Uma franca carta de Natal aos partidos de oposição:
Uma carta aos líderes da oposição no Brasil!
Para Lula, Ciro, Dino, Marina, Boulos (e a
quem mais possa, menos Huck, Dória, Mandetta, Maia, Moro, Marinhos, Frias,
Mesquitas, os da direita e meia direita, do centro e centrões et alia)
Senhoras e Senhores.
A generosidade do Mino abre-me espaço para que escreva esta carta. Às vésperas
dos 80 anos, ele me concede privilégio de criança: uma carta de Natal. Mais que
pedir, faço perguntas:
Todos os
gatos são pardos?
Parece que a conversa de alguns de nós está
mudando de andar. Sobe às coberturas e não se fala mais em reunir os
deserdados, os trabalhadores, os assalariados e profissionais das classes
médias, os pequenos e médios empresários, o capital produtivo nacional, os
interesses desvinculados do império e do capital financeiro. Agora, todos cabem
no mesmo saco, é isso? As cores dissolvem-se, não se distinguem e a frente,
antes nacional, democrática e popular, passa a acolher toda sorte de
arrivistas? Quer dizer que a direita e as suas vertentes centristas também cabem
em uma frente democrática? Mas, desde quando a direita se converteu à
supremacia dos interesses nacionais, populares e democráticos?
Os carros devem se adiantar aos bois?
Por que até agora não nos reunimos para que
cada um expusesse o que pensa, fizéssemos a análise concreta da situação
concreta, examinássemos o que nos une e o que nos distancia para, então,
intentar um programa mínimo comum, oferecendo aos brasileiros uma saída desse
atoleiro político, econômico, moral e sanitário? Por que a insistência em botar
os carros na estrada sem antes convocar quem os puxe? Ou fazemos isso de caso
pensado, por que sem um programa mínimo comum fica mais fácil dissimular
intenções e esconder aliados? (Ou antes alguns precisam consultar o Biden e a
sua vice, a honorável senhora Kamala?)
Candidato
próprio ou direito ao erro próprio?
De duas, uma: ou somos incorrigivelmente
irresponsáveis ou essa conversa de frente das oposições ou de esquerda, seja o
que for, não passa de um divertimento para enganar os trouxas de sempre, os
brasileiros.
Primeiro caso: é isso mesmo, faz parte de nosso evangelho: onde estiverem dois
ou três reunidos, aí estarei eu no meio deles para dividi-los. A solidariedade,
a irmandade, a união são para os fracos; na verdade, apreciamos uma boa
pancadaria, um frege arretado, uma daquelas arruaças em que se permite até
botar a mãe no meio.
Segundo caso: é isso mesmo, agitamos a bandeira da unidade não para firmá-la, e
sim para livrar a nossa cara e garantir o direito ao próprio erro (ou
candidatura).
O amor e a fraternidade perderam a validade?
Há 30 anos ouvia-se: vamos acabar com os
partidos comunistas porque o mundo em que eles foram criados acabou. Hoje,
dizem: vamos acabar com o PT porque o mundo em que ele foi criado está indo
embora. Se, lá atrás o PCB errou e, agora, errou o PT, quem tinha e quem tem
compromissos com os erros deles? Na verdade, assim como queriam cancelar a
utopia de uma terra sem amos, pretendem agora extinguir não um partido e sim o
propósito de se extirpar uma sociedade empestada pela desigualdade, pela
pobreza, pela fome, pela injustiça, pela violência classista, pelo racismo,
pela crueldade e insensatez de uma das mais infames, iletradas e estúpidas das
elites terrenas, a brasileira.
Envelhecemos e apenas os safos não têm
idade?
Diz-se (até mesmo entre nós) que tudo
caduca, defasa-se: empresas públicas, direitos trabalhistas, previdência
social, três refeições diárias, luta de classes, imperialismo, Estado de
Bem-Estar Social, soberania nacional. E que os teimosos, os sectários, os
intransigentes que defendem essas velharias também mofaram e devem sair de
cena. Teria razão Nelson Rodrigues e seu conselho aos jovens espertos?
Por que tudo tem que ser a curto prazo?
Pensar dói?
Temos a mania do curto prazo, da duração
limitada, do voo de galinha. Macroeconomia de curto prazo, política de curto
prazo, jurisprudência de curto prazo, compromissos de curto prazo, caráter com
validade estampada no fundo da lata. Pensar, planejar, descortinar o país a
médio e a longo prazos, fixar objetivos e metas são exercícios excessivos,
doem? Ou os apresentadores e os assistentes de palco não precisam pensar, que
tudo já foi mastigado e basta que leiam o teleprompter? E por que se omitem
diante das únicas coisas a fazer a curto e imediato prazo, como a revogação dos
tetos de gastos, a restituição dos direitos trabalhistas e previdenciários, o
cancelamento das privatizações e das medidas de alienação da soberania
nacional? Ou isso é passado e que passou, passou e não se fala mais nisso?
Qual a de maior devoção: a vela a Deus ou ao
diabo?
De novo, a minha idade e a minha ortodoxia
veem-se em choque: quer dizer que agora pode-se acender velas a Deus e ao seu
antípoda, simultaneamente? E qual delas deve ser maior e acesa com mais
devoção? O culto ao Banco Central independente e a conta remunerada dos bancos,
v.g. (vejam como sou tão antigo), são compatíveis com o ideal da prevalência do
capital produtivo sobre a especulação financeira? Por que, pressurosos, os
nossos candidatos buscam sempre o nihil obstat do mercado? E, depois, se
apostatam, suspiramos, oh!….
Pergunta em linha reta:
Há gente neste mundo ou são todos
semideuses?
PS
Para terminar, assinarei: do sempre, sempre vosso, Roberto Requião.
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