Impedido de ir ao Salão do Livro Político, que
começou nesta segunda-feira, em São Paulo, para o qual foi convidado desde o
ano passado, Lula enviou a Ivana Jenkings, editora da Boitempo, uma carta, que
foi lida na cerimônia de abertura da quinta edição do evento.
A carta é linda...
Ivana e Lula
"Ler é um ato político. Não é por
acaso que nossos adversários, ao mesmo tempo que tentam criminalizar a política
e impedir toda e qualquer forma de ativismo, atacam com tanto ódio o saber e o
conhecimento. Querem mais armas e menos livros. Mais jovens presos e abatidos
por disparos de helicópteros, do que com acesso ao ensino público de qualidade.
Disparam sua artilharia pesada contra a educação como um todo, e a universidade
em especial. Agridem a ciência, estrangulam a pesquisa.
Ler é resistir. E nós resistimos nas
trincheiras cavadas com tanta garra e tanto carinho por gente que nem Paulo
Freire, Darcy Ribeiro, Anísio Teixeira e cada professora e cada professor
anônimo deste país, que nossos adversários tentam inutilmente destruir. E nós
resistimos, porque a vida nos ensinou, e porque aprendemos com nossos mestres.
Nossos adversários odeiam o fato de
termos criado mais universidades e institutos tecnológicos do que todos os que
governaram antes de nós. Distribuímos bolsas de estudo, garantimos acesso ao
crédito estudantil e colocamos jovens negros e pobres no ensino superior como
nunca antes na história. Criamos políticas públicas de acesso ao livro e à
leitura e espalhamos bibliotecas pelo país afora.
A educação foi e será sempre a nossa
maior riqueza e a nossa principal forma de resistência. É por isso que nossos
adversários se surpreendem e se assustam quando uma juventude esclarecida enche
as ruas em defesa da educação, lutando contra os retrocessos de um governo que
tem o povo brasileiro como seu principal e mais temido inimigo.
Ler é ser livre. Estou há mais de um ano
preso pelo “crime” de sonhar e trabalhar pela construção de um país onde um pai
de família não fosse mais obrigado a escolher entre comprar um pão ou um
caderno para seus filhos. Onde uma mãe de família não tivesse que partir um
lápis no meio para que seus filhos pudessem estudar. Por esse “crime” estou
preso, e, no entanto, mais livre do que nunca, graças aos livros e à leitura.
Nestes 13 meses de quase solidão – não
fossem as visitas de parentes e amigos e o carinho da incansável vigília na
porta do cárcere em Curitiba – tenho lido muitos livros. Cavalguei com Riobaldo
e Diadorim pelas veredas do grande sertão de Guimarães Rosa. Cruzei o Atlântico
em navio negreiro ao lado de Luísa Mahin, no extraordinário romance Um defeito
de cor, de Ana Maria Gonçalves.
Navego nas águas da ficção, mas tenho,
sobretudo, me dedicado aos livros dito políticos – com a ressalva de que se ler
é um ato político, todo livro é político, seja ele de poesia, romance, contos,
filosofia, sociologia, economia ou ciências políticas.
Mas é o livro propriamente político,
razão de ser desse Salão, que quero saudar agora. É principalmente graças aos
livros que, quando a justiça for restaurada neste país, sairei da prisão
sabendo mais do que quando entrei.
Um abraço a todos e todas, e viva o
livro!
dia 25 agosto 2017 em
Arapiraca-AL
Luiz Inácio
Lula da Silva
Nosso ETERNO Presidente da República
Federativa do Brasil
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