Levantamento aponta que latifúndio do pai e irmãos do governador do Paraná está em terra indígena regularizada desde 2011
Ratinho Jr e seu pai Ratinho e Aldeia Caxinauás no Acre (Foto: Reprodução/Facebook | Agência de Notícias do Acre)
Em 25 de abril, deste ano, o governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD),
participou de reunião da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), para
discutir sobre "invasões de propriedades" e o marco temporal para
demarcação de terras indígenas. Na ocasião, Ratinho Jr enalteceu o próprio
mandato, afirmando que "toda terra invadida foi reintegrada".
No
entanto, em outro estado, no Acre, é a família Ratinho que é acusada de
promover invasão de terras. Carlos Roberto Massa, Gabriel Martinez Massa e
Rafael Martinez Massa, pai e irmãos de Ratinho Jr, são sócios na Agropastoril
RGM Ltda, empresa proprietária do latifúndio Gleba Panacre - Parte B, no
município de Taraucá. A fazenda invade os limites da Terra Indígena (TI)
Kaxinawá da Praia do Carapanã, regularizada desde 2001. Os 13,82 hectares da
fazenda sobrepostos à área indígena são, portanto, ilegais.
Os dados foram levantados e checados pelo observatório “De Olho
nos Ruralistas” e constam no dossiê "Os invasores políticos", divulgado
nesta quarta (14). "Ratinho [pai] comprou as glebas em 2002, após pagar
cerca de R$ 330 mil à Companhia Paranaense de Colonização Agropecuária e
Industrial do Acre (Paranacre), empresa apontada como principal promotora de
grilagem na região", explica texto do dossiê.
A fazenda também é vizinha da TI Rio Gregório, que engloba
sete aldeias dos povos Yawanawá, Kaxinawá/Huni Kuin e Katukina-Pano. "Na
região, Ratinho [pai] possui um histórico de conflitos contra as comunidades
indígenas locais — em especial os Yawanawá —, que resistem contra o interesse
do apresentador de estabelecer um grande projeto de exploração de madeira na
Amazônia", aponta o dossiê.
A
família Massa tem fortuna avaliada em R$ 530 milhões e possui 19 fazendas
espalhadas pelo país, investindo principalmente na pecuária e no plantio de
soja, milho e café.
Aliados invasores
O dossiê do observatório “De Olho nos Ruralistas” também aponta
a ligação de aliados políticos de Ratinho Junior à invasão de terras indígenas.
É o caso do sojeiro Celso Frare, proprietário da Fazenda Poncho Verde, em Sete
Quedas (MS), que tem cerca de 951 hectares sobrepostos à TI Sombrerito, do povo
Guarani Nhandeva. Frare também é dono da Fazenda Rancho Eldorado, que tem 282
hectares sobrepostos à TI Iguatemipegua I, do povo Guarani Kaiowá.
Em 2019, o afilhado de Frare, Luciano Schlumberger, foi indicado
para a chefia da Procuradoria Jurídica da Administração dos Portos de Paranaguá
e Antonina (APPA).
O documento aponta como outros aliados da família de Ratinho Jr
os herdeiros do ex-deputado José Carlos Martinez, que controlam a Sapé
Agropecuária. Eles são proprietários da Fazenda Sararé (Área 02), em Conquista
D'Oeste (MT), que invade parte da TI Sararé, do povo Nambikwara, regularizada
em 1985.
Sobre os dados
O dossiê “Os invasores políticos” foi elaborado pelo
observatório "De Olho nos Ruralistas" a partir de informações de
imóveis rurais cadastrados e certificados pelo Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária (Incra). As informações relativas a 2021 foram
confirmadas uma a uma em comparação com os registros fundiários de 2023. Elas
foram obtidas a partir de três bases de dados: o Sistema de Gestão Fundiária
(Sigef), o Sistema Nacional de Cadastro Rural (SNCR) e o Sistema Nacional de
Certificação de Imóveis (SNCI).
FONTE: Lia Bianchini, Brasil de Fato
Nenhum comentário:
Postar um comentário