Fui privado de
conviver diariamente com meus filhos e minha filha, meus netos e netas, minha
bisneta, meus amigos e companheiros. Mas não tenho dúvida de que me puseram
aqui para me impedir de conviver com minha grande família: o povo brasileiro.
Isso é o que mais me angustia, pois sei que, do lado de fora, a cada dia mais e
mais famílias voltam a viver nas ruas, abandonadas pelo estado que deveria
protegê-las.
De onde me encontro,
quero renovar a mensagem de fé no Brasil e em nosso povo. Juntos, soubemos
superar momentos difíceis, graves crises econômicas, políticas e sociais.
Juntos, no meu governo, vencemos a fome, o desemprego, a recessão, as enormes
pressões do capital internacional e de seus representantes no País. Juntos,
reduzimos a secular doença da desigualdade social que marcou a formação
do Brasil: o genocídio dos indígenas, a escravidão dos negros e a exploração
dos trabalhadores da cidade e do campo.
Combatemos sem
tréguas as injustiças. De cabeça erguida, chegamos a ser considerados o povo
mais otimista do mundo. Aprofundamos nossa democracia e por isso conquistamos
protagonismo internacional, com a criação da Unasul, da Celac, dos BRICS e a
nossa relação solidária com os países africanos. Nossa voz foi ouvida no G-8 e
nos mais importantes fóruns mundiais.
Tenho certeza que
podemos reconstruir este País e voltar a sonhar com uma grande nação. Isso é o
que me anima a seguir lutando.
Não posso me conformar com
o sofrimento dos mais pobres e o castigo que está se abatendo sobre a nossa
classe trabalhadora, assim como não me conformo com minha situação.
Os que me acusaram na Lava
Jato sabem que mentiram, pois nunca fui dono, nunca tive a posse, nunca passei
uma noite no tal apartamento do Guarujá. Os que me condenaram, Sérgio Moro e os
desembargadores do TRF-4, sabem que armaram uma farsa judicial para me prender,
pois demonstrei minha inocência no processo e eles não conseguiram apresentar a
prova do crime de que me acusam.
Até hoje me pergunto:
onde está a prova?
Não fui tratado pelos
procuradores da Lava Jato, por Moro e pelo TRF-4 como um cidadão igual aos
demais. Fui tratado sempre como inimigo.
Não cultivo ódio ou rancor,
mas duvido que meus algozes possam dormir com a consciência tranquila.
Contra todas as injustiças,
tenho o direito constitucional de recorrer em liberdade, mas esse direito me
tem sido negado, até agora, pelo único motivo de que me chamo Luiz Inácio Lula
da Silva.
Por isso me considero um
preso político em meu país.
Quando ficou claro que iriam
me prender à força, sem crime nem provas, decidi ficar no Brasil e enfrentar
meus algozes. Sei do meu lugar na história e sei qual é o lugar reservado aos
que hoje me perseguem. Tenho certeza de que a Justiça fará prevalecer a
verdade.
Nas caravanas que fiz
recentemente pelo Brasil, vi a esperança nos olhos das pessoas. E também vi a
angústia de quem está sofrendo com a volta da fome e do desemprego, a
desnutrição, o abandono escolar, os direitos roubados aos trabalhadores, a
destruição das políticas de inclusão social constitucionalmente garantidas e
agora negadas na prática.
É para acabar com o
sofrimento do povo que sou novamente candidato à Presidência da
República.
Assumo esta missão porque
tenho uma grande responsabilidade com o Brasil e porque os brasileiros têm o
direito de votar livremente num projeto de país mais solidário, mais justo e
soberano, perseverando no projeto de integração latino-americana.
Sou candidato porque
acredito, sinceramente, que a Justiça Eleitoral manterá a coerência com seus
precedentes de jurisprudência, desde 2002, não se curvando à chantagem da
exceção só para ferir meu direito e o direito dos eleitores de votar em quem
melhor os representa.
Tive muitas candidaturas em
minha trajetória, mas esta é diferente: é o compromisso da minha vida. Quem
teve o privilégio de ver o Brasil avançar em benefício dos mais pobres, depois
de séculos de exclusão e abandono, não pode se omitir na hora mais difícil para
a nossa gente.
Temos o direito de sonhar
novamente, depois do pesadelo que nos foi imposto pelo golpe de 2016.
Mentiram para derrubar a
presidenta Dilma Rousseff, legitimamente eleita. Mentiram que o país iria
melhorar se o PT saísse do governo; que haveria mais empregos e mais
desenvolvimento. Mentiram para impor o programa derrotado nas urnas em 2014.
Mentiram para destruir o projeto de erradicação da miséria que colocamos em
curso a partir do meu governo. Mentiram para entregar as riquezas nacionais e
favorecer os detentores do poder econômico e financeiro, numa escandalosa
traição à vontade do povo, manifestada em 2002, 2006, 2010 e 2014, de modo
claro e inequívoco.
Está chegando a hora da
verdade.
Quero ser presidente do
Brasil novamente porque já provei que é possível construir um Brasil melhor
para o nosso povo. Provamos que o País pode crescer, em benefício de todos,
quando o governo coloca os trabalhadores e os mais pobres no centro das
atenções, e não se torna escravo dos interesses dos ricos e poderosos. E
provamos que somente a inclusão de milhões de pobres pode fazer a economia
crescer e se recuperar.
