O GAROTO DE PROGRAMA
por Alberto Rostand Lanverly
Dias atrás Jesualdo ligou contando que presenteara seu neto primogênito com um celular, mas que o equipamento apresentou defeito, mesmo antes de ser usado.
Imediatamente
levado à concessionaria, o atendimento foi realizado por uma Jovem, cabelos
aloirados, que demonstrava, claramente, haver colocado o sorriso na poupança e
naquele instante deveria estar à espera que o mesmo rendesse um pouco, para
poder gastar com os clientes que a procuravam.
Após
a verificação da nota fiscal, a sisuda recepcionista retirou-se por uns
instantes, retornando, com a mesma frieza, informando, “Tudo certo, o celular
vai ficar”.
Interessado
em descobrir o motivo técnico que ocasionara tal fato, Jesualdo perguntou qual
o defeito constatado, recebendo a seca resposta: “é problema com a placa de
dados, quando tivermos notícias lhe ligaremos”. Imediatamente, olhando para o
lado disse: “o próximo!”.
Jesualdo,
insistiu: “um momento, minha jovem, quanto tempo terei que esperar por tal
ligação?”. Esta, já sem olhar para seus olhos, falou que, no mínimo, trinta
dias.
Sem
alterar a voz, o cliente disse: “Senhorita, sabe quem sou eu, sabe com quem
está falando?” Ela, como que imaginando tratar-se de uma autoridade, olhou-o
novamente e ouviu-o dizer; “Eu sou um prostituto. Um garoto de programa… vendo
o corpo.”
Esse
celular é meu escritório, continuou Jesualdo; através dele marco meus
compromissos; você está querendo me tirar do mercado? Imagine, um mês sem
atender os meus clientes. Com essa idade, quase sessentão, jamais retomaria o
ritmo de trabalho e recuperaria a minha praça!
Você
tem alguma coisa contra coroas que vendem o corpo? Como pode, simplesmente, me
mandar embora, me dando um prazo mínimo de trinta dias de espera, para ter
novamente algo que é meu e que se encontra em garantia? Só saio daqui, falando.
Pode ser por intermédio de qualquer equipamento, mas com um celular para
comunicar”
A
bela atendente, como que assustada, retirou-se do ambiente por uns instantes e,
ao retornar, o fez acompanhada pelo proprietário, velho conhecido de Jesualdo,
Advogado como ele, que após abraçá-lo, perguntou se o mesmo estava louco, pois
tinha deixado sua funcionária atônita e encabulada.
De
maneira alguma, ela foi sempre respeitada e bem tratada, desmiolado seria se a
tivesse agredido verbalmente, respondeu Jesualdo.
Ao
sair da loja, com um outro celular, já habilitado, que ficou sob sua
responsabilidade por quase sessenta dias, tempo que durou a permanência do
equipamento na concessionária, trazia mais uma certeza: Tratar bem ao próximo é
dever de todos, até porque, sem exceção, as pessoas anseiam por atenção ao
buscarem informações sobre algo ou alguém.
Não
se sabe, até hoje, se a jovem bela e loira, que manteve tal contato com o
Jesualdo, acreditou realmente que ele fosse um garoto de programa. E se,
acreditando, teria telefonado para o “coroa enxuto”, marcando um encontro para
testar seus serviços e habilidades. Mas, que a história funcionou, funcionou!
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