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e o juiz sérgio moro, rede grobo, revistas veja e istoé, stf, jornais falha de
são Paulo e o estadão; colonistas e outros do mesmo staff ASSASSINARAM DONA MARISA LETÍCIA
"Queridos companheiros, queridas companheiras que vieram prestar sua última mensagem e homenagem à companheira Marisa. Eu tinha dito que não falaria porque a preocupação de não falar e chorar é muito grande. Mas eu acho que já chorei a quantidade de lágrimas que daria para recuperar a represa Cantareira por dois anos.
Eu queria
dar uma palavra de agradecimento a cada mulher, cada homem, cada companheiro,
cada companheira - cada parente da Marisa, cada parente meu - e dizer ao
companheiro Rafael, presidente desse sindicato, que minha vida não seria um
décimo do que é se não fosse esse sindicato. Se
não fosse esse salão.
Vocês não
têm dimensão da representatividade desse espaço que nós estamos tem na minha
vida; Aqui eu aprendi a falar. Aqui eu perdi o medo do microfone. Aqui nós
decidimos combater a ditadura militar. Aqui nós criamos um novo sindicalismo.
Aqui nós pensamos em criar a CUT. Aqui nós pensamos em criar o PT - aqui nós
pensamos em fazer todas as greves feitas nessa categoria.
Aqui saiu
inspiração para que muitos sindicatos se transformassem num sindicato
combativo. Aqui eu conheci a Marisa. Aqui eu casei com a Marisa. Na minha
posse, em 24 de abril de 1969, a Marisa tinha casado comigo. Nos casamos em
1975 - conheci Marisa em 73 e aqui nós criamos nossos filhos. Aqui a Marisa sustentou a barra para que eu me
transformasse no que eu me transformei.
Eu sou o
resultado da consciência política dos trabalhadores brasileiros. Na hora que
ele evolui, eu evoluo. Eu sou resultado das greves, mas também sou resultado de
uma menina que parecia frágil e que me deu a garantia que eu poderia viajar
para ajudar candidatura, para ajudar criar sindicalismos combativos. Que ela
segurava a barra. E nunca reclamou.
O meu
primeiro filho, que é o Fábio, do meu casamento com ela, porque, quando eu
casei ela já tinha o Marcos - que já tinha uns dois anos e pouco quando eu
casei. Porque eu não sei se vocês sabem, a Marisa ficou viúva novinha, porque
assassinaram o marido dela que estava dirigindo um táxi. Logo veio o Fábio,
depois veio o Sandro, depois veio o Luiz Cláudio. E eu nunca estive presente. Por causa do PT, por causa da CUT, por
causa das greves.
Eu lembro
que quando o Fabio nasceu a gente estava pescando aqui na represa Billings, lá
no montanhão. Aqui estava a Maria, o Antônio, a Inês. E era mais ou menos 18h,
ela estava com água no pé do umbigo tentando pegar uma tilápia de uns 10
centímetros, para a gente comer. A
gente assava e comia na beira da represa.
Era um
domingo e nós fomos embora para casa. Fomos tomar banho. Quando foi umas 6h30
manhã estourou a bolsa. Ela me chamou para levar ela no médico. Eu levei no PS
de São Bernardo. Só que eu tinha uma reunião da diretoria do sindicato. Deixei
a Marisa lá, e só fui lembrar, Rui, as 11 horas da manhã. Quando cheguei em
casa, já tinha nascido o Fábio.
O Sandro
eu fui para Bahia no congresso do sindicato dos químicos. Ele adiantou um mês,
um mês em pouco. Houve uma antecipação no parto. Eu estava no congresso dos
petroleiros, na Bahia, quando em 1978 , dia 15 de julho, eu recebo a notícia
que a Marisa tinha tido o Sandro. Ele foi antecipado alguns dias e eu não tinha
como comemorar.
Era 9h eu
fui no bar, no hotel da Bahia. Tomei um conhaque sozinho e comemorei o
nascimento do Sandro. Aí nós combinamos que no próximo filho eu ia cuidar de
ver o parto. Eu estava com ela em Cuba, o Sandro era pequeno. E a gente foi
visitar um show lá em Cuba, no Tropicana. E não pudemos entrar por causa do
Sandro.
Aí, então,
nós voltamos e, por obra de deus, nós fizemos o companheiro Luis Claudio, que
está aqui. Aí foi muito engraçado, porque lá em cuba eu descobri que o Sandro
tinha um problema no coração. E, por conta dessa descoberta, nós viemos aqui em
SP, e o Dr. Jatene operou a aorta dele. Ele tem até hoje, um cano, que está
funcionando bem.