Governamos para o
povo e não para o mercado. É o contrário do que faz o governo dos nossos
adversários, a serviço dos financistas e das multinacionais, que suprimiu
direitos históricos dos trabalhadores, reduziu o salário real, cortou os
investimentos em saúde e educação e está destruindo programas como o Bolsa
Família, o Minha Casa Minha Vida, o Pronaf, Luz Pra Todos, Prouni e Fies, entre
tantas ações voltadas para a justiça social.
Sonho ser presidente
do Brasil para acabar com o sofrimento de quem não tem mais dinheiro para
comprar o botijão de gás, que voltou a usar a lenha para cozinhar ou, pior
ainda, usam álcool e se tornam vítimas de graves acidentes e queimaduras. Este
é um dos mais cruéis retrocessos provocados pela política de destruição da
Petrobrás e da soberania nacional, conduzida pelos entreguistas do PSDB que
apoiaram o golpe de 2016.
A Petrobrás não foi criada
para gerar ganhos para os especuladores de Wall Street, em Nova Iorque, mas
para garantir a autossuficiência de petróleo no Brasil, a preços compatíveis
com a economia popular. A Petrobrás tem de voltar a ser brasileira. Podem estar
certos que nós vamos acabar com essa história de vender seus ativos. Ela não será
mais refém das multinacionais do petróleo. Voltará a exercer papel estratégico
no desenvolvimento do País, inclusive no direcionamento dos recursos do pré-sal
para a educação, nosso passaporte para o futuro.
Podem estar certos
também de que impediremos a privatização da Eletrobrás, do Banco do Brasil e da
Caixa, o esvaziamento do BNDES e de todos os instrumentos de que o País dispõe
para promover o desenvolvimento e o bem-estar social.
Sonho ser o presidente de
um País em que o julgador preste mais atenção à Constituição e menos às
manchetes dos jornais.
Em que o estado de direito
seja a regra, sem medidas de exceção.
Sonho com um país em que a
democracia prevaleça sobre o arbítrio, o monopólio da mídia, o preconceito e a
discriminação.
Sonho ser o
presidente de um País em que todos tenham direitos e ninguém tenha
privilégios.
Um País em que todos
possam fazer novamente três refeições por dia; em que as crianças possam
frequentar a escola, em que todos tenham direito ao trabalho com salário digno
e proteção da lei. Um país em que todo trabalhador rural volte a ter acesso à
terra para produzir, com financiamento e assistência técnica.
Um país em que as
pessoas voltem a ter confiança no presente e esperança no futuro. E que por
isso mesmo volte a ser respeitado internacionalmente, volte a promover a
integração latino-americana e a cooperação com a África, e que exerça uma
posição soberana nos diálogos internacionais sobre o comércio e o meio
ambiente, pela paz e a amizade entre os povos.
Nós sabemos qual é o
caminho para concretizar esses sonhos. Hoje ele passa pela realização de
eleições livres e democráticas, com a participação de todas as forças
políticas, sem regras de exceção para impedir apenas determinado
candidato.
Só assim teremos um governo
com legitimidade para enfrentar os grandes desafios, que poderá dialogar com
todos os setores da nação respaldado pelo voto popular. É a esta missão que me
proponho ao aceitar a candidatura presidencial pelo Partido dos Trabalhadores.
Já mostramos que é possível
fazer um governo de pacificação nacional, em que o Brasil caminhe ao encontro
dos brasileiros, especialmente dos mais pobres e dos trabalhadores.
Fiz um governo em que os
pobres foram incluídos no orçamento da União, com mais distribuição de renda e
menos fome; com mais saúde e menos mortalidade infantil; com mais respeito e
afirmação dos direitos das mulheres, dos negros e à diversidade, e com menos
violência; com mais educação em todos os níveis e menos crianças fora da
escola; com mais acesso às universidades e ao ensino técnico e menos jovens
excluídos do futuro; com mais habitação popular e menos conflitos de ocupações
nas cidades; com mais assentamentos e distribuição de terras e menos conflitos
de ocupações no campo; com mais respeito às populações indígenas e quilombolas,
com mais ganhos salariais e garantia dos direitos dos trabalhadores, com mais
diálogo com os sindicatos, movimentos sociais e organizações empresarias e
menos conflitos sociais.
Foi um tempo de paz e
prosperidade, como nunca antes tivemos na história.
Acredito, do fundo do
coração, que o Brasil pode voltar a ser feliz. E pode avançar muito mais do que
conquistamos juntos, quando o governo era do povo.
Para alcançar este
objetivo, temos de unir as forças democráticas de todo o Brasil, respeitando a
autonomia dos partidos e dos movimentos, mas sempre tendo como referência um
projeto de País mais solidário e mais justo, que resgate a dignidade e a
esperança da nossa gente sofrida. Tenho certeza de que estaremos juntos ao
final da caminhada.
Daqui onde estou, com
a solidariedade e as energias que vêm de todos os cantos do Brasil e do mundo,
posso assegurar que continuarei trabalhando para transformar nossos sonhos em
realidade. E assim vou me preparando, com fé em Deus e muita confiança, para o
dia do reencontro com o querido povo brasileiro.
E esse reencontro só
não ocorrerá se a vida me faltar.
Até breve, minha
gente
Viva o Brasil! Viva a
Democracia! Viva o Povo Brasileiro!
Curitiba, 8 de junho de 2018
Luiz Inácio Lula da Silva
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