terça-feira, 4 de junho de 2019

Extremismo: um PROJETO global ! ! !

O EXTREMISMO É UM PROJETO GLOBAL
Por Leandro Demori na Newsletter do Intercept

        Foto: Miguel Medina/AFP/Getty Images
O ministro do Interior da Itália, Matteo Salvini disse que os estudantes que protestam por melhoras no sistema educacional do país são “instrumentalizados” pela esquerda. Lembra Bolsonaro? Não por acaso.


QUE BOLSONARO É UM TRAPALHÃO despreparado todo mundo sabe. Mas o que muita gente ainda não aceita é que existe um projeto global por trás de seu governo, extremamente bem organizado, do qual ele é só a ferramenta útil. Querem ver o exemplo da semana passada? Se liguem no que rolou na Itália.

Pano de fundo: Matteo Salvini, ministro do Interior (espécie de Casa Civil do país), é o premier de fato. Ele faz parte da Lega Nord, um partido que faz populismo com racismo e xenofobia, demonizando “comunistas” e minorias em geral. Seu principal projeto: uma lei chamada “Decreto Sicurezza”, espécie de “lei anti-crime” do Moro. Basicamente uma lei jogando pra torcida, com ações inócuas e midiáticas. Soa familiar, não?

Antes de ser aprovada, a lei já fez uma vítima. Uma professora foi suspensa e teve salário cortado pela metade depois de uma batida do governo em seu colégio. Crime: “permitir” que alunos fizessem um vídeo que compara o decreto de segurança às leis raciais do fascismo.

Perseguição a professores. Soa familiar? Salvini, depois, voltou atrás, e disse que a punição era “exagero”. Sim, soa familiar.

Quem mais vem perseguindo professores e alunos, chegando ao ponto de expelir uma universidade para fora do país? Viktor Orbán, o Bolsonaro da Hungria.

Salvini, Bolsonaro e Orbán são políticos da nova onda de populismo de extrema direita. Não é coincidência que seus inimigos sejam os mesmos: professores (e jornalistas, “o comunismo”, George Soros etc). Todos estão seguindo um manual extremamente previsível de anti-iluminismo.

O projeto é criar novas oligarquias, destruir as instituições públicas e privadas e substituí-las por suas próprias instituições e amigos. Na Hungria, Orbán dá o caminho.

Seus familiares e amigos fazem negócios com o governo (Hol van Queiroz?) enquanto ele busca apoio público mirando em inimigos comuns, jogando sobretudo com o medo das pessoas em relação à segurança). Cria os fantasmas que depois diz combater. Em meio a isso, toma controle do Judiciário e sufoca a mídia usando a tática do “eles estão contra mim e só produzem fake news”. Soa familiar? Porque é.

Salvini, nesta semana, levou a Lega Nord ao topo da Europa.

A extrema -direita fez 34% dos votos nas eleições do Parlamento Europeu, resultado só alcançado por cinco partidos nos 70 anos da democracia italiana pós-guerra.

Ironicamente, entre eles, está o Movimento 5 Stelle, que venceu as eleições nacionais do ano passado esmagando os partidos tradicionais empunhando a bandeira da anti-política. O M5S abraçou a extrema-direita Lega para formar seu governo. Salvini foi colocado no cargo de ministro do Interior pelo M5S. Do topo ao chão, o M5S fez apenas 17% nas europeias, metade do ano passado, chegando atrás também do Partido Democrático, de esquerda.

O movimento-fenômeno liderado por um comediante e que sonhava derrotar o establishment criou cuervos.

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