Toffoli,
a História o condenará
Não é novidade
para ninguém que o Brasil vive há dois anos sob uma ditadura chefiada por um
preposto chamado Michel Temer.
Quem tiver a
pachorra de correr os olhos pelos arquivos do Nocaute verá que há dois anos nós
temos chamado esse governo postiço pelo seu nome real: ditadura.
Ontem,
porém, tive a infelicidade de viver na pele os efeitos da ditadura que tanto
denunciamos. O único consolo foi ter como companhia o Mino Carta, diretor da
revista Carta Capital e um dos mais talentosos e corajosos jornalistas do
Brasil.
Mino e eu
somos amigos de Lula há quarenta anos. A primeira vez que Lula apareceu na capa
de uma revista, no final dos anos 70, foi por obra e iniciativa de Mino. E a
mim quis o destino que eu testemunhasse, ao lado de Lula, a intervenção
manu-militari no sindicato dos metalúrgicos do ABC, que ele presidia, em uma
madrugada de abril de 1980.
Dias depois,
Lula estava preso.
Ontem Mino e
eu viajamos a Curitiba para uma visita ao amigo preso na Polícia Federal local.
Metade do
tempo destinado ontem às visitas, o que ocorre sempre às quintas-feiras, Lula
destinou a receber seus familiares. A outra metade ele reservou para nos
receber, ao Mino e a mim.
Que fique claro que solicitamos a visita e lá estávamos na condição de amigos, não no exercício de nossa profissão de jornalistas. Nenhum de nós levava uma câmera, um gravador, um celular, uma caderneta – um lápis sequer.
Não era a
visita de dois repórteres, mas de dois amigos que não viam Lula há exatos 180
dias, tempo em que ele está preso. Injustamente preso, nunca é demais
sublinhar.
Ao chegarmos
ao prédio da Polícia Federal, pontualmente às quatro da tarde, fomos informados
de que “havia problemas” e que estávamos proibidos de visitar Lula.
Que
problemas?
Qual um
ectoplasma em terreiro de macumba, baixou em Curitiba o despacho do presidente
do Supremo, Dias Toffoli, de quatro dias atrás, proibindo Lula de conceder entrevistas.
Não cabe
aqui perder tempo com a prolixa chorumela do despacho ilegal e inconstitucional
do ministro Toffoli datado de primeiro de outubro.
Em dúvidas
sobre se, por sermos jornalistas, Mino e eu estávamos ou não incluídos na
proibição de Toffoli, a Polícia Federal decidiu consultar o juiz da Vara de
Execuções Penais de Curitiba.
Certamente
diante da dúvida shakespeariana – permito ou proíbo a visita? – o Meritíssimo
preferiu uma decisão a la Pilatos: na fila, antes da consulta feita pela
Federal ele tinha alguns processos esperando e, e portanto, a visita estava
proibida.
Mino e eu – ele em doses infinitamente mais cruéis – fomos vítimas da Censura imposta no Brasil pela ditadura militar de 64.
Ontem
experimentamos a pesada mão da ditadura togada. O despacho do ministro Toffoli
– alguém que balbucia até para ler sentenças escritas – confirma o que todos já
sabíamos: sobreviventes da ditadura fardada, Mino e eu estávamos sendo
vitimados pela ditadura togada.
Não importa
que os bajuladores e capachos de plantão absolvam Toffoli pelo mal que ele fez
não a mim nem ao Mino. Sim, porque ao silenciar Lula, ele está silenciando o
Brasil.
Não importa
que Toffoli seja absolvido por seus acólitos.
A História o condenará.
ACESSE
https://nocaute.blog.br/2018/10/05/toffoli-a-historia-o-condenara/
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