A burguesia rejeita Dilma?
Sim, o ambiente econômico é grande eleitor, mas é a mídia que se empenha para alimentar o ódio
por Mauricio Dias — publicado neste sábado (05/07/2014) 08:31
Um possível clima de ódio, nascido de decisões da presidenta, rejeitadas
por parte do empresariado, é refletido na mídia.
Em longo e consistente artigo para a revista trimestral Inteligência,
em circulação na próxima semana, o historiador João Bettencourt e o jornalista
Luiz Cesar Faro tentam decifrar o que identificaram como “indiscreto ódio da
burguesia” à presidenta Dilma Rousseff.
O esforço inédito joga luz forte sobre esse “desamor” entre as partes.
Os articulistas mergulham fundo nas relações conflitadas entre um lado e o
outro e emergem com uma pergunta: “Tem culpa ela?” A resposta é não, dizem os
autores do estudo.
Dilma, segundo eles, “deslulou a governança”, embora tenha mantido e aprofundado
os ganhos sociais promovidos pelo antecessor. Esta seria a origem, ou uma
delas, dessa desavença. Consideram que a burguesia, preconceituosamente,
odiaria Dilma “devido ao seu intervencionismo, sua inaptidão ao diálogo e,
quiçá, seu simples jeito de ser”.
“A redução na marra das tarifas cobradas pelo suprimento de energia
elétrica é emblemática”, apontam Bettencourt e Faro, entre tantos outros
exemplos recolhidos ao longo da pesquisa sobre o confronto.
Há, no entanto, fatores que deveriam contrabalançar eventuais desgostos
provocados por decisões monocráticas da presidenta. Eis um deles que também
figura em rol imenso. Dados recentíssimos da Fipecafi, fundação ligada à
Universidade de São Paulo, por exemplo, mostram que, entre 2012 e 2013, os lucros
das 500 maiores empresas do País cresceram 39,3 bilhões de dólares. Isso traduz
alta de 24% em relação ao ano anterior.
Mas a história desse conflito estaria agora se preparando para
desembarcar nas urnas. Dúvida? O ex-ministro Delfim Netto, em variadas ocasiões,
tem reafirmado a certeza “de que o ambiente econômico é um grande
eleitor”. “Delfim não chega a concordar com a hipótese de um ‘golpe
branco pela economia’, mas afirma que o humor da burguesia conta, sim, nas
eleições”, dizem os autores.
Como isso se dá? De acordo com Delfim, forma-se
“um clima de hostilidade, um ambiente de negócios que o governo se esforça em
negar, mas que existe e que influiu de forma importante para a redução nos
investimentos e agora impacta também o consumo”.
Bettencourt e Faro se remetem a uma frase de Lula: “O mau humor do
empresariado não está deixando a economia andar”.
Impulsionaria esse mau humor um projetado confronto eleitoral: “Se o PT
tem a sua militância e o voto da inclusão social, a burguesia tem o controle
absoluto da mídia”, deduzem os analistas. E apontam:
“A cólera burguesa é mais visível estampada nas bancas de jornal e
vocalizada nos programas de tevê. Em jornais e revistas analisados nos últimos
573 dias, somente 9% do noticiário econômico foi favorável, mesmo assim
ligeiramente, ao governo Dilma – nessa contabilidade não foram levados em
consideração os artigos do corpo editorial ou de articulistas convidados”.
Para João Bettencourt e Luiz Cesar Faro não há dúvidas: “A mídia
comprou um lado e está sitiando, sim, a presidenta, o PT e o seu entorno. E é
no cerne da imprensa que o ódio viceja; porque, se por um lado não são
reconhecidos avanços, por outro são exacerbadas as críticas. O oligopólio da
mídia não gosta de Dilma, e ponto final”.
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