POR MARCO COIMBRA
Lula lidera as pesquisas por seus
méritos, não pelos defeitos de Bolsonaro. A dianteira que tem não é função de o
capitão ser aquilo que é, o traste que vemos, uma pessoa desprezível e um
governante ridículo.
No meio político, em especial na mídia,
ainda há quem insista na lengalenga de que Lula torce por Bolsonaro, deseja que
seja ele o adversário e faz corpo mole em relação ao impeachment. Como se Lula
quisesse enfrentar Bolsonaro, pois só assim ganharia.
Nada disso é verdade. Nenhuma pesquisa
corrobora o raciocínio. Mostram é que Lula não precisa de Bolsonaro para
vencer.
Nas pesquisas relevantes, o petista tem,
hoje, algo em torno de 45% das intenções de voto, em qualquer cenário de
primeiro turno. Nenhuma dá a ele menos que 55% no segundo, independente dos
(muitos) nomes testados.
O ex-presidente alcançou esse tamanho
faz tempo e o mantém faça chuva ou faça sol. Preso em Curitiba, vítima da farsa
judicial encenada por Moro e seus rapazes, proibido de falar por um ato de
força militar, sofrendo o ataque ininterrupto da mídia corporativa e alvo da
mais intensa campanha de desmoralização que as Organizações Globo jamais
desfecharam contra alguém, Lula, no final de agosto de 2018, tinha 39% das
intenções de voto, segundo o Datafolha. Nessa pesquisa, feita entre 21 e 22 de
agosto, a quarenta dias da eleição, Bolsonaro estava 20 pontos atrás, com 19%,
a metade de Lula. Nem se fabricasse duas facadas teria chance de ganhar.
No que dependeu da vontade popular, Lula
só enfrentou uma eleição difícil desde 2002, a primeira que venceu. Naquela
altura, ainda havia uma parcela grande do eleitorado que simpatizava com ele,
mas temia por seu passado politico e de trabalhador. Os velhos preconceitos de
classe, cultivados pelos porta-vozes das elites (“Imagina o Lula, que não sabe
falar inglês, tendo que dialogar com o presidente americano!”), somados à
ficção de seu “radicalismo” (“Eu tô com medo!”), o atrapalhavam.
A maioria dos eleitores, resolveu, no
entanto, desafiar preconceitos e medos e apostou que daria certo. Deu. Lula
rapidamente se tornou um presidente querido e aprovado e, desde então, é
considerado o melhor que o Brasil já teve, por nunca menos que 50% da
população, vindo o segundo colocado, que variou ao longo do tempo, com nunca
mais que 20%. Reelegeu-se com folga em 2006.
Nas duas eleições seguintes, Lula não
venceu porque decidiu não se candidatar. Em 2010, parte grande da turma
que hoje dá sustentação parlamentar (instável) ao capitão estava à disposição
para aprovar emenda à Constituição que assegurava ao presidente a possibilidade
de concorrer a um terceiro mandato consecutivo. Com mais de 50% das intenções
de voto, as pesquisas mostravam que Lula ganharia com facilidade se a hipótese
vingasse. Mas ele não topou e manteve as regras do jogo. Parecido com 2014,
quando voltou a não participar como candidato da eleição, apesar de liderar as
pesquisas, acreditando que a hora era de Dilma.
Há quem diga que Lula está com 45%
porque não surgiu, “ainda”, uma opção de “terceira via”, coisa que só quem não
conhece ou não consegue entender as pesquisas afirmaria. Em todas, são
oferecidos os nomes dos postulantes a esse papel e, como pululam, os institutos
chegam a incluir mais de uma dezena de hipóteses. Nenhum se destaca: na
pesquisa recente do Ipec, Lula obtém sete vezes (49%) a intenção de voto do
melhorzinho, que aparece em terceiro lugar, atrás do capitão (com 7%). Sozinho,
o ex-presidente tem quatro vezes a soma de todos.
Estamos indo para a eleição de 2022 com
Lula no seu tamanho histórico e, portanto, mais uma vez, favorito. A direita e
a centro-direita não conseguem se desvencilhar do capitão, um candidato
horroroso, mal avaliado e antipatizado. Substituí-lo tende, porém, a ser
inútil, como as pesquisas deixam claro. A “terceira via” só tem nomes
eleitoralmente frágeis, de baixo enraizamento popular e pouco conhecidos.
Contra qualquer um deles, o favoritismo de Lula permanece.
Na democracia, embora exista, é pequena a chance de que esse cenário mude, e esse deveria ser o ponto final. Mas há outra possibilidade, com a qual temos que raciocinar hoje em dia: sempre pode aparecer um generalzinho querendo botar os tanques na rua e mandar os soldados atirar no povo. O País precisa reagir a isso o quanto antes.
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