A LUTA FOI HERCÚLEA, MAS VALEU
FOTO DE JONATHAN LINS
Vitória:
Justiça nega redução no piso
de jornalistas alagoanos e amplia
salários
Depois de nove dias de greve, jornalistas no estado
voltarão a trabalhar nesta quinta-feira (4), sem redução salarial e com
reajuste de 3%. Trabalhadores não terão descontados os dias parados.
Escrito por Érica Aragão no Saite da
No nono dia de greve contra a redução de 40% no piso salarial, os
jornalistas e as jornalistas de Alagoas aprovaram, por unanimidade, encerrar a
paralisação ontem (3) e voltar aos trabalhos HOJE.
A decisão foi tomada em assembleia, em frente ao Tribunal Regional do
Trabalho (TRT), onde a categoria permanecia acampada desde as primeiras horas
do dia para esperar o resultado do julgamento do dissídio, que incluía a pauta
da redução salarial, proposta pelas três maiores empresas de comunicação do estado.
O TRT decidiu negar a proposta das TVs Gazeta (Rede Globo), Pajuçara
(Rede Record) e Ponta Verde (SBT) de reduzir o valor do piso salarial dos
jornalistas em 40%, e ainda afirmou que ela é inconstitucional e vergonhosa. A
Justiça do Trabalho decidiu também pelo aumento do piso da categoria em 3%. Com
a decisão unânime dos desembargadores, o piso salarial passa a ser de R$
3.672,22
Além disso, os dias de greve não serão descontados e a categoria ainda
conquistou uma estabilidade salarial por 90 dias. Caso a empresa mande alguém
embora neste período, o jornalista ou a jornalista terá direito a receber três
meses de salários.
“Voltamos
a trabalhar amanhã com a mesma garra que antes ou até mais animados, vestindo a
camisa das empresas que trabalhamos. Os patrões se uniram para cortar nossos
salários e os trabalhadores se uniram para dizer não ao corte salarial e
vencemos a batalha”, disse Wadson Correia, repórter da TV Ponta Verde,
afiliada ao SBT.
Segundo o repórter de Alagoas, “o que doeu nesses nove dias de greve é que eu não
pude noticiar esta nossa luta, mas, ao mesmo tempo, ao andar nas ruas de Maceió
[capital de Alagoas] durante os protestos contra a redução salarial pude
perceber como a população sentiu falta dos noticiários ao vivo, porque vinham
nos dizer. Sentimos, bem de perto, a solidariedade e o apoio da sociedade que
vinha nos abraçar e nos dar apoio moral para resistir nesta luta”.
Wadson destacou que essa vitória não teria acontecido se a categoria não estivesse unida, harmoniosa e com disposição de luta. Além disso, segundo o jornalista, sem o apoio também das famílias, da CUT, FENAJ, do SINDJORNAL e de outros sindicatos a resistência seria impossível.
Foi a primeira vez que participei de uma greve, e a partir de agora vou olhar diferente para esta luta. A solidariedade que recebemos será multiplicada, porque cada vez que eu souber de uma greve irei ficar perto dos trabalhadores e das trabalhadoras dando toda assistência para luta, porque como diz a CUT, juntos somos mais fortes- Wadson Correia
A secretária de Mobilização e Organização do Sindicato dos Jornalistas
de Alagoas (SindJornal), Emanuelle de Araújo Vanderlei, conhecida como Manu,
também destacou o apoio da sociedade e do conjunto dos trabalhadores que não só
apoiaram, mas foram os pilares de força para a resistência da categoria.
“O
sindicato está orgulhoso e confiante na unidade da categoria, que muitas vezes
pareceu desmobilizada, mas demos a prova de que a classe trabalhadora está cada
vez mais forte”, afirmou Manu, que também destacou o fortalecimento do sindicato como
outro legado da greve.
“A
categoria entendeu que precisa de uma referência e apoio, e é o sindicato que
tem este papel, porque a luta é coletiva e uma entidade que representa a
categoria unifica a luta. E só conseguimos resistir a esses nove dias por isso.
Se não fosse o apoio da CUT, da FENAJ, da sociedade e de outros sindicatos não
teríamos resistido”, afirmou a dirigente do Sindjornal.