Mas o que
é importante é que eu tinha assumido o compromisso com ela que eu ia assistir o
parto do Luiz Cláudio. Apareceu uma companheira, que eu nem sei se está aqui no
meio. Uma companheira, ex-militante do partidão, Albertina de Souza. Uma médica
excepcional que falou para Marisa: eu quero fazer o seu parto gratuitamente. É
um presente meu para você e para o Lula.
Aí eu fui
na clínica São Luís. Era mais ou menos 17h30. Quando estou na clínica São Luis,
Rui, eu recebo um telefonema do Djalma Boca - não sei se ele está aqui também.
Ele era presidente do PT estadual e falou: Lula, o PMDB quer uma reunião
urgente, porque quer discutir a aliança com o Losca (sic), aqui em São Paulo.
Eu, mais
uma vez, pedi desculpa a Marisa. Falei: Meu amor, ainda não é dessa vez. E fui
fazer a reunião. Quando cheguei à meia noite no hospital, já tinha nascido o
companheiro Luís Cláudio. Então, depois disso, Dom angélico, às vezes eu tenho
culpa, às vezes eu acho que assim mesmo. Ela, praticamente, criou os filhos sozinha.
Porque era ela que ia na escola.
Na verdade eu
acho que ela foi mãe. Ela foi pai, ela foi tia, foi avó, foi tudo. Porque ela
cuidou de todos e nunca reclamou da vida. A Marisa começou a trabalho com 11 anos de idade como empregada
doméstica. Era babá, 11 anos de idade. Depois foi trabalhar na Dulcora. Depois
casou. Perdeu o marido, ficou viúva e conheceu esse ser humano bonito - que sou
eu - e casou.
Eu brinco
com a Marisa. Faz 43 anos que eu brinco com ela, todo ano, que ela acaba de ser
eleita, todo o ano, que ela acaba de ser eleita a mulher mais bem casada do
mundo.
Nós tivemos uma
vida extraordinária. Uma vida de muita compreensão porque eu tenho em mente,
que o casamento é o maior exercício de democracia que um ser humano pode fazer. É no casamento que você aprende a ceder.
E tem que ceder todo o dia. E tem que brigar todo o dia para conquistar alguma
coisa.
Você cede
pra mulher. Você cede para o filho. Eles cedem para vc. E se você não tiver a
paciência de exercer essa lógica de ceder um para o outro, o casamento não dura
muito tempo. É por isso que gente casa e se separa muito rapidamente. É porque
não tem o exercício da democracia.
Eu e a
Marisa nunca brigamos. Eu já brigava muito no PT, muito no sindicato. Quando eu
chegava em casa, às vezes ela queria brigar comigo, mas eu falava, Marisa, não
adianta que eu não quero brigar. E não brigava, Rui. Eu aprendi, de uma mãe
analfabeta, que dizia: nunca levante a voz pra sua mulher. Ela é a sua parceira
e se não levantar a voz, nunca levante a mão para sua mulher. Eu não aprendi na
universidade. Eu aprendi com
uma mãe analfabeta ensinando um filho como se trata a parceira da gente.
Pois bem,
a Marisa se foi. Eu, certamente, Dom Angélico, sofro menos do que as pessoas
que não acreditam em deus. E do que as pessoas que não acreditam em outro
mundo. Porque eu acredito em outra vida. E eu acho que ela vai encontrar. Ela
deixou aqui muita gente que ela gosta. Muita gente. Sobretudo os filhos delas,
os netos. Eu já estou bisavô. E ela, certamente, vai encontrar figuras
extraordinárias lá em cima. Vai encontrar a mãe dela. Que é uma baixinha,
chamada Regineta, que morava comigo um tempo. De uma doçura. Era muito parecida
com a Marisa.
A dona
Regineta levantava às 5h da manhã e ela começava a trabalhar. A Marisa, Rui,
não há nada nesse mundo que faça a Marisa levantar depois das cinco. Ela pode
dormir as duas da manhã que as cinco horas a Marisa está de pé fazendo alguma
coisa. É a Regineta fiel. E eu penso que nós vivemos esse tempo todo vendo uma
companheira humilde.
Quando eu
fui eleito presidente, a Marisa era vítima de chacota. A direita ‘dizia será
que ela vai conseguir limpar aquele vidro do palácio da alvorada? Será que ela
vai ser ministra? Ela vai dar conta do recado? E eu dizia pra Marisa: Você não vai ser ministra, Marisa. Porque a obra
mais importante que a mulher de um presidente pode fazer é dar segurança para o
presidente da república não fazer as bobagens que os presidentes fazem nesse
país.
Porque, no
fundo no fundo, ela era mais do que uma ministra. Eu ficava pensando: eu coloco
a Marisa para ser ministra de alguma coisa, aí a imprensa começa a bater nela.
