Para entender a crise política
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Ainda há um árduo caminho pela
frente. Mas a anulação da influência deletéria de Lira acende uma luz no
caminho da recuperação da economia
Antes, com financiamento privado de campanha, os parlamentares dependiam dos lobbies privados. Com o financiamento público, um caminhão de dinheiro passou a jorrar dos cofres públicos. E, a partir das brechas abertas pelo bolsonarismo, passaram a disputar dinheiro de emendas e a pretender controlar o orçamento.
Nesse quadro, passaram a se
comportar corporativamente como sindicalistas. Ou seja, quando se trata de
buscar verbas do governo, há um momento majoritário no Congresso. É desse
corporativismo que se prevalece o presidente da Câmara Artur Lira.
A
explicação para por aí.
O
segundo tempo do jogo é na hora de disputar espaço político, cargos nos
ministérios e organismos federais. Aí ocorre a disputa entre os diversos grupos
de parlamentares. Lira lidera um grupo do Centrão, Gilberto Kassab outro,
Valdemar da Costa Neto outro. Lira não representa mais a maioria. Mais: quem
tem poder de indicar é o dono da caneta, e ele é o presidente da República.
Foi
o que Lula fez, pondo-se a campo e negociando a aprovação da Medida Provisória
dos ministérios. A diferença graúda de placar não pode ser atribuída a Lira,
mas à negociação por bloco de influência. Foi vitória de Lula.
Daqui para frente, entra também um segundo personagem no jogo: o
Supremo Tribunal Federal e a Polícia Federal. A pronta ação de Dias Toffoli,
liberando para julgamento um caso antigo de Artur Lira, comprova que o Supremo
acordou para o perigo representado por Lira.
Ele se vale da chantagem e da falta de limites. Caso consolidasse seu
poder na Câmara, poderia aprovar leis desestabilizando a democracia, como
ocorreu com o impeachment de Dilma Rousseff, articulado por seu alter ego,
Eduardo Cunha. As Forças Armadas atuam apenas quando outros poderes abrem
espaço. Foi assim com a operação de Garantia de Lei e Ordem, com Temer, ou com
as inúmeras intervenções no governo Bolsonaro.
Daí a necessidade premente de
anular a participação deletéria de Lira no jogo político. Não será difícil. Nas
últimas semanas, ele cometeu um erro político básico: externalizou de maneira
imprudente sua gana por poder. Sempre que isso ocorre, acaba por tornar-se alvo
das demais instituições.
Até
agora, o emburrecimento das redações fez com que, em um primeiro momento, a
maior parte da cobertura celebrasse a perspectiva de derrota de Lula, sem se
dar conta de que uma vitória de Lira seria contra todo o país institucional.
Como a mídia leva dias para entender o novo quadro, gradativamente, Lira irá se
tornando inimigo público número 1.
A
prisão de seu braço direito, com 5 milhões de reais em dinheiro vivo – em
operação de ontem da Polícia Federal – facilitará a implosão de sua cidadela.
Mantida
essa dinâmica, anulado Lira, o segundo problema do país são os juros do Banco
Central. Os últimos dados estão gerando uma pressão generalizada contra Roberto
Campos Neto por parte de todos os setores da economia e da política. Ele
acabará cedendo. O mercado continua apostando em uma Selic acima de 12 pontos
até o final do ano. Cabeças mais realistas apostam na Selic de um dígito.
Acelerando a queda da Selic, há
possibilidades concretas de aumento da atividade econômica, permitindo ao país
sair da armadilha atual, na qual grandes grupos nacionais estão ameaçados de
inadimplência.
Ainda
há um árduo caminho pela frente. Mas a anulação da influência deletéria de Lira
acende uma luz no caminho da recuperação da economia e da institucionalidade.
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