“Tenho sangrado demais, tenho chorado pra
cachorro/Ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro”
“O que é que eu posso fazer/Com a minha juventude/Quando
a máxima saúde hoje/É pretender usar a voz?/O que é que eu posso fazer/Um
simples cantador das coisas do porão?”
“Eu não sou do lugar dos esquecidos!/Não sou da
nação dos condenados!/Não sou do sertão dos ofendidos!/Você sabe bem: Conheço o
meu lugar!”
“Não quero regra nem nada/Tudo tá como o diabo
gosta, tá/Já tenho este peso, que me fere as costas/E não vou, eu mesmo, atar
minha mão”
“O que transforma o velho no novo/Bendito fruto
do povo será/E a única forma que pode ser norma/É nenhuma regra ter”
“Eu era alegre como um rio/Um bicho, um bando de
pardais/Como um galo, quando havia/Quando havia galos, noites e quintais/Mas
veio o tempo negro e, à força, fez comigo/O mal que a força sempre faz”
”Fotografia 3X4”
Eu me
lembro muito bem do dia que eu cheguei
Jovem
que desce do Norte pra cidade grande
Os pés
cansados e feridos de andar légua tirana
De
lágrimas nos olhos de ler o Pessoa
E de
ver o verde da cana
Em
cada esquina que eu passava um guarda me parava
Pedia
os meus documentos e depois sorria
Examinando
o 3x4 da fotografia
E
estranhando o nome do lugar de onde eu vinha
Pois o
que pesa no Norte, pela lei da gravidade
Disso
Newton já sabia: Cai no Sul, grande cidade
São
Paulo violento, corre o Rio que me engana
Copacabana,
Zona Norte e os cabarés da Lapa onde eu morei
Mesmo
vivendo assim, não me esqueci de amar
Que o
homem é pra mulher e o coração pra gente dar
Mas a
mulher, a mulher que eu amei
Não
pôde me seguir não
Esses
casos de família e de dinheiro eu nunca entendi bem
Veloso,
o Sol não é tão bonito pra quem vem do Norte e vai viver na rua
A
noite fria me ensinou a amar mais o meu dia
E pela
dor eu descobri o poder da alegria
E a
certeza de que tenho coisas novas
Coisas
novas pra dizer
A
minha história é talvez
É
talvez igual a tua, jovem que desceu do Norte
Que no
sul viveu na rua
E que
ficou desnorteado, como é comum no seu tempo
E que
ficou desapontado, como é comum no seu tempo
E que
ficou apaixonado e violento como eu, como você
Eu sou
como você
Que me
ouve agora
“E
vou viver as coisas novas
Que
também são boas;
O
amor, humor das praças
Cheias
de pessoas;
Agora eu quero tudo,
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