Agora, todos querem dar palpite na campanha de Lula, que se finge de morto
por Ricardo KotschoCientistas políticos tucanos, colunistas lavajatistas, economistas da
Faria Lima, da Bolsa de Valores, da PUC, da USP e da Unicamp, dirigentes sem
expressão e sem votos do PT, pregadores da praça da Sé, motoristas de táxi, ex-BBB, comentaristas da
GloboNews e até ilustres membros do Centrão e da Academia Brasileira de Letras,
parece que todos, aliados e adversários, querem contribuir de alguma forma, sem
pedir nada em troca, é claro, para eleger o ex-presidente.
Até um ano atrás, muitos desses mesmos personagens davam Lula como carta
fora do baralho, página virada, fósforo queimado, sem chances de disputar e
ganhar a Presidência pela terceira vez. Agora fazem uma ginástica danada para
explicar o "fenômeno" da ressurreição do maior líder político da
América Latina.
Bastou a Mônica Bergamo revelar em sua coluna as conversas em torno de
uma possível chapa Lula-Alckmin, para detonar um verdadeiro Fla-Flu de torcidas
contra e a favor da ideia, dando aulas de política, tática e estratégia a Lula,
como se ele fosse um noviço, um deputado qualquer do baixo clero que disputava
pela primeira vez uma eleição presidencial.
Este foi até agora o mais inesperado e debatido fato político novo desta
campanha eleitoral, capaz de mobilizar adormecidos ódios e paixões reprimidas
para ensinar ao candidato o que é melhor para ele, sem pedir a sua opinião. São
todos uns pândegos em busca de uma boa onda para surfar na expectativa de
poder.
Fico impressionado como tem gente querendo indicar não só o vice de
Lula, mas também nomes de possíveis ministros da Economia, sob o pretexto de
que o país precisa saber em quem está votando para não repetir o voto no escuro
de 2018, que deu no que deu.
Todo dia aparece mais um cobrando de Lula detalhado programa econômico
para "acalmar o mercado", coisa que o atual presidente não fez até
hoje. Macaco velho, Lula a tudo assiste de longe, sem sair do lugar,
fingindo-se de morto, com mil "interlocutores do PT" falando em nome
dele coisas absolutamente diferentes para cavar um espaço na mídia.
Lembro-me como ele reagia, quando algum assessor mais prestativo
vinha-lhe falar, empolgado: "Chefe, tive uma boa ideia". E ele
desconversava: "Se a ideia é muito boa, guarda para você. Eu não preciso
de ideias. Eu preciso de votos".
Nas campanhas, assim como nos seus dois governos, Lula brincava que o
pior conselheiro é o burro com iniciativa, que tem solução para tudo. Nessas
horas, ele tinha vontade de perguntar: "Você, que sabe tudo sobre
política, quantos votos teve na última eleição?".
No fundo, ele se diverte com todo esse movimento em torno dele, desde
que surgiu como uma nova liderança nacional no movimento sindical do ABC, lá já
se vão quase 50 anos. .
Espantoso é que depois de todo esse tempo, alguém ainda acredite que
Lula vá mudar de ideia por conta de um abaixo-assinado ou de notinhas plantadas
na imprensa para inviabilizar a indicação de Geraldo Alckmin como vice na chapa
do PT.
São os mesmos que faziam campanha contra o empresário José Alencar na
campanha de 2002, que se tornaria o mais fiel e leal parceiro de Lula no
governo, sem abrir mão das suas convicções, batendo de frente com a equipe
econômica na questão dos juros, por exemplo.
Essa questão do vice para ele já está resolvida, como deixou claro na
entrevista coletiva que concedeu ontem a sites e portais da imprensa
alternativa. Lula está mais preocupado neste momento em coordenar as equipes
que formulam seu programa de governo, definindo as prioridades, como o combate
à fome e ao desemprego, e em suas próximas viagens internacionais para
restabelecer as relações do país com o mundo civilizado.
Melhor do que ninguém, Lula sabe o tamanho da expectativa que se está
criando em torno de um possível novo governo dele, para reconstruir o país a
partir dos escombros deixados pelo bolsonarismo em marcha, que insiste em
destruir o país em todas as latitudes da vida nacional.
Por isso, desde já, ele está construindo uma aliança, a mais ampla
possível, com todos os setores democráticos da sociedade, não só para vencer as
eleições, mas para poder governar e recolocar o Brasil no lugar que já ocupou
nos grandes fóruns mundiais.
Ao contrário do que parece, Lula está mais vivo e disposto do que nunca,
no início de mais uma disputa eleitoral, mas ele não tem pressa para botar a
campanha na rua. Precisa primeiro cuidar da retaguarda. Sabe que o jogo será
pesado, não pela força dos adversários, mas pelas armas que eles poderão usar
para não largar o osso.
Com tanta gente dando palpite, não será fácil.
Vida que
recomeça.
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