*Nota de repúdio à fala do Bispo Dom Valério Breda*
“Precisamos de profetas”
“A facada quando não mata, elege”.
Assim, o então responsável por guiar o Povo de Deus da Diocese de
Penedo, Dom Valério Breda, vai concluindo uma Celebração Eucarística em São
Miguel dos Campos/AL¹. Após o partir do Pão, com Cristo comungado, o Bispo faz
referências ao candidato mais polêmico das eleições à presidência do Brasil de
2018.
O candidato é polêmico, especialmente, por incitar discursos de ódio e
violência. Como também se torna polêmica a postura de Dom Valério, que é
uma grande contradição e grave atentado aos ensinamentos do Cristo, que amor e
paz pregava. Vale lembrar e salientar aqui o tema da Campanha da Fraternidade
deste ano: "fraternidade e superação da violência", organizada pela
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Será que poderíamos questionar a fala e posicionamento do Pastor da
Diocese? Nós “meras ovelhas?!”. Não só podemos, como apontamos a pertinência
dessa ação. Como Leigas e Leigos, batizados, temos o dever e o aconselhamento
da Igreja para nos posicionarmos nas questões políticas, nas temáticas sociais
em que estamos diretamente envolvidos.
Posicionar-se politicamente não é necessariamente a questão, mas qual a
posição que Dom Valério toma ao mostrar apoio a tal candidato? Está mesmo ele a
favor do povo e da nação brasileira? O que propõem o tal candidato? São
propostas que trazem dignidade, que podem aumentar o bem-estar de todas e todos
nós?
Somos nós, povo brasileiro e povo penedense quem carregamos as dores do
histórico desse país e de nossa terra nas costas. Nosso Bispo fala de nação,
mas não se criou nesse chão. Seu padrão de vida não muda com as mudanças de
governo como muda o nosso. Ele não sabe o que o povo sofre, porque não
vivenciou nossas dores, tampouco parece estar próximo do “seu povo” pra ver de
perto como este padece. Sua baixa popularidade nos sugere isso.
Ele tem todos os privilégios. Quem será que passa sua roupa e que faz
sua comida? Provavelmente uma mulher pobre, que, ao ver do tal candidato, deve
ganhar menos que os homens no emprego. São essas mesmas mulheres a maioria das
ovelhas da Igreja. Somos uma Igreja sustentada por mulheres e seu Pastor não
consegue olhar para suas realidades e perspectivas. Não merecemos ganhar o
sustento de nossas vidas e famílias em pé de igualdade?
De onde vem o dinheiro que sustenta a casa, alimentação e demais
privilégios de nosso Bispo? Esse dinheiro vem do povo nordestino que labuta e
entrega a Deus clamando e acreditando em sua misericórdia. Nordestinos que
também não são bem quistos pelo candidato à presidência.
Penedo, terra de pescadoras e pescadores, de quilombolas, agricultoras e
agricultores, de minorias. Minorias? Sim, repetidamente desvalorizadas, pesadas
“em arroba” e sem direito a “nem mais 1cm de terra”. Diversidade de crença?
Sexualidade? Tudo reduzido ao discurso baseado em concepções históricas
ultrapassadas, desconectadas das nossas formas de abordar temáticas, da
realidade que vitimiza milhares de pessoas, inclusive, valendo-se de crenças
religiosas ditas “cristãs”, tão distantes daquilo que entendemos e vivemos em
nossas comunidades, com experiências concretas e testemunhais de tanto Amor.
Afinal, qual propósito de Nação que ele sugere ao nosso país ao fazer
menção ao candidato que defende o livre porte de armas? Que não apresenta
propostas para o desenvolvimento do povo brasileiro? Um candidato que não é
novo na política, e em diversos mandatos parlamentares não apresentou propostas
que melhorassem a vida da população brasileira.
Esses questionamentos nos servem para que não esqueçamos o chão em que
pisamos e de que povo estamos falando, para pensar qual projeto de Nação nos
cabe. Isso no debate político da questão.
No tocante à Diocese, para além da postura apontada, recordamos -
trazemos novamente ao coração - a realidade local vivida. Amada e sofrida, seio
da nossa experiência de fé. O que nos dizem tantas outras falas do nosso Bispo?
O que os irmãos e irmãs pensam das reflexões nas homilias?
Honestamente, o que vemos na realidade local são decisões pastorais e
políticas que comprometem nossa caminhada de fé, nossa realidade eclesial e
social. Portanto, observamos que sua fala é sintomática! Retrato do péssimo
espaço formativo, dos escândalos recorrentes, da desvalorização,
qualitativamente e quantitativamente, das pastorais sociais e de juventudes.
É devido a conjuntura, diante desse ápice, reconhecidamente apavorados e
apavoradas, que precisamos refletir também nós se estamos nos esforçando em ser
“Sal da Terra e Luz do Mundo”. Cada pastoral, cada organismo, cada grupo, cada
cristão e cristã.
Assumir posicionamentos exige uma reflexão profunda, comprometida com a
vida e dignidade, especialmente vindo de uma liderança de nossa Igreja. Ter o
microfone e o poder em mãos influência muitas opiniões. Por isso, repudiamos
tal postura, entre tantas outras já tomadas, pois retrata um descompromisso
social, e mesmo espiritual, para com o povo, mesma postura, inclusive assumida
pelos políticos.
“”O Senhor esteja convosco. Ele está no meio de nós”
Por fim, recordamos a importância desta nota de repúdio, somada a tantas
outras, feita por nós leigos e leigas, povo de Deus. Na certeza de que cabe a
cada um de nós confiar que Ele, “estando em nosso meio”, nos encoraja na
dinâmica do anúncio e denúncia. E é neste sentido que mais do que palestrantes
e debatedores, conclamamos todas e todos a serem “testemunhas da verdade, da
vida, de uma vida sóbria e partilhada, profética e solidária. Precisamos de
profetas”.
Assista o vídeo:
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