terça-feira, 22 de maio de 2012

Para um corrupto, trabalho forçado é pior que pena de morte


Toda vez que me deparo com um crime hediondo na mídia (e isso ocorre sempre que ligo a televisão ou abro o jornal), vem aquela dúvida sobre se a adoção da pena de morte no Brasil seria a solução para conter assassinos tão barbaros. Às vezes, me pergunto se os grandes crimes de corrupção, quando pessoas que já têm do bom e do melhor roubam friamente o dinheiro público, mereceriam punição com a pena capital, afinal esses canalhas estão matando milhares de pessoas nas filas dos hospitais e ceifando o futuro de milhões de crianças e jovens que não terão acesso à educação.

A todo momento, um Datena ou um Wagner Montes da vida vai dizer que os doentes mentais que fizeram isso com as duas crianças merecem virar picadinho. Talvez até mereçam, mas sou contra a pena de morte por vários motivos e agora que o Código Penal está sendo rediscutido no Congresso, vale a pena lembrá-los:

1) Não há nada pior que a purgação em vida. Nenhuma punição é pior que a privação de liberdade. Experimente se trancar em casa e não sair de jeito nenhum. Você simplesmente não vai aguentar. E olhe que você está em casa e não numa cadeia rodeado de criminosos, alguns dementes, outros perversos e ainda uma terceira categoria que mistura as duas primeiras. Se um criminoso é morto, ele simplesmente foi absolvido da convivência com seus fantasmas e com o ócio enjaulado, que é a pior coisa do mundo. A pena de morte só abrevia seu sofrimento. 

2) Aplicar pena de morte equivale a igualar-se ao criminoso em sua selvageria. Quem já assistiu a execuções legalizadas em outros países ou leu livros com descrições sabe que trata-se de um espetáculo horripilante. Em muitos, mas muitos casos, não há morte instantânea, mas uma agonia lenta capaz de embrulhar o estômago até dos próprios carrascos. Quando mata com base na lei, o Estado de direito se torna animalesco e irracional. E tudo o que esperamos de um estado de direito é que seja racional.

3) Todos nós já ouvimos falar muito de erros judiciários. Nossa Justiça cega volta e meia manda um inocente para a cadeia por semanas, dias, meses, até anos. Depois, o coitado é solto e volta para casa mais perdido que cachorro quando cai de caminhão de mudança. Com sorte, recebe algum dinheiro como indenização paliativa pelo precioso e irrecuperável tempo de vida que perdeu atrás das grades.
Pois bem, com a pena de morte não há como reparar erros.

4) Os fascistas dizem que os criminosos presos custam muito ao contribuinte. Reclamam que pagamos impostos para que ladrões e assassinos tenham comida de graça na cadeia. Esquecem que também pagamos para que outros ladrões e assassinos comam do bom e do melhor no conforto de seus apartamentos funcionais. Uma vez, quando trabalhava como jornalista no Congresso Nacional, em Brasília, vi um deputado paulista, do qual nem vale a pena citar o nome, gastar seu tempo de oratória lendo o cardápio dos presos numa das penitenciárias paulistanas. Ao final, o ilustre parlamentar disse que era um absurdo pagarmos pela bóia nojenta servida àqueles pobres coitados.

5) Outro motivo é que no Brasil 99% dos encarcerados são negros e/ou pobres. Nossa Justiça cega não costuma colocar gente rica atrás das grades e, se o faz, logo um caro advogado encontra uma brecha no Código Penal para soltar o respeitável elemento em questão. Trocando em miúdos, se houver pena de morte no Brasil só negros e pobres serão executados.

6) E o último motivo pelo qual sou contra a pena de morte institucionalizada é que uma outra, informal mas muito eficiente, já existe no Brasil. Os esquadrões da morte, as milícias, os traficantes e até mesmo os tubarões que são contra a distribuição de renda matam, instantaneamente ou a prazo, milhões de pessoas todos os dias.

Para os políticos corruptos e empresários corruptores, aqueles que roubam seus próprios compatriotas friamente, trabalhos forçados em prisão perpétua. Isso mesmo, que sejam obrigados a quebrar pedras numa pedreira ou a plantar em campos agrícolas. Que sejam presos e mandados para as plantações de cana de Alagoas, onde sentirão na pele o que um usineiro é capaz de fazer com o trabalhador que depende do SUS, do INSS e da escola pública.


Taí uma boa pena para quem rouba o Brasil.

Nem a morte seria pior para eles do que trabalhar.

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