A toga, vestuário que simboliza a magistratura, desde os romanos, lhe cabe ou lhe deixa, presume-se, confortável, quando sai das acomodações luxuosas do Tribunal de Justiça (TJ) e vai ao encontro da população em situação de rua
desembargador Tutmés Airan | Ascom TJ/AL
Por Geraldo de Majella
O desembargador Tutmés Airan (Arapiraca-AL, 1962) foi registrado em cartório e batizado, na Igreja Católica, com nome que remete à XVIII Dinastia egípcia de Tutmés I (1520 a.C. a 1492 a.C.). Essa referência não lhe subiu à cabeça.
Os faraós eram os reis do Egito Antigo. Detinham, em suas mãos, poderes
absolutos na sociedade, decidindo sobre a vida política, religiosa, econômica e
militar. O detalhe, nada irrelevante, na civilização egípcia: os faraós eram
considerados deuses vivos.
No entanto, o arapiraquense torcedor do ASA e do glorioso Botafogo-RJ
não tem qualquer ligação ou inspiração que seja com os faraós.
O desembargador Tutmés Airan, como é do conhecimento público, foi um
ativo militante do movimento estudantil e, também, faz parte da geração que
fundou o Partido dos Trabalhadores (PT) em Alagoas. Essas credenciais são
relevantes na construção da sua biografia como político que foi, e como jurista
e acadêmico que é.
A toga, vestuário que simboliza a magistratura, desde os romanos, lhe
cabe ou lhe deixa, presume-se, confortável, quando sai das acomodações luxuosas
do Tribunal de Justiça (TJ) e vai ao encontro da população em situação de rua.
É quase uma pregação religiosa o desembargador falar com essa gente, nossos
irmãos e irmãs, que se encontram numa situação degradante da condição humana.
Nas ruas, são violentados, passam fome e, obviamente, numa sociedade tão
excludente são invisibilizados.
A mensagem que o desembargador Tutmés Airan passa, com a sua atitude, é
de que a luta pelos direitos humanos simboliza a fraternidade do cidadão
individualmente e, também, mais fortemente, o chamamento do Estado para a
implantação de políticas públicas que protejam os vulneráveis.
Os magistrados, entre os funcionários públicos, são os que cumprem uma
função fundamental na democracia, a de julgar os cidadãos, fazendo valer a
justiça. Essa possibilidade somente é factível nas democracias, em nenhum outro
regime político é possível. Daí, o olhar humano sobre os pobres, os vulneráveis,
os espoliados deve, ou teria de ser, a visão dos magistrados.
Não sou desse que cultuam divindades ou vive a procura de heróis.
Reservo-me ao direito de expressar publicamente o que sinto e gostaria que
fosse a regra e não a exceção.
O desembargador Tutmés Airan é um ponto fora da curva, tenho certeza,
mas o facho de luz que tem acendido merece ser abraçado pela sociedade
alagoana. Quando a luz se apaga o que emerge são as trevas.
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