Bate nela num canto e bate no Lula, no outro. Bate nela num canto...não! Ela em
casa, a gente sentava, conversava, discutia. E ela tinha muito mais importância
que os ministros. A Marisa sempre dizia para mim. ‘Oh lula você não
esqueça nunca de onde você veio e para onde você vai voltar’.
Uma vez, e
eu vou contar isso, para terminar. Uma vez, a gente estava jantando no Palácio
da Alvorada, a Marisa começou a rir, começou a rir e eu não sabia por que a
Marisa estava rindo. Mas sabe quando uma pessoa ri e parece que vai morrer de
rir? E ela disse, sabe por que eu estou rindo, Lula? É porque esses
companheiros que trabalham na cozinha e esses garçons nunca imaginaram que esse
palácio fosse ter uma presidenta, uma mulher de um presidente que pedisse para
eles cozinhar pé de frango para ela comer.
Isso
mostrava a diferença de quem estava dentro do Palácio da Alvorada. E ela dizia
para mim. ‘Lula, a gente
não pode fazer nada, nada mais importante do que a gente fez quando a gente não
era presidente. Porque a gente não pode, por ser presidente, tentar utilizar
porque pretexto para ter um padrão de vida superior àquele que a gente tinha
quando você era simplesmente presidente do sindicato de São Bernardo do Campo.
Eu tenho
orgulho, tenho orgulho, que a Marisa viajou comigo esse mundo inteiro. Acho que
nunca uma primeira dama viajou 10% do que Marisa viajou, e a Marisa nunca me
pediu $10 para comprar nada lá fora. Nada. A Marisa, desde 1975, a minha conta bancaria é no
nome da Marisa. Porque eu nunca aceitei que a mulher ficasse mendigando R$ 10
para o marido para ir à feira. Ela ia e gastava o que precisasse.
Então,
Marisa nunca me pediu um anel. Marisa nunca me pediu um vestido. Nunca pediu
nada. A única coisa que ela queria era me ver cuidar dos filhos. Ela se foi...
os filhos não precisam mais desse cuidado porque agora eles vêm aqui cuidar de
mim. Eu estou véinho (sic). Eles tem que cuidar. Mas eu quero dizer que eu sou
grato por vocês, pelo carinho que vocês tiveram comigo. Não é pouco tempo que
eu estou aqui, gente. Eu estou aqui desde 24 de abril de 1969. Sou presidente.
Fui presidente desde 24 de abril de 1975. A maioria nunca nasceu. Sabe? Eu
tenho consciência que eu sou resultado de vocês. Eu tenho consciência. E tenho
consciência que junto com vocês essa galeguinha que parecia frágil, mas quando ficava
vermelha e falava grosso colocava medo em muita gente, Dona Marisa.
Então, de
coração, muito obrigado a cada mulher e a cada homem sabe que veio a esse ato
aqui hoje. E eu vou. Eu vou continuar agradecendo a Marisa até o dia que eu não
puder mais agradecer. O dia que eu morrer. E espero encontrar com ela, com esse mesmo vestido, que eu escolhi para
colocar nela, vermelho, para mostrar que a gente não tinha medo de vermelho
quando era vivo, não tem medo de vermelho quando morre.
Ela está
com uma estrelinha do PT no seu vestido e eu tenho orgulho dessa mulher junto
comigo e outros milhares, muitas vezes essa molecada dormia no chão, da praça
da matriz, e a Marisa e outras companheiras vendendo bandeira, vendendo
camiseta, para gente construir um partido que a direita quer destruir.
Na verdade,
Marisa morreu triste, Rogério (sic). Porque a canalhice que fizeram com ela e a
imbecilidade e a maldade que fizeram com ela, eu vou dedicar. Eu tenho 71 anos. Não sei se Deus me
levará em curto prazo. Eu acho que vou viver muito porque eu quero, eu quero
provar que os facínoras que levantaram leviandades com a Marisa tenham um dia a
humildade de pedir desculpas a ela.
Eu digo
todo dia. Se alguém tem medo nesse país. Se alguém praticou corrupção nesse
país. Se alguém tem medo de ser preso, eu quero dizer o seguinte: esse que está enterrando a sua mulher hoje, não
tem.
Porque eu
tenho a consciência tranquila. Tenho certeza da consciência e do trabalho da
minha mulher. E não sou eu que tenho que provar que eu sou inocente. Eles é que
precisam provar que as mentiras que eles estão contando são verdadeiras.
Portanto, querida companheira Marisa, descanse em paz porque o seu Lulinha paz e
amor vai continuar brigando muito para defender a sua honra e a sua
imagem."
Luís Inácio Lula da Silva
ex e futuro presidente da
República Federativa do Brasil
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