Com PEC de Ladrões, Motta faz história.
Na Bíblia: erva daninha não dá uva.
POR
O presidente da Câmara, Hugo Motta
(Republicanos-PB), está fazendo história. Sob a sua gestão, a Casa vai
acumulando uma soma impressionante de indecências. Há um certo esforço para
vê-lo como alguém que se equilibra entre extremos, um algodão entre cristais.
Chega de condescendência! No fim das contas, ele sempre acaba fazendo o que
querem os reacionários que continuam a insistir num golpe de estado, agora por
outros meios. Não tem a experiência, a firmeza e a coragem necessárias para
cargo tão importante. O troço é muito maior do que ele, que amarela até na hora
de tomar de volta a sua cadeira quando usurpada.
Promoveu uma nova votação para resgatar
o voto secreto para o aceite ou não de abertura de ação penal. Num destaque do
Novo, obtiveram-se apenas 296 votos para manter o expediente na PEC da
Sem-Vergonhice. Faltaram 12 para o mínimo necessário de 308. Ele manobrou,
votou de novo e ganhou: 314 votos a 168. Por ali, a única coisa feia é perder.
O resto vale.
O deputado Lindbergh Farias (RJ), líder
do PT, protestou contra a manobra espúria em favor da PEC da Ladroagem:
"Vamos, num caso como esse,
recorrer ao Judiciário, porque está ferindo a Constituição, que diz que a
matéria rejeitada não pode ser objeto de nova proposta na mesma sessão
legislativa. Só nos resta depois de recorrer à CCJ, recorrer ao STF"… -
E o que respondeu Motta? Isto:
"É um direito de Vossa Excelência
ir ao Supremo, como faz quase diariamente".
A resposta não esconde seu mau
espírito, de animosidade contra ao tribunal. O presidente da Câmara prosseguiu:
"Há legitimidade política e
jurídica para a emenda em análise. O tema foi aprovado em primeiro turno por
esta Casa, o que demonstra concordância. Registra-se que não há inovação."
É? Se primeiro turno decide resultado,
por que há um segundo? Se ambos são resposta definitiva, por que se permite o
destaque? Se o destaque não serve para nada, por que ele existe?
É espantoso o que está acontecendo em
sua gestão.
Mais: parte do PT (12 parlamentares)
caiu na conversa — ainda que um ou outro possam ter votado por gosto, não por
sagacidade — de que condescender com a PEC da Roubalheira Impune seria um modo
de obstar a anistia. Com as vênias devidas, viu-se o que vale a palavra de
Motta por ocasião da votação do IOF, lembram-se? O que ele chamou de acordo
histórico num dia já não valia no seguinte.
SEM CONCESSÃO
Não há concessão possível nessa
conversa. Os 12 votos do PT não definiram o resultado da votação, mas mancharam
não a pureza angelical do partido -- não lido com essas abstrações --, e sim
confundiram a clareza, contribuindo com o obscurantismo.
Mesmo não sendo algo formal, esses
petistas deveriam se desculpar pelos votos que deram, a menos que sejam
efetivamente defensores da PEC das Organizações Criminosas.
Diz-se que Motta está tentando, na
prática, impedir a aprovação da anistia. É mesmo? Para pôr no lugar exatamente
o quê? Afinal de contas, anistia não haverá porque não passa pelo Supremo. É
bom que o campo progressista não caia na esparrela de flertar com a impunidade
menor para evitar a maior.
Seja para ganhar, seja para perder, é
preciso partir para a luta política.
Quanto a Motta, vamos ser claros: ele
tem lado. E não é os dos que se alinham com os valores consagrados pela
Constituição de 1988.
A sua disposição congênita, de gênese
política, é muito mais forte do que qualquer vontade eventual que tenha de
acertar.
Às vezes a gente fantasia que jaqueira
pode produzir pêssegos. Jaqueira produz jaca. Podemos sair do mundo vegetal e
ir para o universo bíblico. Em Mateus 7:16-20 e Lucas 6:44-45, a gente aprende
que é pelos frutos que se conhece a árvore. Não se colhem figos de ervas
daninhas nem uvas de espinheiros, certo?
É o que ensinam os dois evangelistas. Convém aprender.
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