“A CUT
e a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), não só apoiaram como estiveram
na luta desde o começo, dando suporte, auxilio e articulando com outros
sindicatos. As duas entidades foram nossas referências e diretrizes do começo
até o final. A unidade entre sindicato, Federação e Central também foram
fundamentais neste processo da luta pelos direitos da classe trabalhadora”, disse
Manu, rouca e emocionada.
A greve teve diariamente o apoio dos artistas alagoanos, das famílias
dos jornalistas, de pessoas famosas como a jogadora de futebol feminino Marta e o
jornalista José Trajano. Também
teve apoio de empresas que forneceram água, alimentos, brinquedos e comida.
Além de parlamentares a níveis estadual e federal.
Segundo Manu, os deputados locais se comprometeram a realizar um debate
sobre a categoria nos próximos dias.
Para o secretário de Comunicação da CUT, Roni Barbosa, que acompanhou
diariamente a greve dos jornalistas de Alagoas, essa vitória é uma vitória da
classe trabalhadora.
“A
vitória dos jornalistas de Alagoas mostrou que a luta e a greve são o caminho
para a defesa dos direitos. Vencemos uma proposta patronal que pretendia
reduzir os salários em 40% e conquistamos reposição de 3%” afirmou Roni, que completou: “essa luta fortaleceu os trabalhadores
alagoanos para outras batalhas”.
Dia decisivo
O julgamento do dissídio, que resultou positivamente na luta, estava
marcado para as 11h, mas a categoria acampou em frente ao TRT a partir das 7
horas da manhã para acompanhar a decisão. Uma parte expressiva dos
trabalhadores entrou na audiência e, segundo a presidenta da CUT de Alagoas ,
Rilda Alves, a emoção era forte a cada voto.
“Foi
uma decisão histórica não só para os jornalistas de Alagoas, mas para toda a
classe trabalhadora. Porque se essa proposta fosse aprovada poderia ter aberto
um precedente de redução de salários em nível nacional e isso seria um
retrocesso imensurável”, afirmou Rilda.
A presidenta da FENAJ, Maria José Braga, a Zequinha, concorda com Rilda
e disse que o Brasil estava de olhos voltados a esta situação dos jornalistas
de Alagoas, criada pelos empresários e que poderia ser referência para outras
decisões.
“Felizmente
o TRT de Alagoas demonstrou sensibilidade e julgou que a redução é
inconstitucional e vai agora servir positivamente de parâmetro para o resto do
Brasil. Foi uma vitória dos jornalistas de Alagoas que se mobilizaram e
conquistaram o apoio do povo, porque demonstraram garra, coerência e disposição
de luta para garantir salários dignos aos jornalistas”, disse
Zequinha.
Rilda lembrou que o parecer contrário à redução salarial do Ministério
Público do Trabalho (MPT), divulgado na terça-feira (2), foi fundamental para a
vitória. A dirigente contou que o trabalho da CUT e de outros sindicatos em
dialogar com membros da Justiça do Trabalho nos dias anteriores ao julgamento
também fez toda diferença.
“Há
uma sensação de que as empresas irão recorrer, mas reduzir salários eles [os
empresários] não vão conseguir porque ficou claro na decisão a
inconstitucionalidade desta proposta. Além disso, que não ousem duvidar do
poder de luta da classe trabalhadora, porque se precisar, cruzar os braços e
lutar por direitos outra vez não pensaremos duas vezes”, destacou
a presidenta da CUT Alagoas.
Lute como um jornalista
A hashtag #LuteComoUmJornalista chegou a ficar em primeiro lugar nos
Trends Topics do Twitter nesta quarta.
Muitos jornalistas renomados, famosos e até os jornalistas em greve se
posicionaram nas redes sociais a favor da luta da categoria.
Apesar da origem da TAG ser referente a perseguição do juiz Sérgio Moro
ao jornalista do Intercept Brasil, Glenn Greenwald, a pauta dos jornalistas de
Alagoas também foi destaque.
ô-XENTE, CUIDADO, pois
as palavras 'sombreadas (nas cores verde e vermelho)" constam
originariamente no texto, mas os destaques e ênfases são deste BLOGUEIRO.
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