segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

“AMAR E MUDAR AS COISAS ME INTERESSA MAIS" - Belchior, um GÊNIO ! ! !


“Presentemente eu posso me considerar um sujeito de sorte/Porque apesar de muito moço(IDOSO), me sinto são, salvo e forte”

“Tenho sangrado demais, tenho chorado pra cachorro/Ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro”

“A minha alucinação é suportar o dia a dia/E meu delírio é a experiência com coisas reais”

“Meu bem, o meu lugar é onde você quer que ele seja/Não quero o que a cabeça pensa/Eu quero o que a alma deseja”

 

“Eu quero o corpo (E O COPO), tenho pressa de viver”

“O meu coração selvagem tem (ESSA) pressa de viver”

 “Meu coração é como vidro, como um beijo de novela”

 

“Tenho ouvido muitos discos, conversado com pessoas/Caminhado meu caminho, papo, som, dentro da noite/E não tenho um amigo sequer/Que 'inda acredite nisso não”

 

“Não me peça que eu lhe faça uma canção como se deve/Correta, branca, suave, muito limpa, muito leve/Sons, palavras, são navalhas/E eu não posso cantar como convém...sem querer ferir ninguém”

 

“Mas não se preocupe, meu amigo/Com os horrores que eu lhe digo/Isto é somente uma canção/A vida realmente é diferente/Quer dizer, ao vivo é muito pior”


“Eu quero gozar no seu céu, pode ser no seu inferno/Viver a divina comédia humana onde nada é eterno”

“Enquanto houver espaço, corpo, tempo e algum modo de dizer não, EU CANTO...ora, direis”

 

“Até parece que foi ontem minha mocidade/Com diploma de sofrer de outra Universidade/Minha fala nordestina...quero esquecer o francês”

 

No escritório em que eu trabalho . . . e fico rico/Quanto mais eu multiplico . . . diminui o meu amor”

“John, eu não esqueço (oh, no, oh, no!)/A felicidade é uma arma quente/Quente, quente”

 

“Eu tenho medo de abrir a porta/Que dá pro sertão da minha solidão"

 

“Apertar o botão: cidade morta/Placa torta indicando a contramão”

 

“Faca de ponta e meu punhal que corta/E o fantasma escondido no porão”


“Eu tenho medo e já aconteceu/Eu tenho medo e inda está por vir/Morre o meu medo e isto não é segredo”

“Ei, moço! E eu inda sou bem moço pra tanta tristeza/Deixemos de coisas, cuidemos da vida/Senão chega a morte ou coisa parecida/E nos arrasta moço sem ter visto a vida”

“O que é que pode fazer o homem comum/Neste presente instante senão sangrar"?


“Tentar inaugurar/A vida comovida/Inteiramente livre e triunfante?”

 

“O que é que eu posso fazer/Com a minha juventude/Quando a máxima saúde hoje/É pretender usar a voz?/O que é que eu posso fazer/Um simples cantador das coisas do porão?”

 

“Eu não sou do lugar dos esquecidos!/Não sou da nação dos condenados!/Não sou do sertão dos ofendidos!/Você sabe bem: Conheço o meu lugar!”

 

“Não quero regra nem nada/Tudo tá como o diabo gosta, tá/Já tenho este peso, que me fere as costas/E não vou, eu mesmo, atar minha mão”


“O que transforma o velho no novo/Bendito fruto do povo será/E a única forma que pode ser norma/É nenhuma regra ter”

 

“Eu era alegre como um rio/Um bicho, um bando de pardais/Como um galo, quando havia/Quando havia galos, noites e quintais/Mas veio o tempo negro e, à força, fez comigo/O mal que a força sempre faz”



”Fotografia 3X4”


Eu me lembro muito bem do dia que eu cheguei

Jovem que desce do Norte pra cidade grande

Os pés cansados e feridos de andar légua tirana

De lágrimas nos olhos de ler o Pessoa

E de ver o verde da cana


Em cada esquina que eu passava um guarda me parava

Pedia os meus documentos e depois sorria

Examinando o 3x4 da fotografia

E estranhando o nome do lugar de onde eu vinha


Pois o que pesa no Norte, pela lei da gravidade

Disso Newton já sabia: Cai no Sul, grande cidade

São Paulo violento, corre o Rio que me engana

Copacabana, Zona Norte e os cabarés da Lapa onde eu morei


Mesmo vivendo assim, não me esqueci de amar

Que o homem é pra mulher e o coração pra gente dar

Mas a mulher, a mulher que eu amei

Não pôde me seguir não


Esses casos de família e de dinheiro eu nunca entendi bem

Veloso, o Sol não é tão bonito pra quem vem do Norte e vai viver na rua

A noite fria me ensinou a amar mais o meu dia

E pela dor eu descobri o poder da alegria

E a certeza de que tenho coisas novas

Coisas novas pra dizer


A minha história é talvez

É talvez igual a tua, jovem que desceu do Norte

Que no sul viveu na rua

E que ficou desnorteado, como é comum no seu tempo

E que ficou desapontado, como é comum no seu tempo

E que ficou apaixonado e violento como eu, como você


Eu sou como você

Que me ouve agora

 

 

“E vou viver as coisas novas

Que também são boas;

O amor, humor das praças

Cheias de pessoas;

Agora eu quero tudo, 

Tudo outra vez”


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