O jornalista Moisés Mendes denuncia o falso moralismo da Lava Jato, cujos representantes, Moro e Dallagnol, são crias do bolsonarismo
A cena de Deltan Dallagnol com aquele cartaz nas mãos, no dia da filiação ao Podemos, para avisar que “com 300 deputados nós mudamos o país”, é mais do que simplória.
É quase infantil, porque ofende e subestima a
capacidade de discernimento do eleitor. Para Dallagnol, o brasileiro médio só
entende o que o lavajatismo tem a dizer se tiver acesso a um power point ou a
um cartaz.
O cartaz, a pose ao lado de Sergio Moro, as caras
de satisfeitos do par de vasos, o conjunto todo acaba sendo o retrato da
extrema direita que emerge da estrutura do sistema de Justiça para tentar se
apropriar do que condenava.
Em 2003, Lula falava dos 300 picaretas do
Congresso, e Dallagnol teve agora a infelicidade de usar o mesmo número, que
não funciona nem como caricatura boba dos 300 de Esparta.
Dallagnol é na verdade parte dos 30 de Curitiba,
que formavam a força-tarefa montada para caçar empreiteiros que poderiam levar
a Lula.
É a face de uma extrema direita que sai direto de
um plano justiceiro e moralista do serviço público para desfrutar das
imunidades e das mumunhas legalizadas da política, como o salário partidário de
R$ 22 mil de Sergio Moro.
Dallagnol circula com aparente desenvoltura, depois
de ter renunciado ao MP, mesmo que esteja na alça de mira do bolsonarismo,
porque conseguiu driblar todas as acusações do tempo em que atuou como
subordinado de Moro no Ministério Público.
Mas não vai escapar, durante a campanha, das
perguntas que não se esgotaram sobre a fundação de R$ 2,5 bilhões, que quase
foi criada com dinheiro da Petrobras.
Há na postura de Moro e de Dallagnol a certeza de
que o eleitor deles não exige explicações, porque tudo estaria explicado pelos
sinais gráficos rasos emitidos por eles.
Pode funcionar para Dallagnol, que disputará uma
eleição proporcional e atuará na faixa própria do lavajatismo. Mas não funciona
direito para Sergio Moro, em disputa majoritária em que o combate à corrupção
pouco ou nada significa para quem come osso.
Ele mesmo sabe que pode atingir uma rejeição
recorde de quase 65%. Justamente porque poucos ainda acreditam na conversa de
que nóis-não-tem-corrupto-de-estimação.
Moro é chutado para os lados pelas esquerdas e pela
facção da extrema direita de Bolsonaro, que atua na mesma frequência. Fica
claro que não há povo suficiente para abraçar o projeto de Moro.
Passa batido, em meio a tantos números, uma
revelação da pesquisa Quaest: 13% das pessoas não sabem quem é Sergio Moro. E
no entorno desse contingente, dos que sabem mais ou menos, Moro é para muitos
apenas um cara com voz em falsete.
A classe média sabe quem é Sergio Moro, mas essa
classe média assalariada ou autônoma ou empreendedora, há muito sem referências
e sem rumo, não orienta mais os votos de ninguém.
O que se anuncia como possibilidade é que, logo
mais adiante, Moro tire aproveito da exposição acumulada como pré-candidato a
presidente e salte fora. E vá ser candidato a senador ou a deputado ao lado de
Dallagnol.
Moro não ganha nada saindo agora da briga pela vaga
a presidente, porque precisa ficar na vitrine e enganar Merval Pereira por mais
um tempo. Se não encostar em Bolsonaro, até o limite do prazo para decidir,
desce na próxima parada.
E aí pode acontecer, porque tudo pode no Podemos,
de Eduardo Leite ser o cara do partido em 2022. A voz insegura de Moro daria
lugar à voz aveludada de locutor de rádio das madrugadas do tucano gaúcho.
Fica quase tudo na mesma. Leite é tão simplório
quanto Moro e Dallagnol, com suas frases de senso comum que não chegam nem a
serem platitudes.
O candidato na reserva, à espera da contusão de
Moro, é Eduardo Leite, que não conseguirá se livrar da tatuagem bolsonarista de
2018 e da acusação, admitida por ele mesmo, de que tentou (por ordem dos
generais) tirar a CoronaVac de João Doria para entregá-la a Bolsonaro.
Este pode ter sido o pacto entre Moro e Leite,
firmado quando da visita do ex-juiz suspeito a Porto Alegre no dia 4 de dezembro.
Moro vai em frente num Chevette velho com pneu careca, até onde for possível.
Eduardo Leite fica de prontidão. Toda a terceira via é, um pouco mais ou um pouco menos, cria do bolsonarismo. Muda o pneu, mas não muda o Chevette.
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