Sorbonne.
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