Operação
contra Witzel foi também resposta a Moro
Jornalista Tereza Cruvinel* avalia que a operação Placedo, contra o governador Wilson Witzel dois dias depois de Sérgio Moro ter declarado que o combate a corrupção nunca foi uma prioridade de Bolsonaro
(Foto: Reuters | Gov RJ)

A
corrupção deitou raízes profundas no Estado do Rio e precisa naturalmente ser
combatida. Mas a operação Placebo, que fulminou nesta terça-feira o governador
do Estado, Wilson Witzel, levanta suspeitas por um conjunto de fatores:
acontece sob a nova direção, federal e estadual, imposta por Bolsonaro, e foi
precedida de vazamento para a deputada Carla Zambelli, que dela falou na
véspera. E veio também dois dias depois de Sérgio Moro ter declarado que o
combate a corrupção nunca foi uma prioridade de Bolsonaro.
E há ainda o fato de a ministra
Damares ter anunciado, na reunião ministerial de 22 de abril, que
prefeitos e governadores poderiam ser presos, embora falasse que seria por
abusos na imposição do isolamento social para conter a difusão do coronavírus.
No domingo, em entrevista ao
Fantástico, Moro desculpou-se com os seguidores de Jair Bolsonaro pela verdade
incômoda que ia dizer: a agenda de combate à corrupção, desde o início, não foi
prioridade do governo. E citou dois exemplos de leniência: transferência do
Coaf, de sua pasta para a Economia e a falta de empenho do governo para aprovar
seu pacote anticrime.
Junto aos seguidores de
Bolsonaro, que o têm como santo guerreiro contra todos os males, tal declaração
causa desgaste. Moro a fez com o devido cálculo, pedindo desculpas à falange
por decepcioná-la. E nas redes, ela teria realmente produzido efeito.
Também
por isso a operação Placebo, que acertou o governador que Bolsonaro chamou de
“estrume” na reunião ministerial de 22 de abril, teria sido antecipada. Estava
engatilhada mas, segundo um deputado ligado às estruturas policiais, foi
acelerada para neutralizar as declarações de Moro.
Amigos de Moro teriam lhe
perguntado por que, diante do descompromisso de Bolsonaro com o combate à
corrupção, e de tantas outras humilhações que sofreu no governo (como a ameaça
de ter o ministério desmembrado, perdendo a parte de Segurança), ele permaneceu
no cargo por tanto tempo. Ele respondeu que foi ficando porque tinha certeza de
que, se saísse, Bolsonaro “tomaria conta da Polícia Federal”. Ficava para
protegê-la. Moro, é claro, precisa de uma desculpa bonita como esta, que
o coloca em posição de sacrifício em nome do combate à corrupção e da
independência da PF. Mas, de fato, agora Bolsonaro parece ter tomado conta do aparelho.
Este é o ponto que importa
agora: se houve uso político da PF para atingir o governador desafeto. Neste
caso, a ditadura bolsonarista terá dado mais um passo preocupante,
transformando a PF em polícia política. Depois de Witzel viriam ações
contra outros governadores, contra prefeitos e políticos. E depois, contra os
cidadãos em geral que tenham posições ostensivamente contrárias ao governo.
*Tereza Cruvinel - Colunista/comentarista do Saite Brasil247, fundadora e ex-presidente
da EBC/TV Brasil, ex-colunista de O Globo, JB, Correio Braziliense, RedeTV e
outros veículos.
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