THOMAS DE TOLEDO
Quem acompanha meu trabalho há vários anos sabe porque tenho um
envolvimento com este tema da Ucrânia e Rússia. Quando aconteceu o golpe de
estado em 2014 na Ucrânia, eu participava do Conselho Mundial da Paz e da
articulação da juventude do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do
Sul). Na ocasião, recordo-me de algo que me dói no fundo da alma até hoje.
Jamais esquecerei do depoimento de um líder sindical de Lugansk contando no
Congresso da Federação Sindical Mundial os crimes do governo ucraniano em sua
república. Mas nada se compara à dor que foi ter acompanhado quase em tempo
real o massacre de Odessa. Eram centenas de trabalhadores voltando do protesto
do 1o de maio, dia do trabalhador, que se reuniram na Casa dos Sindicatos para
um ágape fraternal. Só que de forma organizada, um grupo de mais de mil
nazistas ucranianos com bandeiras de suásticas, tochas e gritando "Heil
Hitler!" cercou a *Casa dos Sindicatos e começou a incendiá-la.* Pareciam
voltados das catacumbas de 70 anos atrás, sem que ninguém esperasse. *Havia
cerca de 250 sindicalistas lá dentro do prédio e os nazistas não os deixaram
sair. Foram inúmeras mortes de pessoas carbonizadas.* Outras foram agredidas e
mortas por espancamento. No dia seguinte, os nazistas divulgaram memes fazendo
piadas das fotos dos sindicalistas mortos. Não houve condenação por parte dos
Estados Unidos, Reino Unido e União Europeia. Esse massacre não entrou na
primeira página do Estadão nem teve editorial na Globo. Nem a Rússia interviu
em Odessa. Trabalhadores jogados à própria sorte, traídos pelo seu próprio país
e ignorados pelo mundo, recebendo apenas a solidariedade de outros
trabalhadores internacionais. Aí, o que aconteceu na Ucrânia desde então? Os
partidos de esquerda foram proibidos. Nazistas invadiram-nos queimando seus
livros e violentando suas secretárias. Os sindicatos foram fechados e seus
líderes perseguidos por esses nazistas. Os nazistas participaram das eleições e
fizeram bancadas. A esquerda está fora da institucionalidade desde 2014. Seus partidos
foram proibidos de existir e seus símbolos criminalizados. Ou seja, a UCRÂNIA
NÃO É UMA DEMOCRACIA. Aí, esse tal de Zelensky foi fabricado nos porões dos
serviços de inteligência ocidentais para ser uma marionete dos interesses da
indústria bélica. Foi colocado no poder com um discurso de extrema-direita para
transformar o seu próprio país num palco de guerra, provocando a Rússia até
chegar à situação atual. Agora, simplesmente ignoram que de 2014 pra cá, o
governo Ucrânia já matou 14 mil pessoas em Donetsk e Lugansk. Nunca mais tive
notícias daquele dirigente que conheci na Federação Sindical Mundial. Será que
está vivo? Também conheci russas da região de Donbass. Nunca mais consegui
falar com elas. Será que ainda habitam o mundo dos vivos? Bom, é isso. Não
virei "analista de rede social" em uma semana. Este tema faz parte da
minha trajetória de vida como professor de Relações Internacionais. Inclusive
orientei monografias e fiz simulação da ONU com meus alunos da época. Havia
decidido sair das redes sociais, mas essa situação me fez voltar. Não vou mais
me calar vendo tanta gente falando bobagem sem saber. Tá na hora de mostrar o
que de fato acontece. Vim pra ficar.
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