Por Leandro Demori na
Newsletter do Intercept
Matteo Salvini
QUE BOLSONARO É UM TRAPALHÃO despreparado todo mundo sabe. Mas o que muita gente ainda não aceita é que existe um projeto global por trás de seu governo, extremamente bem organizado, do qual ele é só a ferramenta útil. Querem ver o exemplo da semana passada? Se liguem no que rolou na Itália.
Pano de fundo: Matteo Salvini, ministro do
Interior (espécie de Casa Civil do país), é o premier de fato. Ele faz parte da
Lega Nord, um partido que faz populismo com racismo e xenofobia, demonizando
“comunistas” e minorias em geral. Seu principal projeto: uma lei chamada
“Decreto Sicurezza”, espécie de “lei anti-crime” do Moro. Basicamente uma lei
jogando pra torcida, com ações inócuas e midiáticas. Soa familiar, não?
Antes de ser aprovada, a lei já fez uma
vítima. Uma professora foi suspensa e teve salário cortado pela metade depois
de uma batida do governo em seu colégio. Crime: “permitir” que alunos fizessem
um vídeo que compara o decreto de segurança às leis raciais do fascismo.
Perseguição a professores. Soa familiar?
Salvini, depois, voltou atrás, e disse que a punição era “exagero”. Sim, soa
familiar.
Quem mais vem perseguindo professores e
alunos, chegando ao ponto de expelir uma universidade para fora do país? Viktor
Orbán, o Bolsonaro da Hungria.
Salvini, Bolsonaro e Orbán são políticos da
nova onda de populismo de extrema direita. Não é coincidência que seus inimigos
sejam os mesmos: professores (e jornalistas, “o comunismo”, George Soros etc).
Todos estão seguindo um manual extremamente previsível de anti-iluminismo.
O projeto é criar novas oligarquias,
destruir as instituições públicas e privadas e substituí-las por suas próprias
instituições e amigos. Na Hungria, Orbán dá o caminho.
Seus familiares e amigos fazem negócios com
o governo (Hol van Queiroz?)
enquanto ele busca apoio público mirando em inimigos comuns, jogando sobretudo
com o medo das pessoas em relação à segurança). Cria os fantasmas que depois
diz combater. Em meio a isso, toma controle do Judiciário e sufoca a mídia
usando a tática do “eles estão contra mim e só produzem fake news”. Soa
familiar? Porque é.
Salvini, nesta semana, levou a Lega Nord ao
topo da Europa.
A extrema -direita fez 34% dos votos nas
eleições do Parlamento Europeu, resultado só alcançado por cinco partidos nos
70 anos da democracia italiana pós-guerra.
Ironicamente, entre eles, está o Movimento 5
Stelle, que venceu as eleições nacionais do ano passado esmagando os partidos
tradicionais empunhando a bandeira da anti-política. O M5S abraçou a extrema-direita
Lega para formar seu governo. Salvini foi colocado no cargo de ministro do
Interior pelo M5S. Do topo ao chão, o M5S fez apenas 17% nas europeias, metade
do ano passado, chegando atrás também do Partido Democrático, de esquerda.
O movimento-fenômeno liderado por um
comediante e que sonhava derrotar o establishment criou
cuervos.
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