"Confesso que chorei. Quando vi a destruição do plenário do Supremo Tribunal, não pude conter as lágrimas. Aquela Tribuna sagrada que ocupei tantas vezes, em nome da liberdade e da democracia, usurpada por bárbaros. Quando vi as cenas daqueles energúmenos se vangloriando da invasão vil, eu entendi, de maneira definitiva, a força deletéria da mensagem de ódio e de violência inoculada nesses idiotas pelo chefe deles, o ultradireitista Jair Bolsonaro"
Imagem: Ton Molina/Fotoarena/Estadão Conteúdo
O país só será pacificado com a condenação
desse líder fascista e deletério. Vamos dar a ele todos os direitos
constitucionais, inclusive o direito de só ser preso definitivamente após o
trânsito em julgado da sentença condenatória. Digo definitivamente, porque, se
ele insistir em promover atos insurrecionais, estarão presentes os requisitos
para uma prisão cautelar
A invasão das sedes dos Três Poderes comprova
o que tenho escrito há meses: Bolsonaro sempre intentou uma ruptura
institucional. Só não conseguiu quando era presidente por não ter nenhum
prestígio junto à intelectualidade das Forças Armadas. Qualquer pessoa com
razoável descortino racional tem solene desprezo por esse ser escatológico. E
nossos chefes militares são, em regra, preparados intelectualmente. Bolsonaro
nunca teve o respeito que seria natural como comandante em chefe
É necessário olhar com a acuidade os fatos
graves dessa tentativa de golpe de Estado. Estamos ainda no meio da intentada
criminosa. E ter a maturidade para apoiar o governo no repúdio ao golpe. Um
governo, com uma semana de exercício do poder, para enfrentar uma tentativa
violenta de golpe tem que ter muita competência para resistir. E esse governo
teve. Induzido em erro por um irresponsável secretário de segurança do Distrito
Federal, ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, que convenceu o governador do DF
de que existia segurança, enquanto alimentava o golpe
A cena da Polícia Militar do Distrito Federal
protegendo e acompanhando os terroristas até a porta dos três palácios na Praça
dos Três Poderes é revoltante. Dá asco. Desce um sentimento punitivista que
leva à certeza da necessidade de retirar tais pessoas do convívio social
Nesta nossa resistência democrática, devemos
ter a humildade para reconhecer os erros, talvez o excesso de confiança, depois
de uma posse pacífica, histórica, comovente, mas também a maturidade da
reflexão dos nossos acertos. A postura de estadista do presidente Lula fez toda
a diferença
Depois de um forte discurso em Araraquara,
onde estava em solidariedade cívica, junto com o prefeito Edinho, ao povo
sofrido pela chuva, Lula desceu em Brasília e foi direto mostrar que ele é o
nosso condutor da estabilidade democrática
A visita do presidente Lula aos escombros do
interior do plenário do Supremo Tribunal, acompanhado da Ministra Rosa Weber,
presidente da Corte, do ministro Barroso e do ministro Tofolli, é carregada de
forte simbolismo. O respeito aos poderes institucionais. O apreço à democracia.
O necessário resgate da independência entre os poderes, mas com o apoio
institucional
O presidente Lula só não foi ao Congresso por
recomendação de sua equipe de segurança. Por ele, iria. O espírito indomável de
um estadista tendo que se submeter aos cuidados em plena tentativa covarde de
um golpe de Estado
A resistência se faz com cada um exercendo
seu papel na sociedade. O repúdio frontal ao golpismo. A palavra sem medo, em
nome da democracia. A alegria, os fascistas cultuam o ódio. A recitação de
poesia em público, eles não suportam poesia. A demonstração pública de afeto e
carinho, eles são, em regra, enrustidos, não assumem a sexualidade
Enfim, vamos vencer a barbárie, porque o
tempo deles, que nem deveria ter existido, acabou. Ninguém mais vai rasgar o Di
Cavalcanti, ou quebrar a Peretti, ninguém vai estuprar novamente nossa
esperança em tempos mais leves e felizes
Ser feliz é um destino revolucionário, não a
felicidade individual ensimesmada no individualismo, mas a felicidade coletiva,
aquela que invadiu a rampa do Palácio do Alvorada no dia da posse do Lula. O
símbolo mais significativo de um país tomando posse de si mesmo. A pluralidade
representada pelos invisíveis sociais
Eu não tenho dúvida de que o que impulsionou
o ataque fascista ao Palácio do Governo foi o inconformismo com o fato de o
povo ter subido democraticamente a rampa. Os fascistas enlouqueceram. Vamos
vencê-los e vamos esperançar juntos. O povo brasileiro merece
Lembrando nosso Pessoa, no Livro do
Desassossego na Estalagem da Razão: "A meio caminho entre a fé e a crítica
está a estalagem da razão. A razão é a fé no que se pode compreender sem fé;
mas é uma fé ainda, porque compreender envolve pressupor que há qualquer coisa
compreensível"
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